As discussões em torno da polêmica envolvendo um grupo de 128 pais contrários aos ensinamentos de diversidade sexual e de gênero por parte do Colégio Santo Agostinho nas disciplinas de ensino religioso e ciências ganharam mais um capítulo nesta quinta-feira.
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Favoráveis à postura do colégio, os alunos manifestaram apoio aos docentes da instituição e questionaram a atitude dos pais: "Com o que os senhores estão realmente preocupados? Com a vontade de manter seus filhos isolados de tudo aquilo que diverge do que lhes foi ensinado ou com o fornecimento de ensinamentos extremamente relacionados à convivência em comunidade e respeito ao diferente?"
Pais se reúnem para debater o assunto
O grupo de pais que assinaram a notificação extrajudicial vai se reunir nesta quinta-feira em um hotel em Nova Lima, na Grande BH. O intuito da reunião, segundo informado pelos organizadores, é prestar mais informações sobre as discussões e questionamentos acerca das aulas em torno do tema no Colégio Santo Agostinho.
Os pais que ainda não assinaram e que desconhecem o debate também foram convidados a participar da reunião. O grupo também se mobiliza pelas redes sociais. Uma página intitulada "Pais que educam" foi criada no Facebook e tem as informações detalhadas da notificação enviado ao colégio. Um site também deverá ser criado em breve pelos responsáveis contrários às medidas pedagógicas adotadas pela instituição.
Outro grupo de pais, no entanto, lançou um abaixo-assinado pela internet em apoio à escola, denominado "Eu concordo".
Leia a carta dos alunos na íntegra:
Carta aberta dos alunos Agostinianos em resposta aos senhores pais redatores e signatários da carta crítica ao ensino do Colégio Santo Agostinho
Não somos capazes de mensurar nosso espanto ao ler, há algum tempo, a carta aberta extrajudicial – posteriormente transformada em um “abaixo assinado” – redigida com o objetivo de criticar os ensinamentos do Colégio Santo Agostinho.
Há alguns dias, tomamos conhecimento desse documento, que apresentava críticas ao ensino de assuntos relativos à sexualidade, à ideologia de gênero e à igualdade de gênero. Pouco depois, buscamos tomar conhecimento dos textos aludidos na carta, de forma que averiguamos o livro de Ciências do 6º ano e o livro de contos “As mentiras que os homens contam”, de Luís Fernando Veríssimo. Ao contrário do que nos parecia ao lermos a carta, o conteúdo dos textos citados (principalmente com relação ao livro didático) nada apresentavam além daquilo inclusive defendido pela Unesco: o debate sobre educação de gênero e sexualidade é, evidentemente, essencial para uma educação mais inclusiva e de qualidade.
No que tange ao conto “O Dia da Amante”, de Luís Fernando Veríssimo, fez-se parcialmente compreensível o sentimento de indignação apresentado por pais de alunos da Instituição, já que esse texto apresenta uma abordagem muito complexa e densa para pré-adolescentes. É importante, por outro lado, ressaltar que o conto em questão não havia sido selecionado para leitura pela professora que requisitou a aquisição do livro. Diante dessa perspectiva, surge a seguinte questão: até que ponto a escolha de um livro de contos, onde os textos que deveriam ser lidos foram selecionados, realmente torna-se uma afronta à autonomia parental na escolha dos ensinamentos fornecidos a seus filhos?
Em relação ao livro de Ciências, as críticas dos senhores pais são pueris e não merecem qualquer crédito. Nesse livro didático, a orientação sexual, a sexualidade, a identidade de gênero e o sexo biológico são abordados de maneira inteiramente coerente com a mentalidade de um aluno do Ensino Fundamental II, a partir de textos que exaltam a tolerância e a diversidade. O ensino ao respeito às diferenças é um dos principais pilares que regem a educação tanto Agostiniana quanto de inúmeros colégios que seguem a doutrina católica, tendo em vista a importância da família e da escola para a formação moral do aluno.
Frente aos questionamentos feitos pelos pais, portanto, nós, alunos do Colégio Santo Agostinho de Belo Horizonte concluímos que a discussão relacionada à sexualidade e à identidade de gênero é fundamental na desconstrução dos incontáveis tabus presentes na vida adolescente e, principalmente, na aceitação tanto própria quanto externa quando se tratando da homossexualidade, bissexualidade e transexualidade. A tentativa de impedimento das exposições acerca da realidade social baseada na discordância quanto à abordagem aproxima-se até mesmo da censura.
Além disso, fica nosso apoio e agradecimento a todos aqueles professores do Colégio Santo Agostinho que, preocupados com a formação de nosso caráter além de nosso intelecto, nos possibilitou cruciais reflexões responsáveis por nosso crescimento e amadurecimento como seres humanos altruístas.
Aos pais, fica a reflexão: com o que os senhores estão realmente preocupados? Com a vontade de manter seus filhos isolados de tudo aquilo que diverge do que lhes foi ensinado ou com o fornecimento de ensinamentos extremamente relacionados à convivência em comunidade e respeito ao diferente?
Com o tempo, vocês descobrirão, como nós, que o Colégio Santo Agostinho e seu corpo docente sempre estarão disponíveis para ajudar todos os que a eles recorrerem em busca de evolução pessoal.
Alunos da Terceira Série do Ensino Médio do Colégio Santo Agostinho- Unidade Belo Horizonte