A prática irresponsável de disputar corridas no trânsito, que já provocou tragédias em Belo Horizonte, volta a pôr em risco motoristas da capital. Uma testemunha disse à polícia que dois condutores envolvidos ontem em um acidente na Avenida Barão Homem de Melo, no Bairro Nova Granada (Região Oeste), estavam participando de um “pega” antes da batida. Os veículos acertaram postes e ficaram destruídos, mas, por sorte, não houve feridos. Os motoristas de um Volkswagen Pointer e um Hyundai HB20 fugiram e não haviam sido localizados até o fechamento desta edição. Especialistas cobram maior fiscalização para coibir esse tipo de crime.
A batida ocorreu de madrugada. Segundo contou um morador da região a policiais militares, os motoristas do Pointer e do HB20 seguiam em alta velocidade e faziam manobras arriscadas na Barão Homem de Melo pouco antes do acidente. Em um momento, os carros ficaram sem controle e acertaram dois postes, um deles de semáforo. Os veículos foram parar em cima do canteiro central, perto do cruzamento com a Rua Garret, completamente destruídos.
Um inquérito foi aberto pelo delegado Diego Fabiano Alves e equipes da Delegacia Especializada de Acidentes de Veículos (Deav) se deslocaram ao local do acidente para buscar elementos que ajudem na identificação dos motoristas. Os policiais esperam que imagens de câmeras de segurança auxiliem no trabalho.
O caso de ontem reacendeu a preocupação com “pegas” na capital, onde esse tipo de corrida já resultou em tragédias. No ano passado, por exemplo, duas pessoas morreram em uma batida na Avenida Tancredo Neves, no Bairro Paquetá, na Pampulha. Testemunhas disseram à PM que o motorista do carro acidentado dirigia de forma temerosa e que, pouco antes da batida, outro veículo passou em alta velocidade pela via, o que levantou a suspeita de “racha”.
Alto risco O professor de engenharia Márcio Aguiar, especialista em transporte e trânsito, reitera que a prática de “pegas” põe pessoas inocentes em risco. “O problema maior do racha é com as pessoas que estão se deslocando na via, sem essa preocupação, e se deparam com esse tipo de disputa. Isso pode ocasionar acidentes gravíssimos”, lembra. “Quando há um acidente nessas disputas, normalmente são em alta velocidade e, na maioria das vezes, as pistas não têm esse preparo como de corrida. Defeitos na pista e manobras erradas viram risco. Para piorar, na maioria das vezes, as pessoas quando fazem essas disputas têm álcool ou outros entorpecentes no corpo”, completa.
Para Aguiar, é preciso um empenho das forças de segurança para que as disputas não se disseminem por regiões da cidade. “Se está voltando a acontecer é porque as pessoas estão com o sentimento de que vale a pena arriscar. Então, as autoridades têm que ser mais duras. Têm de impedir que essas coisas ocorram, identificar esses locais, onde estão”, cobra. “É igual rastilho de pólvora: começa em um local e vai se espalhando para outros”, acrescenta.
O Batalhão de Trânsito da Polícia Militar (BPTran) afirma que faz ações diárias para coibir este tipo de comportamento dos motoristas e outros crimes. “As nossas ações são sempre em operações policiais.
O tenente lembra que o racha é considerado infração gravíssima. “O trânsito já é perigoso em condições e em dias normais, imagine em alta velocidade. Isso pode incorrer em infração e até mesmo crime. Disputar corrida, de acordo com o Código de Trânsito Brasileiro (CTB) é infração gravíssima. O motorista tem que pagar multa de R$ 2.934, perde sete pontos e tem a Carteira Nacional de Habilitação (CNH) recolhida. Além disso, tem suspensão da carteira por 12 meses”, lembrou Said.
A participação em rachas ou corridas em vias públicas pode acarretar em crime de trânsito se colocar em risco o patrimônio e outras pessoas. O artigo 308 do CTB prevê detenção de seis meses a três anos, multa e suspensão de dirigir ou proibição de se obter a permissão ou a habilitação de dirigir.
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