Nova Lima, Raposos e Rio Acima – O ponto onde o Alto Rio das Velhas mais recebe cargas de sedimentos provenientes de empreendimentos imobiliários, bota-foras clandestinos e aterros ilegais dá amostra de que a natureza ainda resiste. Ontem, quinto dia da expedição “Rio das Velhas, te quero vivo”, expedicionários que navegavam em seus caiaques entre Nova Lima e Rio Acima testemunharam o salto de um dourado de aproximadamente cinco quilos, considerado raríssimo naquela altura, sobretudo com esse porte.
O de ontem foi o trecho em que os expedicionários que descem em quatro caiaques encontraram mais despejos de entulho – que é carreado para o leito do Rio das Velhas –, desmoronamentos de encostas desprotegidas pela mata ciliar e outros tipos de agressões que aos poucos assoreiam o rio, tornando-o mais raso. “A qualidade do rio está melhor do que a vimos na expedição de 2003, mas temos impactos que continuam ocorrendo. Neste trecho aqui, a falta de planejamento urbano traz aterramentos para expansão das habitações, principalmente as de menor poder aquisitivo. E são essas as primeiras a serem atingidas pelas enchentes”, alerta o coordenador geral do Subcomitê de Bacia Hidrográfica Nascentes, Ronald Guerra, o “Roninho”.
Ronald também alerta que a falta de chuvas pelo quinto ano consecutivo agrava ainda mais o assoreamento. Cada trecho que a expedição percorre vai integrar um dossiê do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio das Velhas, afirma o presidente da entidade, Marcus Vinicius Polignano. “O pior local até agora é um empreendimento em Nova lima, onde a construtora simplesmente devastou a mata da Área de Proteção Permanente (APP), a floresta de mata ciliar que protegia as margens do rio das enxurradas e da deposição direta e descontrolada de sedimentos”, disse Polignano.
No caso, segundo o CHB-Velhas, a mata deveria ter 100 metros a partir de cada margem, mas essa faixa não chega à metade. A equipe do EM tentou contato com responsáveis pelo empreendimento, mas não obteve retorno até o fechamento desta edição. “Outro lugar que nos preocupa, por ser uma fonte de contaminação para o Rio das Velhas é o velho Aterro do Galo, que foi fechado, mas que ainda pode continuar a ter resíduos sendo lançados barranco abaixo”, disse o presidente do CBH-Velhas.
O assoreamento e a falta de chuvas já preocupam a Copasa, que mantém a captação de Bela Fama, que já foi responsável pelo abastecimento de 60% da Grande BH, mas que atualmente, sofre para chegar a 40%, segundo o assessor da diretoria metropolitana da concessionária, Rogério Sepulveda. “A quantidade de água disponível está muito reduzida e acabou de passar a época das chuvas. Ou seja, vamos passar pela seca só com a água dos aquíferos, em um ambiente em que o uso da água é o mesmo e temos impactos como assoreamento, devastação das margens entre outros”, alerta.