As diferentes formas de as quadrilhas agirem são um dos grandes desafios para a polícia. “A PM do século 21 precisa estar antenada, e está, com a volatilidade com que as coisas acontecem. O planejamento é minuto a minuto, pois o quadro muda todo dia, como a migração de horário, da modalidade criminosa e da estratégia do criminoso. Quando atacamos as organizações com operações, elas precisam de engenho e arte para cometer os crimes. Nós também criamos o ‘antivírus’ para poder cercear as novas práticas”, afirma o major Flávio Santiago, chefe da Sala de Imprensa da PM.
No Belvedere, o crime aconteceu por volta das 22h20. De acordo com a PM, o jovem de 18 anos foi rendido já dentro da garagem, quando o portão se fechava, por quatro homens que estavam em um veículo HB-20 branco. Depois de render o restante da família, os ladrões se dividiram vasculhando diferentes cômodos e ordenando que os moradores abrissem cofres e mostrassem objetos de valor. Depois do pente-fino, levaram oito relógios, quatro telefones celulares, um computador, R$ 700 em dinheiro, alto valor em moeda estrangeira e chaves de três veículos. Quatro armas de fogo também foram roubadas: duas espingardas, um revólver e uma pistola, todas registradas. A casa não tinha sistema de monitoramento por câmeras, razão pela qual não há imagens dos criminosos. Entre as poucas pistas de que a polícia dispõe estão informações de que um dos bandidos usava cavanhaque e outro tinha um bigode. Os outros dois usavam casaco e capuz.
Ontem, dia seguinte ao assalto à casa na Zona Sul, a Polícia Civil apresentou dois criminosos que aterrorizavam moradores de bairros das regiões Oeste e Centro-Sul de BH. Mas o modo de ataque era diferente: eles escolhiam locais de pouco movimento e prédios com menos segurança, sem porteiro, o que na visão dos ladrões facilitava o arrombamento. A maioria dos crimes era cometida na parte da tarde, quando os moradores normalmente estavam fora.
Um dos assaltantes trabalhava como taxista e usava o veículo nos roubos, para despistar moradores e testemunhas. Para entrar nos prédios, o bando usava uma chave de fenda e barras de ferro para arrombamento. Robson Moreira dos Santos, de 40 anos, e Fabrício de Souza Pereira, de 32, são apontados como os autores de pelo menos 17 invasões a prédios em apenas dois meses. Segundo a polícia, eles agiam nos bairros Buritis, Savassi e Cruzeiro. A dupla foi presa durante operações no Aglomerado da Serra.
ESCALADA Neste ano, outra modalidade de roubo a residências e prédios assustou moradores, principalmente da Região Centro-Sul de Belo Horizonte. A audácia da ação valeu a cada criminoso que a praticava o título de ‘Homem-Aranha’. Esse tipo de ladrão aproveita janelas de imóveis abertas para entrar nos apartamentos escalando muros e paredes, o que justifica o apelido. Em maio deste ano, um dos adeptos desse tipo de crime, responsável pelo menos cinco furtos, foi preso pela Polícia Civil.
Além dos diferentes tipos de assaltos a casas e apartamentos, outro crime tira o sossego e dá prejuízo em BH: o roubo de celulares. Criminosos aproveitam a distração das vítimas com o próprio telefone para roubá-lo. Outros usam armas para render pedestres. De janeiro a outubro de 2016, 96.071 aparelhos foram surrupiados dos donos.
Variedade e proteção
Segundo o cientista social Robson Sávio, integrante do Núcleo de Estudos Sociopolíticos da Pontifícia Universidade Católica (PUC Minas) e do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, a criatividade para prática de crimes é imensa. “É uma ilusão pensar que estamos livres de qualquer ação criminosa contra o patrimônio. Sempre haverá uma nova prática a ser descoberta. Não há como esperar que a polícia esteja em todos os lugares o tempo todo”, disse o especialista.
Ele destaca a importância da prevenção e da autoproteção dos cidadãos para evitar as armadilhas dos criminosos. “A vigilância é um dos mais importantes fatores para inibir o crime. É importante o investimento em bairros que já têm um histórico de alto número de assaltos, seja por meio público ou privado”, disse o cientista social. Ainda segundo ele, a atenção também deve ser redobrada. “Muitos entram no carro sem olhar quem está por perto, deixam a porta aberta, saem de férias e não recolhem o jornal... Assim, a própria vítima facilita a ação do infrator”, disse. Robson Sávio pondera que é muito importante que as vítimas notifiquem todos os eventos à polícia. “Assim, a polícia passa a trabalhar a partir de estatísticas. Hoje, chega a 80% o índice de substantificações, já que muitas pessoas não acreditam na ação policial e por isso não denunciam. Isso precisa mudar”, disse.
Para tentar escapar dos crimes, a PM reforça a necessidade de que os cidadãos atuem em conjunto. “A dica mais importante que temos trabalhado é buscar consorciar as pessoas. Elas têm que se unir para passar a dividir um pouco das rotinas, seja em uma vila, em uma rua ou um condomínio. Os moradores precisam interagir, usar técnicas como a rede de vizinhos protegidos. Outro ponto deve ser a quebra da rotina. O infrator se beneficia da rotina, pois sabe os horários das vítimas”, alerta o major Flávio Santiago, da Sala de Imprensa da corporação.