Quando os primeiros socorristas do Corpo de Bombeiros atenderam o jovem, ele já estava inconsciente e com sangramento na cabeça. Ao chegar, um médico do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) constatou a morte.
As imagens mostram claramente o motorista do Gol descendo a Rua Estoril em direção à Antônio Carlos pela contramão. A primeira infração cometida pelo condutor é a ultrapassagem em local proibido, já que o trecho é sinalizado com faixa contínua amarela. O artigo 203 do Código de Trânsito Brasileiro (CTB) trata a conduta como falta gravíssima, punida com a perda de sete pontos na Carteira Nacional de Habilitação e multa de R$ 1.467,35. Além disso, o condutor fez a manobra em um cruzamento, conduta tipificada no artigo 202 do CTB, com punições idênticas. Quando o motorista estava no cruzamento, o EcoSport sinalizou com a seta que faria a conversão à esquerda e começou o movimento permitido, saindo da Rua Estoril para a Rua Beira Alta.
Choque
A mãe de Paulo foi até o local do acidente e ficou em estado de choque. Segundo a vizinha Daniela Fernandes, de 41, o adolescente era filho único, muito estudioso e morava com a mãe, que é separada do pai. “Ele era uma pessoa muito boa, assim como a família. Ia para a escola de carona ou pegava ônibus. A mãe é uma pessoa ótima, trabalha como enfermeira e não mede esforços para ajudar pessoas doentes aqui no bairro”, contou.
O motorista do Gol teve lesão no maxilar e foi encaminhado para o Hospital Odilon Behrens. À PM, relatou que estava na Rua Estoril, em velocidade compatível com a via, quando observou o EcoSport fazer uma manobra para esquerda, o que o obrigou a pegar a contramão de direção. A versão não corresponde à dinâmica do acidente revelada pelas câmeras de segurança, que indicam claramente que o condutor ultrapassou carros e se deslocava na contramão por vários metros antes da batida.
O delegado de plantão, Fernando Andrade, ouviu Dênis e ratificou o auto de prisão em flagrante por homicídio culposo.
O estudante Hugo Rodrigues, de 21, que passava pelo local depois do desastre, disse que toda semana acontece alguma coisa no local, e que por isso a fiscalização deveria ser mais presente. “É perigoso tanto para carros quanto para pedestres. Os motoristas descem em alta velocidade e o fluxo de ônibus é muito intenso”, afirma.
DESRESPEITO
Para o superintendente de Sistema Viário da BHTrans, Humberto Rolo Paulino, o desrespeito à lei pode estar ligado aos costumes dos motoristas. “Ocupantes de carros têm a cultura de pensar que o automóvel é superior ao pedestre, aos ciclistas e até mesmo aos motociclistas, que juntos representam de 80% a 90% dos mortos no trânsito”, afirmou. Segundo ele, a autarquia tem feito campanhas de conscientização para evitar esse tipo de ocorrências.
O sociólogo Eduardo Biavati, especialista em segurança no trânsito, destaca que nunca é possível garantir fiscalização em todos os lugares. “Esse caso comprova que nem toda fiscalização do mundo é capaz de resolver a falta de compromisso e de preparo dos condutores que compartilham o espaço da cidade com personagens muito mais vulneráveis”, afirma. “Não temos condutores conscientes de que pequenos atos podem desencadear tragédias gigantescas.
Mão única esbarra em rua sem saída
Agentes da BHTrans ouvidos pela equipe do Estado de Minas no cruzamento das ruas Estoril e Beira Alta, no Bairro São Francisco, na Região da Pampulha, em Belo Horizonte, onde o adolescente Paulo Augusto Dalmazio Fonseca foi atropelado e morto, afirmam que a solução para o perigo seria transformar a Rua Estoril em mão única. Porém, a Rua Alcobaça, uma das opções para o fluxo em direção contrária, não tem saída, por encontrar o Córrego São Francisco, barreira natural para a continuidade da via. Segundo moradores, uma obra da Prefeitura de Belo Horizonte poderia garantir o prolongamento da rua e, com isso, possibilitar a adoção de sentido único na Rua Estoril.
A advogada Conceição Carneiro, de 63 anos, mora há 36 na Rua Alcobaça e defende a abertura da via. “Há muitos anos ouvimos os problemas da Rua Estoril. Por isso, precisamos de outra rua para fazer o sentido contrário. São três linhas de ônibus, além da quantidade grande de carros. Mas é claro que a gente é a favor, desde que se respeitem as nascentes que há aqui em frente e o córrego”, afirma. Porém, segundo a Superintendência de Desenvolvimento da Capital (Sudecap), a obra de requalificação do Córrego São Francisco não prevê abertura das ruas Alcobaça e Estoril..