O acidente em Salinas envolveu um coletivo clandestino que partiu de São Paulo com destino a Euclides da Cunha (BA). A suspeita da Polícia Rodoviária Federal (PRF) é que o condutor tenha cochilado ao volante. O veículo passou reto na curva e, em alta velocidade, tombou duas vezes. O tacógrafo revelou que o coletivo estava a 120 km/h quando se acidentou. A violência do desastre em alta velocidade fez com que dezenas de passageiros fosse atirados para fora do veículo. Muitos corpos ficaram mutilados e outros ficaram presos sob a carcaça do ônibus, em uma cena que chocou os primeiros socorristas.
E outras tendem a acontecer, pois não há previsão de mudanças desse cenário a curto prazo. Com isso, veículos precários, sem vistoria e com manutenção deficiente, condutores sem qualificação, treinamento ou descanso continuarão cortando as estradas do estado com maior malha viária do país. E se envolvendo em acidentes.
INVESTIGAÇÃO Segundo o delegado Renato Nunes Henrique, da Polícia Civil no Norte de Minas, o motorista que causou o acidente responderá a inquérito por homicídio culposo (não intencional) e lesão corporal. Mas poderá, dependendo das investigações, ser indiciado por homicídio doloso (com intenção de matar). “Como condutor, ele tem que saber que não pode entrar numa curva a 120 km por hora”, afirmou.
A Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), uma das responsáveis pela fiscalização de ônibus como o que se acidentou em Salinas, admitiu que o quadro de servidores está longe do ideal. “A ANTT tem 990 servidores de carreira (58,1% do total estabelecido na lei de criação). Em maio de 2016, a agência encaminhou solicitação ao Ministério do Planejamento para concurso com 704 vagas. Mas, por causa de diretrizes governamentais que remetem à suspensão de autorizações de concursos públicos para 2016 e 2017, a solicitação foi indeferida”, informou o órgão governamental.
O inspetor Aristides Júnior, chefe do Núcleo de Comunicação Social da Polícia Rodoviária Federal, informou que a fiscalização sobre esse tipo de irregularidade não é uma operação fácil de realizar, embora assegure a existência de trabalhos rotineiros nos postos da corporação. A primeira dificuldade é o fato de a abordagem aos “genéricos” só poder ser feita em postos da PRF, devido à falta de infraestrutura necessária para alocar passageiros nos demais pontos das estradas.
A segunda dificuldade, na avaliação do representante da PRF, é a necessidade de paralisar o restante do trabalho policial, caso ocorra um flagrante, por se tratar de uma espécie de ocorrência considerada complexa. “O ideal seria combater o transporte clandestino antes do começo da viagem. É uma situação que acaba sendo transferida para as polícias rodoviárias (federal e estaduais). O problema é que não há equipe de fiscalização para estar em todos os lugares. Outra dificuldade é que os infratores fazem rotas alternativas para fugir da fiscalização”, afirmou o policial.
Foi o que ocorreu com o ônibus que se acidentou ontem, segundo os primeiros levantamentos da Polícia Civil. Para fugir das vistorias, o coletivo deixou São Paulo e teria entrado no Triângulo Mineiro. De lá, seguiu em rotas alternativas até o Norte de Minas, onde deveria prosseguir até a BR-116, a Rio-Bahia.
O inspetor da PRF acrescentou que a corporação tem um convênio com a ANTT para fiscalizar os ônibus que fazem transporte interestadual e internacional de passageiros, mas no caso do transporte intermunicipal não tem autonomia para fiscalizar, sozinha, os coletivos que rodam entre cidades mineiras. Nesse caso, o convênio firmado com o Departamento de Edificações e Estradas de Rodagem (DEER) serve para que o parceiro estadual use os postos da corporação para fazer a fiscalização. “Podemos parar os ônibus para eles fiscalizarem, mas não podemos fazer a fiscalização por nossa conta”, disse Aristides Júnior.
Segundo o DEER, de 1º de janeiro a 15 de junho de 2017, 1.233 veículos flagrados no transporte clandestino de passageiros foram multados em Minas. Destes, 170 foram apreendidos. A estatística, contudo, leva em conta todos os veículos: ônibus, vans, automóveis e até motocicletas. Já a ANTT apreendeu 24 veículos no estado do início do ano a 16 de junho.
Desastres em série
» 11/1/17
Quarenta pessoas se feriram em acidente em Claro dos Poções (Norte), depois que um ônibus que partiu de São Paulo com destino a Porteirinha (Norte) tombou na BR-365
» 3/4/16
Um ônibus que deixou Guanambi (BA) com destino a São Paulo se envolveu num acidente com duas carretas na BR-365, em Várzea da Palma (Norte). Doze pessoas ficaram feridas, entre elas um recém-nascido com 25 dias
» 27/2/16
Uma pessoa morreu e 14 ficaram levemente feridas após um clandestino se envolver num acidente com um caminhão na BR-365, em Jequitaí (Norte). O coletivo seguia de São Paulo para Guanambi, na Bahia
» 24/12/15
Um ônibus tombou na MG-146, em Cruzeiro da Fortaleza (Alto Paranaíba), deixando 12 feridos. O coletivo saiu de São Paulo com destino a Monte Azul (Norte de Minas)
» 5/8/15
A batida entre um ônibus e um caminhão matou uma pessoa e deixou duas feridas na BR-365, em Pirapora (Norte). O coletivo deixou São Paulo e seguia para a Bahia
» 4/12/14
A queda de um ônibus numa ribanceira na BR-381, em Bela Vista de Minas (Região Central), deixou cinco mortos e 17 feridos. O veículo saiu de Ribeira do Pombal (BA) com destino a São Paulo
» 14/8/13
Uma mulher morreu e 22 pessoas ficaram feridas na BR-365, entre Patos de Minas (Alto Paranaíba) e Varjão de Minas (Noroeste). O coletivo clandestino partiu de São Paulo com destino a Arapiraca (AL)
» 14/5/09
Cinco mortos e 13 feridos. As vítimas estavam em um ônibus que capotou na BR-365, em Varjão de Minas (Noroeste), depois de partir de São Paulo para Montalvânia (Norte de Minas)