Jornal Estado de Minas

Especialista cobra inteligência para desarticular quadrilhas em Minas

Nas proximidades do banco, marcas de tiros denunciam violência do ataque - Foto: Polícia Militar/DivulgaçãoNem mesmo a repercussão e o cerco policial montado depois do violento crime que vitimou um cabo da Polícia Militar e um vigilante do Banco do Brasil em Santa Margarida, na Zona da Mata mineira, intimidaram quadrilhas especializadas em ataques a agências bancárias no estado. Após a tragédia, ocorreram em Minas pelo menos mais três episódios, levando prejuízo e pânico a cidades do interior. O último deles aconteceu ontem, em Coromandel, no Alto Paranaíba, onde assaltantes armados com fuzis explodiram caixas eletrônicos da agência da Caixa Econômica Federal e trocaram tiros com policiais por cerca de 10 minutos. Na terça-feira, o alvo foi Matias Cardoso, no Norte de Minas, onde criminosos também atacaram uma agência bancária com explosivos. Em Tabuleiro, na Zona da Mata, uma unidade dos Correios que funciona como posto de serviços bancários foi assaltada no mesmo dia. Apesar de a Polícia Militar já ter anunciado aumento de efetivo e da frota de viaturas no interior, além de investimento em ações de inteligência, especialista ouvido pelo Estado de Minas afirma que trabalho para combater ataques será inócuo se não houver investimento maciço em investigação e desarticulação de quadrilhas.


No caso de ontem, câmeras de segurança registraram parte da ação dos bandidos. Segundo a PM, pelo menos seis homens foram vistos em um Corolla prata antes de se dividir: parte do grupo foi explodir a agência, enquanto outros ladrões davam cobertura aos comparsas na rua. A PM informou que os assaltantes usavam fuzis 762 e 556, além de armas de calibre 12.
Com a chegada de militares ao local  houve intensa troca de tiros. Porém, ninguém se feriu e o bando fugiu usando a estrada em direção a Paracatu, no Noroeste do estado. No momento da fuga, os bandidos jogaram pelo caminho “miguelitos”, como são conhecidos objetos feitos com pregos para furar pneus. Uma das viaturas policiais foi avariada. Ninguém foi preso.

Na avaliação do coordenador do Centro de Pesquisa em Segurança Pública da PUC Minas, Luis Flávio Sapori, o combate aos ataques a agências bancárias, classificados por ele como de difícil repressão, só terá efeito a partir de um forte trabalho de desarticulação das quadrilhas. “Esse tipo de crime aproveita as fragilidades de cidades pequenas, onde a presença policial é, obviamente, menor que nas cidades de médio e grande portes. Mas aumentar o contingente policial não vai resolver o problema, porque as quadrilhas estarão sempre em vantagem.
A solução para esses crimes passa por um trabalho intenso de coleta de informações, investigação e desarticulação dos grupos organizados”, afirma. Para isso, é necessária uma postura ativa de outros órgãos públicos, como a Polícia Civil e o Ministério Público, por exemplo.

INTEGRAÇÃO Chefe da Sala da Imprensa da PMMG, o major Flávio Santiago afirmou que o alto comando da corporação já vem investido em frentes que resultaram na redução de 34% no número de explosões de caixas eletrônicos em Minas nos seis primeiros meses deste ano em relação ao mesmo período do ano passado. A lista de medidas inclui aumento do efetivo policial, da frota de viaturas e de armamentos, com prioridade para os destacamentos do interior, além de melhorias nos sistemas de comunicação e inteligência.

Segundo ele, a PM já mantém um trabalho integrado com a Polícia Civil e o MP. Mas o oficial afirma que a integração ocorre de forma proporcional, já que essas instituições não estão presentes em todos os municípios, como ocorre com a PM. “Sempre podemos pensar num cenário melhor de unificação”, diz o major. O porta-voz da corporação lembra ainda que a população das cidades do interior podem contribuir na prevenção de crimes, denunciando pessoas estranhas que cheguem em atitude suspeita a essas localidades. “Como os integrantes dessas quadrilhas são, normalmente, de outras cidades ou estados, eles chegam inicialmente nos municípios-alvo para mapear e planejar a ação criminosa”, afirma o major.

Em nota, a Polícia Civil informou que trabalha em conjunto com as demais forças de segurança e com o Ministério Público para combater diversos crimes, inclusive os de explosão de caixas eletrônicos. “O combate a essa modalidade criminosa está sendo tratado como prioridade dentro da instituição”, informa o documento.
Sobre o trabalho de investigação do caso de Santa Margarida, a corporação informou que as buscas continuam e que até o fim da tarde de ontem o quarto suspeito, identificado como Daniel Rodrigues Aguiar, de 34 anos, ainda não havia sido localizado. Equipes da Civil e da PM de Manhuaçu continuam em Santa Margarida e região na tentativa de prender o acusado de participar do assalto ao banco. O MP foi procurado, mas nenhum de seus representantes comentou o assunto.

Investida matou cabo e vigilante

 

A ação ousada dos criminosos em Santa Margarida ocorreu à luz do dia. Por volta de 9h, criminosos armados com espingardas calibre 12 e fuzis 556 assaltaram uma agência do Banco Sicoob. Em seguida, seguiram para o Banco do Brasil, onde houve troca de tiros e dois vigilantes foram baleados. Um deles, Leonardo José Mendes, morreu e outro foi encaminhado para o hospital. Os criminosos fizeram duas pessoas reféns e fugiram em uma caminhonete. As vítimas foram colocadas na caçamba do veículo e serviram de escudo para os bandidos. Na fuga, os assaltantes trocaram tiros com policiais militares.

O cabo Marcos Marques da Silva, de 36 anos, foi baleado e morreu na hora.

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