Adolescente de 14 anos busca recursos para publicar livro sobre bullying

Gabriel tenta financiamento coletivo para publicar seu terceiro livro, que trata de temas como tolerância, inclusão e combate à violência na juventude

Junia Oliveira
Obra sobre bullying é a terceira de Gabriel Goecking Ferreira: "A maioria das pessoas já sofreu ou presenciou algum ato" - Foto: Alexandre Guzanshe/EM/DA Press
O menino órfão, pobre e com perspectiva de vida difícil aprende a superar adversidades, a buscar sonhos e a torná-los realidade. No meio do caminho, lições sobre a exclusão, discussão sobre adoção, os novos modelos de família, obesidade infantil, tolerância ou intolerância com as diferenças e esperança por um futuro melhor. O personagem e o enredo são ficção, mas a história faz parte do cotidiano de milhões de crianças e adolescentes mundo afora. Um estudante de Belo Horizonte resolveu escancarar o assunto, quebrar paradigmas e falar sobre bullying no livro Meu pai cria pinguins. Agora, ele busca recursos por meio de financiamento coletivo para publicar a obra, feita para crianças de 7 a 10 anos, mas que conversa, perfeitamente, com gente de todas as idades.

Esse é o terceiro livro de Gabriel Goecking Ferreira, de 14 anos, autor também de Gabriel Nuvem (2012) e de E se fosse comigo? (2013). A última obra foi escrita no ano passado em parceria com o pai, o psicólogo e psicanalista Rodrigo Mendes Ferreira, de 49, e foi ilustrado pela estudante de artes visuais Júlia Rodrigues. Em 2016, eles editaram 100 exemplares, que foram distribuídos a bibliotecas em BH e região metropolitana. A meta agora é arrecadar R$ 16 mil para a impressão de 400 livros, que serão doados a bibliotecas de escolas públicas e particulares em todo o estado.
A escola interessada deverá apenas enviar um e-mail para pedir a publicação, que será enviada pelos Correios.

O título do livro surgiu num café da manhã, momento em que a família aproveita para falar sobre vários temas ligados à adolescência. Numa das conversas, Gabriel comentou justamente sobre um vídeo de um menino gordinho que apanhava sempre. “Quisemos falar de uma história de superação, da exclusão social de um menino. Ele é feio e vai ficando bonito, cuida da alimentação, conta com o apoio do professor de educação física e da cozinheira do orfanato”, conta Rodrigo.

Em função da Lei 13.185/2015, que obriga escolas e clubes a combaterem o bullying, ele acredita que o livro pode servir como uma ferramenta de auxílio aos educadores. “Esses estabelecimentos devem ter medidas de conscientização, prevenção e de combate à violência e ao bullying. Por isso, acredito que a obra de Gabriel pode ser fundamental para ajudar a equipe pedagógica a introduzir no ensino discussões sobre o tema, fazendo, dessa forma, um trabalho preventivo com as crianças”, diz.

DOAÇÕES O financiamento está recebendo doações a partir de R$ 20 de pessoas físicas e de R$ 500 de empresas. As doadoras da iniciativa privada terão a logomarca no livro. Gabriel Aluno do 9º ano do ensino fundamental do Coleguium, um dos apoiadores do projeto, ressalta que o bullying está presente em todo lugar, seja na internet, numa agressão física ou psicológica. “A maioria das pessoas já sofreu ou presenciou algum ato, por isso, tratamos de forma mais lúdica para não ficar uma narrativa tão cansativa e abordarmos o tema”, relata o garoto.

Para o adolescente, importante é denunciar: “Se na escola, tem que procurar diretor, professor e os pais para tentar acabar com isso. Quanto mais guardar para si, mais ficará sobrecarregado e mais terá o psicológico afetado. E quando a pessoa não tem coragem de falar com os responsáveis, alguém deve intervir, contando ou impedindo uma briga”.

Gabriel conta que sempre gostou de escrever, mas não vê na atividade algo profissional, e sim, um hobby. O menino se diz um privilegiado: “É muito difícil hoje em dia ter uma relação com os pais. Muitos filhos não têm esse contato.
O bullying é um tema atual e queríamos trazer a mensagem sobre um tema assim”. Aproveitando-se da profissão dos pais, que convivem com situações como essa no dia a dia de consultório, o estudante aproveita para absorver comentários e opiniões e se preparar para tomar uma atitude adequada caso necessário.

“Nunca sofri bullying, mas já vi pessoas próximas, por causa da altura ou de uma característica que foge do padrão. O consenso é que ser diferente é motivo para zoar alguém. Mas ser diferente não tem nada de errado”, diz. Os textos do livro de Gabriel trazem uma mensagem clara: “Você não precisa de bens materiais ou alguém te colocando para baixo para dar a volta por cima. Tem que ser autoconfiante e ter autoestima grande. Depende de você mesmo correr atrás de seus sonhos”.

SERVIÇO


O endereço para participar do financiamento coletivo é www.catarse.me/meu_pai_cria_pinguins_6e92.