Arte para aflorar sentimentos, causar impacto, mudar conceitos. Arte para dialogar e ensinar. Num momento político e econômico delicado no país, mostrar às novas gerações e lembrar às mais antigas o sentido da luta e a importância da democracia é resgatar a história, transpor a geografia, se embrenhar pela leitura e deixar letras e ideias correrem soltas. Exposição interativa Tropicália 50 anos, montada em galeria de arte de um colégio da Região Centro-Sul de Belo Horizonte, revisita esse passado de efervescência cultural do Brasil. Trabalho de estudantes fazem parte da exposição, aberta ao público até o dia 12 do mês que vem.
Seis ambientes no Passo das Artes, a galeria do Colégio Loyola, no Bairro Cidade Jardim, contam a origem, trajetória e desdobramentos da Tropicália, nascida no fim da década de 1960, em plena ditadura militar. O início é uma homenagem a Gilberto Gil, um dos expoentes do movimento e aniversariante da semana. A influência do Manifesto Antropofágico, escrito por Oswald de Andrade, em 1922, a influência brasileira nos Estados Unidos na figura de Carmen Miranda, a luta e a liberdade de expressão são alguns dos seis ambientes da mostra.
Ao longo da galeria, Caetano Veloso e Gal Costa se encontram com Mutantes, Tom Zé e Nara Leão. Um espelho lembra os desaparecidos políticos nos anos de chumbo. Atrás de cada painel, pinturas feitas pelos alunos do 9º ano do ensino fundamental remetem à plástica da Tropicália. A exposição é parte da Semana de Arte, Literatura e Cultura, que ocorre todo ano, no fim do primeiro semestre, nos espaços de arte do colégio. Na literatura, a homenageada é a escritora Ruth Rocha.
Paralelamente, o público pode ver também a exposição Raízes da luta dos trabalhadores brasileiros. São 37 desenhos feitos por alunos do colégio a carvão e giz. Eles representam vários momentos de transformação do trabalho no Brasil. Nas imagens, alusões a greves, igualdade de direitos, jornada de trabalho de 8 horas e proibição de trabalho infantil.
Curadora e professora de artes do Loyola, Amanda Lopes diz que a exposição não tem a pretensão de esgotar o assunto, mas de fazer um recorte de alguns dos principais acontecimentos que perpassam a música, as artes visuais, o teatro e o cinema, sem uma preocupação didática formal. “A intenção aqui é apresentar elementos que possam provocar o espectador a estabelecer diversas relações. Espera-se que a experiência possa enriquecer as discussões sobre esse importante movimento cultural que, até hoje, influencia as produções artísticas brasileiras”, afirma.
Cada ambiente tem uma trilha sonora, que pode ser ouvida a partir de caixas de som instaladas especialmente para a exposição em tubos presos no teto. Os visitantes podem ainda escutar as listas em seus próprios smartphones ou tablets – elas são acessadas por meio do site do Colégio Loyola pela leitura de QR codes em cada espaço. Entre os estudantes do 9º ano, o tema Tropicália, movimento sobre o qual muitos já tinham ouvido falar, mas não sabiam bem do que se tratava, é sinônimo de memória. “Demoramos muito para conquistar liberdade em relação à pintura, desenhos, arte. E temos perdido um pouco disso, porque esquecemos que fomos reprimidos na ditadura. Essa retomada cultural é importante para relembrar o tanto que conquistar essa liberdade foi fundamental”, diz a estudante Lorena do Vale Soares, de 13 anos.
“Hoje, o único estilo de música crítico a governo, religião e raça é o rap. Faz analogias por meio das rimas e deixa subentendido, principalmente as questões sociais. Outras músicas têm muito pouco a ver com isso. Os artistas cantam o que o público quer ouvir”, relata o aluno Henrique França Martello, de 16. Para Laura Corrêa da Costa Thibau, de 15, o contexto atual diferente, pautado pela democracia, pode contribuir para esse cenário: “As pessoas esquecem um pouco desse objetivo de denúncia que a música também tem e as temáticas ficam mais livres. Os artistas não aproveitam a música para falar o que sentem”. A colega Camila Cardoso Souza, de 14, se encantou pelo tema, mas também pelos cartazes retratando a história do trabalho no Brasil – essa conversa com a Tropicália, já que os dois têm um ponto em comum: as lutas. “Esses trabalhadores lutaram pelos direitos. Não fossem eles, não teríamos nada. É preciso pensar que as pessoas custaram para conseguir isso.”
Exposição Tropicália 50 anos
Até 12 de julho
Local: Passo das Artes, no
Colégio Loyola (Avenida do Contorno, 7.919, Bairro Cidade Jardim).
Horários: de segunda a sexta-feira, das 8h às 9h30, 10h30 às 12h, 14h às 15h30 e 16h30 às 18h.
Entrada franca.
LIVRE EXPERIMENTAÇÃO A Tropicália nasceu de maneira espontânea, quando Caetano Veloso percebeu que no teatro do Grupo Oficina, no cinema de Glauber Rocha e na arte de Hélio Oiticica havia algo em comum: a livre experimentação estética sem censura em busca de uma representação da cultura brasileira. A ordem era a contracultura em plena ditadura militar. As raízes do pensamento tropicalista estão no Manifesto Antropofágico de Oswald de Andrade, redigido em 1928. A ideia de uma arte brasileira formada pela “devoração” cultural de elementos populares e eruditos, porém, com um caráter mais crítico, carregado de metáforas e ironias.
Seis ambientes no Passo das Artes, a galeria do Colégio Loyola, no Bairro Cidade Jardim, contam a origem, trajetória e desdobramentos da Tropicália, nascida no fim da década de 1960, em plena ditadura militar. O início é uma homenagem a Gilberto Gil, um dos expoentes do movimento e aniversariante da semana. A influência do Manifesto Antropofágico, escrito por Oswald de Andrade, em 1922, a influência brasileira nos Estados Unidos na figura de Carmen Miranda, a luta e a liberdade de expressão são alguns dos seis ambientes da mostra.
Ao longo da galeria, Caetano Veloso e Gal Costa se encontram com Mutantes, Tom Zé e Nara Leão. Um espelho lembra os desaparecidos políticos nos anos de chumbo. Atrás de cada painel, pinturas feitas pelos alunos do 9º ano do ensino fundamental remetem à plástica da Tropicália. A exposição é parte da Semana de Arte, Literatura e Cultura, que ocorre todo ano, no fim do primeiro semestre, nos espaços de arte do colégio. Na literatura, a homenageada é a escritora Ruth Rocha.
Paralelamente, o público pode ver também a exposição Raízes da luta dos trabalhadores brasileiros. São 37 desenhos feitos por alunos do colégio a carvão e giz. Eles representam vários momentos de transformação do trabalho no Brasil. Nas imagens, alusões a greves, igualdade de direitos, jornada de trabalho de 8 horas e proibição de trabalho infantil.
Curadora e professora de artes do Loyola, Amanda Lopes diz que a exposição não tem a pretensão de esgotar o assunto, mas de fazer um recorte de alguns dos principais acontecimentos que perpassam a música, as artes visuais, o teatro e o cinema, sem uma preocupação didática formal. “A intenção aqui é apresentar elementos que possam provocar o espectador a estabelecer diversas relações. Espera-se que a experiência possa enriquecer as discussões sobre esse importante movimento cultural que, até hoje, influencia as produções artísticas brasileiras”, afirma.
Cada ambiente tem uma trilha sonora, que pode ser ouvida a partir de caixas de som instaladas especialmente para a exposição em tubos presos no teto. Os visitantes podem ainda escutar as listas em seus próprios smartphones ou tablets – elas são acessadas por meio do site do Colégio Loyola pela leitura de QR codes em cada espaço. Entre os estudantes do 9º ano, o tema Tropicália, movimento sobre o qual muitos já tinham ouvido falar, mas não sabiam bem do que se tratava, é sinônimo de memória. “Demoramos muito para conquistar liberdade em relação à pintura, desenhos, arte. E temos perdido um pouco disso, porque esquecemos que fomos reprimidos na ditadura. Essa retomada cultural é importante para relembrar o tanto que conquistar essa liberdade foi fundamental”, diz a estudante Lorena do Vale Soares, de 13 anos.
“Hoje, o único estilo de música crítico a governo, religião e raça é o rap. Faz analogias por meio das rimas e deixa subentendido, principalmente as questões sociais. Outras músicas têm muito pouco a ver com isso. Os artistas cantam o que o público quer ouvir”, relata o aluno Henrique França Martello, de 16. Para Laura Corrêa da Costa Thibau, de 15, o contexto atual diferente, pautado pela democracia, pode contribuir para esse cenário: “As pessoas esquecem um pouco desse objetivo de denúncia que a música também tem e as temáticas ficam mais livres. Os artistas não aproveitam a música para falar o que sentem”. A colega Camila Cardoso Souza, de 14, se encantou pelo tema, mas também pelos cartazes retratando a história do trabalho no Brasil – essa conversa com a Tropicália, já que os dois têm um ponto em comum: as lutas. “Esses trabalhadores lutaram pelos direitos. Não fossem eles, não teríamos nada. É preciso pensar que as pessoas custaram para conseguir isso.”
Serviço
Exposição Tropicália 50 anos
Até 12 de julho
Local: Passo das Artes, no
Colégio Loyola (Avenida do Contorno, 7.919, Bairro Cidade Jardim).
Horários: de segunda a sexta-feira, das 8h às 9h30, 10h30 às 12h, 14h às 15h30 e 16h30 às 18h.
Entrada franca.
LIVRE EXPERIMENTAÇÃO A Tropicália nasceu de maneira espontânea, quando Caetano Veloso percebeu que no teatro do Grupo Oficina, no cinema de Glauber Rocha e na arte de Hélio Oiticica havia algo em comum: a livre experimentação estética sem censura em busca de uma representação da cultura brasileira. A ordem era a contracultura em plena ditadura militar. As raízes do pensamento tropicalista estão no Manifesto Antropofágico de Oswald de Andrade, redigido em 1928. A ideia de uma arte brasileira formada pela “devoração” cultural de elementos populares e eruditos, porém, com um caráter mais crítico, carregado de metáforas e ironias.