Falta de documentação e de informações impediram que os primeiros camelôs sorteados pela Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) ocupassem ontem as 250 vagas preliminares preparadas no Shopping Uai, no Centro de Belo Horizonte, e voltassem a trabalhar. Nenhum dos agraciados conseguiu começar ainda, deixando o local onde deveriam se instalar completamente vazio, apenas com os armarinhos de madeira que lhes servirão de boxes. O local receberá, ao todo, 676 trabalhadores. Ao mesmo tempo, a apreensão é muito grande no Shopping Uai, O Ponto, em Venda Nova, onde 871 ambulantes foram sorteados para iniciar hoje seus trabalhos. Contudo, além de ficarem no andar mais baixo e de nem sequer haver boxes próprios para eles, os próprios lojistas e funcionários do espaço afirmam que será difícil a nova turma obter sucesso lá devido às calçadas da porta do empreendimento estarem infestadas de camelôs ilegais.
O camelô Rafael Rodrigues dos Santos, de 32 anos, foi um dos que procurou o shopping, mas nem sequer sabia se tinha sido sorteado. “Deixei meu nome lá, mas não consegui saber até agora se vou ter direito a um box. Ninguém soube me informar, então, vim até o shopping para ver se conseguiria informações. Por enquanto estou assim, sem saber para onde ir e trabalhando na rua correndo deles (fiscalização)”, disse.
Segundo o administrador do empreendimento, Gustavo Cordeiro, um posto de informações será instalado hoje para auxiliar os camelôs. “As pessoas tinham de ter vindo com a documentação da PBH pronta. Sem isso, não há condições de assumir o posto aqui”, afirma.
Os móveis que o Shopping Uai posicionou para os camelôs foram alvos de muitas críticas por serem pequenos cubos de madeira sem trancas e que estão muito apertados, uns juntos aos outros. “Não tem espaço para os clientes circularem para ver nossas mercadorias. A gente vai trabalhar muito apertado com outro vendedor do box de trás. Eu, que vendo películas, capinhas e acessórios para celular preciso de espaço para o cliente parar, experimentar se minha mercadoria serve no seu aparelho, mas não tem espaço para isso”, reclama Thales dos Santos.
O administrador do espaço diz que trancas podem ser instaladas nos boxes e que estas são estruturas provisórias, que aguardam a aprovação da lei municipal sobre o assunto. “É preciso que os camelôs venham e ocupem seus espaços para que possamos adaptar o que temos às suas necessidades de espaço e estrutura”, disse Cordeiro.
No Uai Venda Nova, por enquanto só há marcações de boxes no solo. A expectativa da gerência é de que os próprios comerciantes tragam suas estruturas para ocupar seus espaços, até que possam chegar os boxes encomendados, em até um mês. Mas os próprios funcionários estão descrentes com a vinda dos camelôs. “Enquanto os camelôs e toreros continuarem aqui na porta do shopping, vendendo ilegalmente, não tem motivo para ninguém vir trabalhar aqui dentro”, disse um dos funcionários sob a condição de não revelar seu nome.
Segundo a Secretaria Municipal de Serviços Urbanos da PBH, o prazo final para acomodar todos os camelôs sorteados é de até sexta-feira. Sobre as reclamações a respeito do tamanho dos boxes, segundo a PBH, o objeto segue o tamanho previsto no edital, que prevê “áreas de no mínimo 1m² (um metro quadrado) para cada camelô”. Sobre a denúncia de camelôs em frente ao Shopping Ponto Uai Venda Nova, a PBH informa que “a fiscalização continua acontecendo em todas as regionais”. Essas pessoas podem ter a mercadoria apreendida, conforme previsto no Código de Postura do município.