Ontem, primeiro dia de ação dos agentes, o tráfego ficou mais organizado no local, com momentos específicos para passagem dos carros e mais fluidez, além da garantia do direito dos pedestres. “Todo dia é confuso atravessar aqui. O trânsito fecha para os carros, que bloqueiam nossa passagem. Agora, mesmo esperando um pouco mais, ficou mais seguro”, disse a auxiliar administrativo Ingrid Oliveira Rodrigues, de 25 anos, que passa diariamente pelo local. “Esse trânsito que vem da Francisco Sales para a Avenida Brasil precisava de organização para fluir mais rápido. Acho que vai melhorar”, afirmou o taxista Walter Alves, de 51.
Já no cruzamento das avenidas Tereza Cristina e Juscelino Kubitschek (Via Expressa), no Bairro Calafate, a medida foi liberar a faixa da direita para quem segue no sentido Centro, vindo de bairros como Buritis, Vista Alegre e Betânia, além da Região do Barreiro. Nesse caso foram colocados cones para dividir o fluxo: quem segue no sentido área central tem acesso livre; quem pretende cruzar a Via Expressa no sentido Bairro Coração Eucarístico aguarda o tempo do semáforo. Em alguns momentos a intervenção eliminou as filas da faixa da direita. Em outros, condutores acharam que os cones faziam parte de alguma operação policial e não entraram na área demarcada, aumentando o congestionamento.
AÇÕES Na semana passada, durante lançamento da nova frota de luxo de táxis de Belo Horizonte, assim como dos modelos híbridos, com sistema elétrico, o prefeito Alexandre Kalil já havia dito que a BHTrans estava avaliando uma operação para melhoria no trânsito. Também adiantou que mês que vem vão entrar em circulação 120 ônibus mais modernos nas linhas convencionais, semelhantes aos do Move, com suspensão a ar e ar-condicionado. “Esperamos que essas medidas tragam conforto melhor, já que a operação de melhoria do fluxo está sendo olhada. Nós não temos hoje condições de fazer grandes operações no trânsito”, disse o prefeito em 21 de junho.
A superintendente de Ação Regional da BHTrans, Maria Odila de Matos, informou que a empresa espera resolver gargalos importantes nos quatro pontos em que a operação de trânsito foi lançada durante o horário de pico da manhã. O objetivo, segundo ela, é intervir nos locais mais críticos. “Temos feito exatamente isso. Avaliamos a cidade como um todo. Esses locais foram escolhidos porque verificamos que demandam ações simples, com grande resultado. Se verificarmos outros pontos em que as operações podem ser realizadas dessa forma, vamos também implantá-las e observar os resultados”, afirma. A intenção inicial é avaliar o trabalho depois de uma semana, para saber se os pontos serão mantidos ou modificados.
O professor Guilherme Leiva, do curso de engenharia de transportes do Cefet/MG, acredita que, antes de se pensar em grandes obras, é necessário exatamente colocar a infraestrutura disponível para atuar com a máxima eficiência, o que não ocorre atualmente. “Nosso sistema de tráfego ainda é subutilizado em sua grande maioria, em função de não termos uma presença mais ativa nas ruas, com organização de fiscais e agentes para atuar em determinados horários. Talvez os problemas nem sejam mais tão grandes depois que passarmos por essa organização”, avalia o especialista. Leiva também lembra que em várias cidades do Brasil há realidades diferentes de acordo com o horário, e que isso é importante para otimizar a infraestrutura ofertada ao trânsito.
Análise da notícia
Demorou (Roney Garcia)
Colocar agentes de trânsito para, bem, agir no trânsito parece medida tão óbvia que fica no ar a pergunta: por que só agora? A BHTrans, fundada Empresa de Transporte e Trânsito de Belo Horizonte em 1991, foi por anos criticada pela aparente predileção de suas equipes de rua por fiscalizar – e multar – carros parados, o que parecia uma contradição com seu próprio nome. Em dias e horários de tráfego travado na capital, chamava a atenção a completa escassez de fiscais para garantir o cumprimento das normas de circulação e multar infratores, enquanto equipes eram facilmente observadas no dia a dia rondando os estacionamentos rotativos espalhados pelo Centro. Em 2009, decisão do Superior Tribunal de Justiça proibiu a empresa municipal de multar. Esperava-se, então, que as ações de seu corpo fiscal se dirigissem enfim para privilegiar a organização do fluxo de tráfego nas ruas, o que não se verificou na prática. A diretriz da atual gestão municipal parece dar novo rumo para as ações desse importante efetivo – e lugares para que ele atue não faltam na cidade. Resta torcer para que a providência não se encerre nos locais e medidas agora anunciados, tampouco apenas no horário de pico da manhã. Afinal, voltar para casa é tão importante quanto conseguir sair dela.