Jornal Estado de Minas

Iniciativa de pais contra ensino de diversidade sexual e gênero em escola de BH divide opiniões

A notificação extra-judicial enviada por 128 pais de alunos das unidades do Colégio Santo Agostinho na Grande BH gerou grande repercussão.

O documento contesta a inserção do ensino da diversidade de gênero e sexual aos alunos nas disciplinas de Ensino Religioso e Ciências.

O assunto vinha sendo discutido nas redes sociais na última semana mas ganhou destaque nessa segunda-feira com a publicação de uma reportagem no em.com.br sobre o assunto. O conteúdo teve alcance de 181.059 pessoas, além de 2.365 curtidas, 1.462 comentários e 462 compartilhamentos nas mídias sociais dos veículos do Diários Associados. 

Entre as centenas de comentários, há pessoas contrárias e favoráveis à postura do grupo de pais e do Colégio Santo Agostinho.

Em um dos comentários, a mãe de uma aluna da instituição condenou a notificação extra-judicial: "Essa carta representa um retrocesso. Discutir sobre sexualidade e diversidades de gênero é importantíssimo pra formação de um cidadão, é ensinar o respeito e ajudar num melhor entendimento do próprio corpo. Eu sou mãe de uma estudante do CSA unidade BH e tudo o que tenho com o colégio é gratidão. Esse é o último ano dela no colégio e me orgulho em dizer que a mulher que ela está se tornando foi formada em um trabalho conjunto, de casa e escola. Achei a carta absurda e incompatível com a época em que vivemos." 

Um homem afirmou, em comentário, que a postura adotada pelo colégio pode ajudar na construção de uma sociedade sem preconceito.
"Gênero e orientação sexual tem respaldo cientifico. Claro que tem que estar na academia. E lidar com isso o mais cedo possível evita crianças de se tornarem adultos misóginos e homofóbicos. Toda a sociedade ganha."

Por outro lado, a notificação foi exaltada por outras pessoas, como em um comentário feito por uma leitora do em.com.br: "Sou completamente contra a ideologia de gênero nas escolas. A escola deve ater-se à aplicação de ensinos que lhe dizem respeito, a educação referente a este quesito deve ser orientada pela família, pais e responsáveis. Não podemos deixar que a escola ocupe um lugar que não lhe pertence, ou eduque nossos filhos em confronto aos nossos pensamentos".

Um outro leitor foi ainda mais enfático ao comentar a postura dos pais.
"Eles têm toda razão, eu tiraria meu filho imediatamente dessa escola."

Carta à comunidade 


Na comunidade escolar do Colégio Santo Agostinho, o assunto também foi repercutido. A instituição divulgou no site oficial, na noite dessa segunda-feira, uma carta aberta comentando que a atitude adotada pelo colégio está dentro do "projeto pedagógico, fundamentado nos princípios cristãos, católicos e agostinianos, contemplando a sociedade pluralista em que vivemos, abordando, de forma dialogal e respeitosa, os desafios do mundo contemporâneo."

Ainda no texto, assinado pela Sociedade Inteligência e Coração (SIC), mantenedora do Santo Agostinho, a instituição destaca a função da escola em ser "um espaço coletivo construído pela relação entre as pessoas, no qual todos os indivíduos devem ser respeitados em sua singularidade. Essa pluralidade pode e deve coexistir em harmonia." 

Confira o texto na íntegra: 
 
"A Sociedade Inteligência e Coração (SIC), mantenedora do Colégio Santo Agostinho (unidades Belo Horizonte, Contagem e Nova Lima), recebeu uma notificação extrajudicial hoje, dia 10/07/17, contendo 128 nomes, questionando a abordagem de alguns temas adotados pela escola. Consideramos importante apresentar esclarecimentos.

O Colégio Santo Agostinho é responsável pela educação de cerca de 8 mil alunos de diferentes realidades e crenças. Nosso projeto pedagógico, fundamentado nos princípios cristãos, católicos e agostinianos, contempla a sociedade pluralista em que vivemos, abordando, de forma dialogal e respeitosa, os desafios do mundo contemporâneo. Primamos pelo respeito à liberdade e apreço à tolerância, orientações fundamentais estabelecidas na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (artigo 3º da Lei 9.394).

A escola é um espaço coletivo construído pela relação entre as pessoas, no qual todos os indivíduos devem ser respeitados em sua singularidade. Essa pluralidade pode e deve coexistir em harmonia.

Com uma trajetória de 83 anos em Minas Gerais, amparado pela tradição de sete séculos da Ordem de Santo Agostinho, o Colégio ressalta sua sintonia com o magistério do Papa Francisco, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), a Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano e Caribenho e as orientações pastorais da Arquidiocese de Belo Horizonte.

Sendo assim, continuaremos seguros em nossa missão de criar condições para que os alunos possam protagonizar sua própria formação integral (integrada, crítica e criativa), com autonomia e responsabilidade. Para tal, contamos com uma equipe de professores altamente qualificados.

Repudiamos o uso de interpretações equivocadas por aqueles que têm como objetivo distorcer nosso projeto pedagógico.

Reafirmamos o nosso compromisso educacional pautado nos valores agostinianos: solidariedade, fraternidade, amizade, subsidiariedade e justiça.

Agradecemos aos 11 mil pais e responsáveis que dividem a formação de seus filhos conosco."

Atenciosamente,

Sociedade Inteligência e Coração - SIC
Mantenedora do Colégio Santo Agostinho 

Pais reafirmam preocupação com o ensino


Os pais, por sua vez, responderam à carta aberta enviada pelo colégio com um comunicado que está sendo compartilhado em uma rede social nesta terça-feira.
No texto, os responsáveis pelos alunos afirmam "o tema é complexo e exige uma preparação diferenciada do corpo docente, que não sabemos se está sendo realizada. Isso causa insegurança e a própria escola já alterou orientação na adoção de alguns livros ante o tratamento inadequado da matéria."
 
No comunicado, é feito um convite aos demais pais de alunos do Colégio Santo Agostinho, "a observarem e conversarem com seus filhos. Convidamos, ainda, a que todos estudem o assunto mais profundamente antes de tirar conclusões precipitadas." 
 
Leia o texto feito pelos pais na íntegra:
 
Caros pais, 

Tendo em vista a circulação de uma notificação extrajudicial que está sendo entregue à Direção das três unidades do CSA, temos o seguinte a esclarecer.

1-  O que nos move, nesse primeiro momento , é o direito individual , constitucionalmente garantido , de educarmos nossos filhos;
2- Infelizmente , em algumas séries e de forma diferenciada  nas três unidades, diversos pais observaram que os estudos de matérias afetas à sexualidade e ideologia de gênero estão amplamente sendo difundidos no Colégio , que, até então , tem se negado a confessar e dialogar abertamente e de forma transparente com os pais que são contra a inserção desse conteúdo no ambiente escolar;
3- Ressaltamos que não queremos embate com a escola, apenas transparência, mesmo porque, estamos amparados pelo Código de Defesa do Consumidor nesse sentido. Ora, vamos conversar sobre o assunto? Por que a adoção sem debate? 
4 - Ademais, o tema é complexo e exige uma preparação diferenciada do corpo docente, que não sabemos se está sendo realizada. Isso causa insegurança e, a própria escola, já alterou orientação na adoção de alguns livros ante o tratamento inadequado da matéria ;
5- Portanto, sem mais nos prolongarmos nesse momento, convidamos a todos os pais a observarem e conversarem com seus filhos. Convidamos, ainda, a que todos estudem o assunto mais profundamente antes de tirar conclusões precipitadas. 

Agradecemos a compreensão, somos todos pais buscando o melhor para nossos filhos.
Julho/2017 

 
Abaixo-assinado em favor do ensino sobre diversidade sexual e de gênero


Na contramão do que foi dito pela notificação extra-judicial, um grupo de pais, usando as hashtags #somostodossantoagostinho e #128não me representa, criou nessa segunda-feira um abaixo-assinado na internet em apoio ao Colégio Santo Agostinho e ao ensino sobre a diversidade sexual e de gênero

"Nós, pais, que apoiamos o Colégio Santo Agostinho e os profissionais que nela atuam, acreditamos na conduta da escola ao apresentar para meus filhos visões que não temos ou não conhecemos por culpa da tal ótica limitada inerente a nossa capacidade humana de só conseguirmos ver a vista de um ponto de cada vez."

Até a publicação desta matéria, o abaixo-assinado contava com 71 assinaturas.

* Sob supervisão do editor Benny Cohen

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