O grupo funciona como qualquer outra pastoral de igreja, como a da Família, dos Casais ou dos Jovens. Eles se encontram a cada 15 dias na sala multimídia da paróquia, debatem temas relativos a família e acolhimento, rezam e têm inclusive uma missa para organizar, no terceiro domingo de cada mês. Tudo é acompanhado pelo padre Marcus Aurélio Mareano e pela irmã Maria do Socorro, designados como assessores da pastoral.
As reuniões para criar de fato a comunidade da diversidade dentro da São Judas Tadeu começaram em agosto do ano passado, com apenas quatro pessoas. Hoje, segundo a igreja, já são mais de 70 frequentares. Depois da 5ª Assembleia do Povo de Deus, que refletiu a realidade concreta das famílias e afirmou a perspectiva de acolhida das suas diversas configurações, o padre Marcus propôs a criação da pastoral, que foi de imediato abraçada pelo reitor do santuário, padre Aureo Nogueira de Freitas. É ele quem afirma: “É hoje uma das mais vivas”.
O objetivo do grupo, segundo o padre Áureo, é acabar com qualquer preconceito dentro da Igreja. Vale lembrar que durante muito tempo as mães solteiras e os casais de segunda união também eram apontados como diferentes na Igreja Católica, sendo proibidos até mesmo de comungar.
OPOSIÇÃO Assim como a nova postura do papa, a Pastoral da Diversidade Sexual causou reações na Igreja. Chegou a constar como “denúncia” em um site internacional católico. Apesar disso, os resultados do grupo são sensíveis.“Tenho visto famílias voltando para a Igreja, se reconciliando, e para ver o fruto desse trabalho vale a pena toda crítica e todo desentendimento”, avalia padre Aureo.
O reitor diz que a convicção da importância de um grupo como esse veio dos 23 anos de experiência como padre. “Acompanhei na confissão e nos atendimentos muito sofrimento por parte de famílias ou pessoas que são assim, e isso me incomoda muito, porque acho desnecessário o que se impõe sobre essas pessoas. Em vez de se libertar para o amor, elas oprimem. Quantas vezes vi gente querer se suicidar por causa disso, vi pais que não aceitam filhos... Desconhecer essa realidade é muito desumano”, relata. Por pressão social e religiosa, segundo o reitor da igreja, muitos casais que não deveriam ter se casado assumiram um matrimônio e outros tantos vivem na clandestinidade.
Não é o caso de Isabella, que prefere não dizer o nome da esposa porque, ao contrário do que vive hoje na igreja, a parceira ainda está sujeita ao preconceito em ambientes como o de trabalho. As duas se casaram em uma cerimônia espiritualista em 2014, fora da Igreja. Ela chegou à pastoral a convite de uma amiga e acabou levando a mãe junto. “A pastoral trouxe um empoderamento tanto para mim, dentro da Igreja, quanto para minha mãe.
O começo não foi fácil. Nem para Isabella nem para a mãe, a aposentada Janimar Magalhães. Aos 18 anos a filha descobriu sua preferência pelo mesmo sexo e contou para a mãe. A relação das duas ficou abalada. “Passei oito anos chorando sozinha todos os dias. Na época não tinha esse respaldo da igreja, o que causou muito sofrimento, porque lá tinha ainda mais medo de falar”, diz. No caminho para o entendimento, ela chegou a mandar a filha para uma psicóloga, na tentativa de ajudá-la a se compreender e amenizar o sofrimento. “Não dava conta de encarar e minha intenção era que o terapeuta desse esse apoio que eu não estava dando”, diz.
Passada a fase do preconceito, Isabella voltou a ser motivo de orgulho para a mãe. “É uma pessoa generosa, carinhosa, muito íntegra e ética. Se tivesse que ter outra Isabella, gostaria que fosse exatamente igual.” Janimar considera o trabalho na Pastoral da Diversidade Sexual fantástico e inovador.
"Tenho visto famílias voltando para a Igreja, e para ver o fruto desse trabalho vale a pena toda crítica e desentendimento”
Aureo Nogueira de Freitas, padre e reitor do santuário
“Se uma pessoa é gay, busca a Deus e tem boa vontade, quem sou eu para julgá-la?”
Papa Francisco
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