Colégio Loyola realiza mostra interativa sobre os 50 anos da Tropicália

Exposição revisita o passado de efervescência cultural do país por meio dos 50 anos da Tropicália. Ao lado, conquistas trabalhistas são tema de desenhos

Junia Oliveira
Os alunos Lorena Soares, Camila Souza, Laura Thibau e Henrique Martello, do 9º ano, na exposição sobre a Tropicália - Foto: Gladyston Rodrigues/EM/DA Press
Arte para aflorar sentimentos, causar impacto, mudar conceitos. Arte para dialogar e ensinar. Num momento político e econômico delicado no país, mostrar às novas gerações e lembrar às mais antigas o sentido da luta e a importância da democracia é resgatar a história, transpor a geografia, se embrenhar pela leitura e deixar letras e ideias correrem soltas. Exposição interativa Tropicália 50 anos, montada em galeria de arte de um colégio da Região Centro-Sul de Belo Horizonte, revisita esse passado de efervescência cultural do Brasil. Trabalho de estudantes fazem parte da exposição, aberta ao público até o dia 12 do mês que vem.

Seis ambientes no Passo das Artes, a galeria do Colégio Loyola, no Bairro Cidade Jardim, contam a origem, trajetória e desdobramentos da Tropicália, nascida no fim da década de 1960, em plena ditadura militar. O início é uma homenagem a Gilberto Gil, um dos expoentes do movimento e aniversariante da semana. A influência do Manifesto Antropofágico, escrito por Oswald de Andrade, em 1922, a influência brasileira nos Estados Unidos na figura de Carmen Miranda, a luta e a liberdade de expressão são alguns dos seis ambientes da mostra.

Ao longo da galeria, Caetano Veloso e Gal Costa se encontram com Mutantes, Tom Zé e Nara Leão. Um espelho lembra os desaparecidos políticos nos anos de chumbo.
Atrás de cada painel, pinturas feitas pelos alunos do 9º ano do ensino fundamental remetem à plástica da Tropicália. A exposição é parte da Semana de Arte, Literatura e Cultura, que ocorre todo ano, no fim do primeiro semestre, nos espaços de arte do colégio. Na literatura, a homenageada é a escritora Ruth Rocha.

Paralelamente, o público pode ver também a exposição Raízes da luta dos trabalhadores brasileiros. São 37 desenhos feitos por alunos do colégio a carvão e giz. Eles representam vários momentos de transformação do trabalho no Brasil. Nas imagens, alusões a greves, igualdade de direitos, jornada de trabalho de 8 horas e proibição de trabalho infantil.

Curadora e professora de artes do Loyola, Amanda Lopes diz que a exposição não tem a pretensão de esgotar o assunto, mas de fazer um recorte de alguns dos principais acontecimentos que perpassam a música, as artes visuais, o teatro e o cinema, sem uma preocupação didática formal. “A intenção aqui é apresentar elementos que possam provocar o espectador a estabelecer diversas relações. Espera-se que a experiência possa enriquecer as discussões sobre esse importante movimento cultural que, até hoje, influencia as produções artísticas brasileiras”, afirma.

Cada ambiente tem uma trilha sonora, que pode ser ouvida a partir de caixas de som instaladas especialmente para a exposição em tubos presos no teto. Os visitantes podem ainda escutar as listas em seus próprios smartphones ou tablets – elas são acessadas por meio do site do Colégio Loyola pela leitura de QR codes em cada espaço. Entre os estudantes do 9º ano, o tema Tropicália, movimento sobre o qual muitos já tinham ouvido falar, mas não sabiam bem do que se tratava, é sinônimo de memória. “Demoramos muito para conquistar liberdade em relação à pintura, desenhos, arte. E temos perdido um pouco disso, porque esquecemos que fomos reprimidos na ditadura. Essa retomada cultural é importante para relembrar o tanto que conquistar essa liberdade foi fundamental”, diz a estudante Lorena do Vale Soares, de 13 anos.

“Hoje, o único estilo de música crítico a governo, religião e raça é o rap.
Faz analogias por meio das rimas e deixa subentendido, principalmente as questões sociais. Outras músicas têm muito pouco a ver com isso. Os artistas cantam o que o público quer ouvir”, relata o aluno Henrique França Martello, de 16. Para Laura Corrêa da Costa Thibau, de 15, o contexto atual diferente, pautado pela democracia, pode contribuir para esse cenário: “As pessoas esquecem um pouco desse objetivo de denúncia que a música também tem e as temáticas ficam mais livres. Os artistas não aproveitam a música para falar o que sentem”. A colega Camila Cardoso Souza, de 14, se encantou pelo tema, mas também pelos cartazes retratando a história do trabalho no Brasil – essa conversa com a Tropicália, já que os dois têm um ponto em comum: as lutas. “Esses trabalhadores lutaram pelos direitos. Não fossem eles, não teríamos nada. É preciso pensar que as pessoas custaram para conseguir isso.”

Serviço


Exposição Tropicália 50 anos
Até 12 de julho
Local: Passo das Artes, no
Colégio Loyola (Avenida do Contorno, 7.919, Bairro Cidade Jardim).
Horários: de segunda a sexta-feira, das 8h às 9h30, 10h30 às 12h, 14h às 15h30 e 16h30 às 18h.
Entrada franca.

LIVRE EXPERIMENTAÇÃO A Tropicália nasceu de maneira espontânea, quando Caetano Veloso percebeu que no teatro do Grupo Oficina, no cinema de Glauber Rocha e na arte de Hélio Oiticica havia algo em comum: a livre experimentação estética sem censura em busca de uma representação da cultura brasileira. A ordem era a contracultura em plena ditadura militar.
As raízes do pensamento tropicalista estão no Manifesto Antropofágico de Oswald de Andrade, redigido em 1928. A ideia de uma arte brasileira formada pela “devoração” cultural de elementos populares e eruditos, porém, com um caráter mais crítico, carregado de metáforas e ironias.
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