Pessoas que passaram pela Avenida dos Andradas na manhã de ontem levaram um susto ao se deparar com dois atores e um monte de lixo pendurados em uma rede na passarela da Estação Santa Tereza do metrô, na Região Leste de Belo Horizonte, sobre o Ribeirão Arrudas.
A curadora do festival em Minas, Carol Fescina, explica que a obra Dilúvio MA, da Ecopoética de Porto Alegre (RS), pela primeira vez saiu do Rio Grande do Sul e o resultado esperado foi alcançado, pois a intervenção deixou as pessoas muito impressionadas. “Os artistas mostram uma relação muito forte com o meio ambiente. O objetivo é chamar a atenção para a necessidade de cuidar desse ambiente. E a obra está em cima do Ribeirão Arrudas, um lugar por onde a gente passa diariamente sem olhar, mas que é um esgoto a céu aberto”, afirma a curadora.
Carol também conta que a performance dos artistas dentro da rede é totalmente desacelerada, representando um contraponto ao ritmo acerelado da cidade em sua rotina. “Não houve uma pessoa que estivesse fazendo caminhada pela pista da Avenida dos Andradas que não diminuísse o ritmo para observar a intervenção”, disse ela. A encenação começou às 7h e foi desmontada às 10h.
CONTAMINAÇÃO Pelo leito do Arrudas, sai de Belo Horizonte a pior e mais vergonhosa contribuição para o Rio das Velhas. Na forma de uma água escura, contaminada principalmente por esgoto e lixo, o ribeirão que corta a capital mineira de Oeste a Leste foi considerado pelas medições do Instituto Mineiro de Gestão das Águas (Igam) o mais poluído tributário do Alto Rio das Velhas, um obstáculo químico e biológico à vida no cursa d’água.
De acordo com a avaliação do Igam no Resumo Executivo da Qualidade das Águas Superficiais de Minas Gerais de 2016, lançado em março, o Arrudas apresenta próximo à sua foz no Rio das Velhas um Índice de Qualidade das Águas (IQA) de conceito “muito ruim”, o que pode “ser associado, além dos lançamentos de esgotos domésticos de Belo Horizonte e Sabará, também aos efluentes de indústrias metalúrgicas, siderúrgicas, químicas e têxteis”.
O monitoramento do Igam identificou na foz do Arrudas e também nos ribeirões do Onça e Isidoro os efeitos crônicos e agudos da eutrofização, que é o processo de superpopulação das águas por microorganismos, o que leva a uma queda acentuada da disponibilidade de oxigênio, inibindo a proliferação dos peixes e da vida aquática. Mais uma vez, o resumo aponta esse desequilíbrio como resultado “dos lançamentos de esgotos domésticos e efluentes industriais dos diversificados polos industriais presentes nos municípios de Belo Horizonte, Sabará, Contagem, Baldim e Santa Luzia”.
TRATAMENTO A Copasa informou, por meio de nota, que é responsável somente pelo monitoramento da qualidade da água de mananciais usados para o abastecimento público, o que não é o caso do Arrudas. Acrescentou que a redução da carga orgânica lançada no ribeirão é feita por meio da coleta, interceptação e tratamento do esgoto na Estação de Tratamento Arrudas. A unidade tem capacidade para processar 3.375 litros de esgoto por segundo, o que, segundo a companhia, é suficiente para atender a população de Contagem e BH nos próximos 30 anos.
Atualmente, são tratados 2.200 litros por segundo, o que corresponde a 90% de todo o esgoto gerado na bacia. “A coleta e o tratamento de 100% do efluente só será possível a partir de intervenções em fundos de vale pelas prefeituras de Contagem e Belo Horizonte, para viabilizar a execução de obras de infraestrutura de saneamento”, afirma o texto. Além disso, é necessária a interligação dos imóveis que têm rede disponível na rua, mas que não estão conectados aos serviços de esgotamento sanitário. “Em ação conjunta com as prefeituras, a Copasa vem desenvolvendo o Programa Caça-Esgoto em vários bairros e regiões, com o objetivo de identificar e eliminar os lançamentos indevidos nos cursos d’água e nas galerias pluviais”, conclui a nota.
A Superintendência de Desenvolvimento da Capital (Sudecap) foi procurada para comentar a situação do Arrudas, mas até o fechamento desta edição não retornou. A Prefeitura de BH informou que o assunto só pode ser tratado com a autarquia, e que a resposta será dada hoje. A Prefeitura de Contagem também informou que só hoje se pronunciará sobre o assunto. (Com Mateus Parreiras)
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