Camelôs de Belo Horizonte terão novo endereço a partir de terça-feira, quando os primeiros 250 começam a trabalhar fora das ruas. Ontem, foram sorteadas vagas em dois shoppings populares, da rede Uai, no Centro e em Venda Nova. Enquanto quem era contemplado comemorava, do lado de fora do prédio da Belotur, onde ocorreu a seleção, alguns ambulantes protestavam contra a ida para os centros comerciais, onde obras estão a todo vapor para receber os novos comerciantes. Pelo quarto dia consecutivo houve confusão no Hipercentro, e a Praça Sete foi fechada mais uma vez.
De acordo com a secretária Municipal de Políticas Urbanas, Maria Caldas, sexta-feira que vem é o prazo final para que todos estejam nos shoppings. Depois de credenciados, os contemplados têm até cinco dias para oficializar interesse na vaga. Ainda segundo ela, mais 900 pessoas apareceram nos últimos dias dizendo-se ambulantes e interessadas no programa.
Dessas, 700 afirmaram atuar no Hipercentro. “É improvável que algum camelô tenha ficado fora do cadastro, pois as equipes estiveram durante 30 dias nas ruas, oito horas por dia. Em algum momento eles seriam vistos. Alguns afirmam que não foram abordados ou que fugiram, com medo”, conta a secretária. Cada caso será verificado junto ao Ministério Público e, se comprovada a atuação como camelô, poderá ser feito outro sorteio com vagas remanescentes.
O promotor de Defesa dos Direitos Humanos Mário Higuchi Júnior acompanhou o sorteio e comentou a situação dos camelôs que se recusam a deixar as ruas. “É uma situação complexa e de fundo social. A prefeitura quer cumprir o Código de Posturas e está sendo cobrada pela Promotoria de Urbanismo. É nosso dever resguardar a legalidade disso e a integridade dos trabalhadores, mas sempre haverá insatisfeitos”, disse.
O camelô Wanderson da Silva, de 29 anos, trabalha há 14 na rua. Ele diz vender “mercadorias de época”, de acordo com a estação, a chuva, o calor ou frio. Emocionado, ele agradecia a vaga no Uai do Centro. “Ficar na rua é opção para quem não tem opção na vida. Todo mundo precisa de oportunidade”, disse. Também conseguiu vaga no local Felipe Moreira Socorro, de 24, que estava há cinco anos como ambulante vendendo brinquedos e eletrônicos. “É uma sensação de vitória”, comemorou. Ele ficou tão alegre que foi correndo ao Uai, querendo saber onde será instalada sua banca.
A expectativa é grande também entre os lojistas que já são inquilinos. O comerciante Antônio Rodrigues Moreira, que entre outras profissões trabalhou há 20 anos como camelô, torce para dar certo. “A presença deles dará uma guinada nas vendas. Camelô é uma classe sofrida. A gente rala demais e é muito julgado pela sociedade”, ressaltou.
A secretária Maria Caldas considera que a segunda fase da retirada dos camelôs das ruas será mais atrativa para os shoppings. Em quatro meses, está previsto novo sorteio para vagas nos centros comerciais que se interessarem em fazer parte da operação urbana promovida pela prefeitura. Se aprovado o projeto de lei que tramita no Legislativo, o município poderá subsidiar o aluguel dos ambulantes em centros populares de compras durante cinco anos. Os vendedores informais começarão pagando R$ 30 e, no fim do quinto ano, estarão arcando com 100% do valor de R$ 600. Hoje, o preço médio de um box gira em torno de R$ 1,2 mil. “Vamos fazer a gestão compartilhada em um sistema tripartite: prefeitura, camelôs e shoppings”, explica. Segundo ela, a ideia é instalar equipamentos e serviços da prefeitura nesses pontos comerciais como forma de levar público até eles.
MANIFESTAÇÃO Enquanto a administração municipal leva adiante o plano, o clima entre ambulantes que não concordam com a saída das ruas e a Polícia Militar voltou a ficar tenso ontem. Eles protestaram em frente à sede da prefeitura e diante do prédio da Belotur, e fecharam a Praça Sete no início e no fim da tarde. Um pequeno grupo se concentrou na Rua São Paulo, esquina com Carijós, chegando a impedir a passagem de veículos. A PM usou spray de pimenta para dispersar a aglomeração, em meio à qual havia pessoas armadas com pedaços de madeira, e liberar a via. Em seguida, os próprios militares fizeram um cordão de isolamento na esquina com a Avenida Amazonas, bloqueando o trânsito. Seis viaturas, dois micro -ônibus e duas ambulâncias do Samu se concentraram no local. No fim da tarde, ambulantes saíram em passeata em direção à Praça Sete.
Agenda
Camelôs sorteados deverão comparecer à Rua Dom Cabral, 765, Bairro Ipiranga, Região Nordeste de BH, para assinar o termo de ingresso no sistema criado pela prefeitura. O atendimento será feito de segunda a sexta-feira da semana que vem, das 9h às 17h. Todos devem estar munidos de identidade, CPF e comprovante de residência.