Deixar o carro em casa e pegar um transporte particular em Belo Horizonte tornou-se uma opção não só mais prática, como mais atraente e econômica. A capital mineira vive, como nunca antes, um momento de grande concorrência na oferta de serviços de transportes privados pagos, com veículos mais luxuosos, além de tarifas e descontos competitivos.
De olho nesses diferenciais e na mudança de cenário em relação ao transporte por táxi na capital, a BHTrans lançou ontem os novos táxis da categoria premium, que oferecem o serviço em veículos mais luxuosos e com a mesma tarifa da modalidade convencional. Também já estão circulando nas duas categorias de táxi os carros de modelos híbridos, equipados com um motor normal de combustão e um motor elétrico, que diminuem a emissão de poluentes e reduzem o consumo de combustível. Além desses novos, a capital já conta com os serviços dos aplicativos de transporte Uber e Cabify, além de outros que trabalham com a frota de táxis, mas com descontos em relação ao sistema convencional, a exemplo do 99 Táxis e Easy.
O lançamento dos carros mais luxuosos, que se enquadram na categoria premium, foi uma resposta da Prefeitura de Belo Horizonte à pressão sofrida pela concorrência entre táxis e aplicativos de transporte, especialmente o Uber, gerando embates entre as duas categorias que chegaram até o campo da violência e provocaram várias manifestações defendendo cada lado na cidade. Em 2015, a BHTrans decidiu expandir a frota da capital lançando um edital de licitação para mais 600 carros, sendo 400 luxuosos e 200 normais.
Além da licitação, PBH instituiu, no fim de 2015, uma comissão formada por vereadores, técnicos da empresa e taxistas para analisar o assunto e definir qual seria a postura da administração municipal em relação à presença dos aplicativos de transporte. Esse grupo propôs uma lei, aprovada em dois turnos na Câmara Municipal, contrária ao modo como os aplicativos funcionam atualmente. Pela legislação aprovada pelos vereadores, os apps só podem funcionar se intermediarem corridas realizadas por taxistas, sob pena de punição financeira. Porém, a Justiça garantiu liminares para que motoristas de aplicativos possam rodar e o caso segue aguardando uma definição do Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG).
O diferencial dos táxis premium no primeiro momento será o preço da tarifa, que é o mesmo do sistema convencional, com bandeirada de R$ 4,70 e R$ 2,94 por km na bandeira 1 e R$ 3,53 por km na bandeira 2. “O táxi premium pode ser mais caro, mas vamos começar com o mesmo preço do táxi normal, inclusive para convidar as pessoas a experimentarem esse serviço”, diz o presidente da BHTrans, Célio Bouzada. Outro diferencial é que os taxistas têm a liberdade de usar o modelo híbrido não só na categoria premium, mas também na convencional. É o caso do taxista João Bosco Pereira, que dirigiu táxis em BH como motorista auxiliar durante 38 anos. Agora, juntou-se a outros 14 motoristas e formou uma das empresas que venceu a licitação para operar as novas placas. “Eu tirava de dois a três salários e agora a expectativa é que eu continue com essa remuneração pagando o financiamento do meu próprio carro”, afirma.
TENDËNCIA O movimento de implantação de novas modalidades de transporte particular é comum a outras grandes capitais do país, como explica o doutor e consultor em engenharia de transportes, Frederico Rodrigues. “Essa proliferação dos semicoletivos já ocorreu em São Paulo, por exemplo, e representa um benefício muito grande em termos de planejamento de transporte na cidade. O número de veículos diminui nas ruas”, afirma o especialista, citando ainda o ganho com a concorrência.
REGULAMENTAÇÃO Mas, para Frederico Rodrigues, o avanço dos serviços exige regulamentação. “Sou a favor dos aplicativos, porque representam um avanço e trazem praticidade aos sistemas de transporte, mas entendo que eles precisam ser regulamentados”. Assim como ele, o seo da Easy, Fernando Mathias, alerta para a necessidade “de regras claras para o jogo”, como forma de garantir sustentabilidade para todos os serviços. Ele cita, por exemplo, o que ocorreu em São Paulo no fim de 2015 e início de 2016, quando houve a entrada do Uber e a prefeitura criou o modelo de táxis pretos, mais luxuosos e também mais caros. “Logo na sequência saiu o decreto regulamentando o transporte individual privado e muitos motoristas devolveram as outorgas. É preciso avaliar, no caso de BH, o que ocorrer em termos de regulamentação para se concluir se esse modelo premium vai fazer sentido ou não, afirma Fernando. Além disso, ele afirma que uma frota de 600 veículos é muito menor que a demanda, o que pode gerar também insatisfação em relação ao atendimento.
Fernando esclarece, no entanto, que a entrada de novos serviços já é uma realidade. “A cidade pode conviver com todos. Mas a prefeitura deve olhar para todo o sistema e não só oferecer um serviço como substitução do outro. Daí a necessidade da regulamentação”. Atualmente, a Easy tem 80% dos cerca de 7 mil táxis de BH cadastrados em seu sistema.
Por meio de sua assessoria de imprensa, a Cabify informou que toda alternativa complementar de transporte é bem-vinda e contribui para um melhor mobilidade da população. “Em algumas cidades onde operamos, já trabalhamos com veículos elétricos/híbridos e Belo Horizonte não será diferente”. A empresa destacou ainda que a competição no setor é saudável para elevar a qualidade do serviço ofertado. A Uber informou que não comentaria o assunto. Já a empresa 99, que opera em BH exclusivamente com táxi, informou que no início do segundo semestre começa a operar com o 99 POP, sua categoria de carros particulares, por enquanto disponíveis na Grande São Paulo, Rio de Janeiro e Santos (SP). Atualmente, mais de 3 mil motoristas de táxi são cadastrados da 99 em BH.