Ações ousadas e violentas de organizações criminosas vêm espalhando terror entre a população, principalmente em cidades do interior de Minas Gerais. No intervalo de apenas 40 dias, pelo menos sete crimes registrados no estado evidenciaram o poder das quadrilhas, que atacaram transportadores de valores, agências bancárias e postal, em uma nova explosão de ataques do tipo. As estratégias de intimidação são velhas conhecidas da polícia: a invasão de cidades com pequeno efetivo policial e em um dos casos o sequestro de familiares de bancário. Somente ontem foram três ocorrências. Na mais violenta, em Santa Margarida, na Zona da Mata, um grupo armado matou um policial e um vigia em tiroteio. Em BH, parentes de uma funcionária da Caixa Econômica Federal foram rendidos em outra ofensiva de ladrões. Já em Arceburgo, no Sul de Minas, o alvo foi a unidade dos Correios, onde houve cerco policial e ameaça a reféns (veja quadro).
Um cerco foi armado na região, enquanto os criminosos fugiam em direção à zona rural com os reféns. Por volta das 12h, a caminhonete, uma Fiat Toro, foi encontrada, abandonada no mesmo local em que as vítimas foram liberadas. Em um matagal próximo a polícia encontrou várias armas e munição.
As primeiras informações do local eram de que oito criminosos estavam envolvidos na ação, mas a Polícia Militar confirmou nesta terça que eram quatro, conforme consta no boletim de ocorrência. De acordo com a Polícia Civil, os homens presos na operação de ontem foram identificados como Josimar Pereira Rodrigues, 30 anos, Sirlande da Silva Ferreira, de 27 anos, e Wesley Rosa Firmino, de 21. Eles foram presos em flagrante por latrocínio, sequestro e associação criminosa.
Na noite passada, antes do registro do BO, a Polícia Militar divulgou o nome Silvonei da Silva Ferreira, de 30 anos, como um dos três detidos. Mas, nesta terça, tanto a PM quanto a Polícia Civil informaram que esse nome não consta entre os envolvidos na ocorrência. O quarto suspeito, que está foragido, tem 34 anos. Na ação foram apreendidas três armas calibre 12, uma submetralhadora, dois coletes à prova de balas e toucas ninjas.
A PM enviou uma equipe do Batalhão de Operações Especiais e três aeronaves para as buscas na região. Os comandos regionais das polícias Civil e Militar fizeram operação de bloqueio em estradas da área. Além da população, a ação criminosa em Santa Margarida provocou revolta entre policiais militares. Para o major Flávio Santiago, chefe da Sala de Imprensa da PM, o cabo assassinado tentou proteger os reféns. “Em análise do vídeo, percebemos que o policial se desloca e, no momento em que vê o veículo, arrefece, possivelmente por ter visto o refém, momento em que tenta recuar e recebe o tiro. Ele quis proteger os reféns, pois se disparasse poderia atingi-los”, disse. “O policial precisa ter o reconhecimento da sociedade, pois defende as pessoas com o sacrifício da própria vida”, completou.
O cabo assassinado foi definido como “um homem dedicado à família e um policial sempre comprometido” por seu sobrinho e colega de farda, o também cabo Emerson Amaral, de 30. Para o militar, o tio morreu pela dedicação às regras da corporação. “Ele recuou, mas retornou na tentativa de proteger os reféns. E tenho para mim que não atirou para preservar aquelas pessoas; foi assassinado, sem chance de defesa. Nós, policiais, somos treinados para preservar vidas de inocentes e penso que foi isso o que ele fez, cumprindo seu dever, com coragem.” (Com informações de Cristiane Silva)
MIGRAÇÃO Mesmo com a redução de 6,1% em média nos crimes violentos, cidades de Minas Gerais continuam sofrendo com ações criminosas. Em seis das 19 regiões integradas de Segurança Pública, os indicadores se mantêm em alta. Levantamento do Estado de Minas mostra que, desde março, nove ocorrências graves foram registradas no estado. A PM admite que há migração de crimes para o interior. Por isso, tem investido no reforço no policiamento em algumas cidades. “A interiorização do crime já é percebida. O comandante-geral da PM, coronel Helbert Figueiró, ao assumir, avisou sobre esse reforço. Na última turma de policiais formados, houve um privilégio para o interior. Mais de 700 viaturas também foram distribuídas nesse sentido”, explicou o major Flávio Santiago.
PALAVRA DE ESPECIALISTA
Luiz Flávio Sapori, coordenador do Centro de Pesquisas de Segurança Pública da PUC Minas
Mais inteligência e investigação
“Nos últimos 10 anos, esse tipo de crime aumentou e atinge todas as regiões do país. Inclusive, foi apelidado de ‘novo cangaço’. Isso ocorre porque o Brasil melhorou economicamente e mais dinheiro circula nos bancos. Nas cidades do interior, o policiamento é pequeno e, com isso, abre-se uma oportunidade grande para os criminosos. Com a facilidade do contrabando de armas, essas quadrilhas adquirem armamento pesado para agir. Apenas inibindo esse comércio ilegal e prendendo bandos especializados será possível reduzir esse tipo de crime. Faltam ações do governo federal para a integração das policiais, além de uma investigação inteligente. Às vezes, a mesma quadrilha pratica o roubo em cidades diferentes. Por isso precisamos trabalhar com coleta de dados e troca de informações entre as políciais estaduais. Isso não pode ficar a cargo apenas do delegado da cidade do interior.”
Geografia do crime
Confira outros ataques recentes de assaltantes de banco em Minas
» Belo Horizonte – Ontem
A família de uma funcionária da Caixa Econômica Federal foi feita refém por criminosos no Bairro Céu Azul, região da Pampulha. Segundo informações extraoficiais obtidas pelo Estado de Minas, a tesoureira da agência, o marido, e os filhos – um menino de 11 anos e uma menina de apenas 4 – foram surpreendidos por volta das 6h por assaltantes que exigiam da funcionária que pegasse uma quantia em dinheiro no cofre do banco. Ela chegou a ir à agência, mas não conseguiu pegar o resgate devido aos sistemas de segurança. As vítimas foram liberadas no fim da manhã. A Polícia Federal foi acionada.
» Arceburgo – Ontem
Clientes e funcionários de uma agência dos Correios do município, de 10 mil habitantes, no Sul de Minas, foram feitos reféns por dois ladrões. Os criminosos foram surpreendidos por militares do pelotão da cidade quando atacavam o estabelecimento e mantiveram 12 pessoas sob mira de armas. Com apoio de PMs de localidades vizinhas, a agência foi cercada e os ladrões, de 21 e 22 anos, acabaram se rendendo. Acredita-se que um terceiro envolvido que dava cobertura em um veículo tenha conseguido escapar.
» Barra Longa – 8/7/2017
Por volta das 3h45, criminosos armados chegaram em uma agência do Banco do Brasil na cidade da Zona da Mata. Parte do grupo cercou o quartel da Polícia Militar, enquanto o restante estourou os caixas eletrônicos. Mais de 10 tiros foram disparados pela quadrilha durante a ação. Para dificultar o trabalho da polícia, eles queimaram uma caminhonete em uma ponte da cidade durante a fuga. Suspeita-se de que tenha sido o mesmo grupo que atacou em Chalé e ontem, em Santa Margarida, ambas na mesma região.
» Chalé – 5/7/2017
Pelo menos oito criminosos armados chegaram à cidade da Zona da Mata por volta das 3h. De acordo com a Polícia Militar, o bando estava em um Corsa sedã e uma Montana. Parte dos bandidos cercou o quartel e jogou uma bomba no portão. Eles ameaçaram os policiais, ordenando que ninguém saísse, pois iriam atirar. Enquanto isso, outra parte da quadrilha explodia caixas eletrônicos do Banco do Brasil, roubava o cofre de uma agência dos Correios e atacava terminais da agência do Sicoob. Ninguém foi preso.
» Uberaba – 3/7/2017
Câmeras de segurança do posto Graal na cidade do Triângulo Mineiro flagraram a ação de quatro homens com toucas ninjas e coletes à prova de balas, armados com fuzis e pistolas semiautomáticas, que assaltaram um carro-forte, roubando R$ 310 mil. Segundo a Polícia Militar, vigilantes da empresa de segurança Rodoban foram surpreendidos pelos criminosos enquanto abriam um caixa eletrônico para abastecê-lo de dinheiro. A Polícia Civil investiga se o crime foi praticado por uma quadrilha que praticou ação parecida na região.
» Juiz de Fora – 1º/6/2017
Uma quadrilha roubou R$ 9 milhões de uma transportadora de valores na cidade da Zona da Mata de Minas. O bando sequestrou o gerente da empresa Brinks, a mulher dele, um casal de amigos, um segurança da empresa e cinco outras pessoas. Ao mesmo tempo, a outra parte do grupo manteve em cativeiro a enteada do gerente, em Contagem, Grande BH. Eles passaram a noite inteira com os reféns e, pela manhã, foram até a empresa, de onde levaram todo o dinheiro que estava no cofre. Dois integrantes do grupo foram presos. Os ladrões são suspeitos de atacar a sede de uma empresa do mesmo ramo no Paraguai, de onde levaram
US$ 8 milhões.
» Unaí – 22/5/2017
Um carro-forte foi alvo de ladrões próximo ao km 25 da BR-251, no Noroeste de Minas. Homens encapuzados explodiram o veículo e roubaram parte do dinheiro que era transportado para Brasília. Segundo relato do motorista aos policiais, os vigias foram surpreendidos por tiros contra o veículo. O condutor contou que tentou sem sucesso controlar o carro, que tombou. A equipe foi obrigada a deixar o blindado por mais tiros e uma explosão.
» Medina – 12/3/2017
Uma quadrilha aterrorizou a cidade do Vale do Mucuri, quando pelo menos oito assaltantes invadiram agências de três bancos do município e dispararam vários tiros enquanto tentavam retirar dinheiro dos caixas eletrônicos de agências do Bradesco, Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal. Imóveis como a delegacia e até o quartel da PM foram alvejados. Uma viatura da Polícia Civil recebeu vários tiros. Um morador da cidade foi ferido com um tiro no braço.