Jornal Estado de Minas

BHTrans mapeia 22 cruzamentos de risco para o pedestre na Avenida do Contorno

Inaugurada com o nome de 17 de Dezembro, a Avenida do Contorno foi projetada no fim do século 19 pelo engenheiro Aarão Reis (1853-1936), chefe da equipe construtora de Belo Horizonte, para ser a divisa entre a zona urbana e a rural da nova capital de Minas. Mas o corredor só saiu em definitivo do papel na década de 1920, e ainda hoje, quase 100 anos depois, tem uma fragilidade relevante para o trânsito. E ela expõe a parte mais vulnerável da mobilidade urbana: o pedestre.

A BHTrans constatou que 22 cruzamentos da Avenida do Contorno não contam com faixa de travessia no asfalto ou o semáforo luminoso para pedestre ou ambas as estruturas. Entre os exemplos há interseções com intenso fluxo de veículos e pessoas, como na encruzilhada com as ruas Santa Catarina e Carangola, ambas na Região Centro-Sul.

O diretor de Sistema Viário da BHTrans, José Carlos Mendanha Ladeira, disse que a prefeitura pretende sanar o problema até o fim de 2018. “É preciso recursos e o dinheiro virá do Mobicentro, financiado pelo Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG)”.

O Mobicentro, ao qual o dirigente se refere, é um programa com algumas fases já implantadas pelo município, que tem como meta melhorar a mobilidade na área central da capital, para garantir tanto segurança quanto agilidade aos pedestres e motoristas que transitam pelo Hipercentro. Parte do projeto foi a mudança na direção do fluxo de veículos em vias no entorno da Praça Sete, no cruzamento mais movimentado da capital, encontro das avenidas Afonso Pena e Amazonas, e no Barro Preto, também na Região Centro-Sul.

Justamente no Barro Preto fica um dos 22 cruzamentos em que faltam faixa de pedestre e sinal de travessia. A Rua Tenente Brito Melo, próximo ao depósito da Asmare, é uma das vias que precisam das duas estruturas. “A travessia ficará mais segura”, afirmou o comerciante Paulo Roberto Lima, que trabalha no bairro e passa pelo local de segunda-feira a sábado.

A outra extremidade da Tenente Brito de Melo também faz esquina com a Contorno, já no Bairro Santo Agostinho, próximo ao encontro da avenida com a Amazonas.
Lá também não há faixa para pedestre no pavimento, nem semáforo para pedestres. Isso complica a travessia, já que motoristas saem da Contorno e entram na via sem prestar atenção à presença de pessoas se deslocando a pé.

O risco de atropelamento cresce, sobretudo se o pedestre estiver no meio da travessia, pois a distância entre os dois passeios é grande. “É possível, mesmo estando no meio do caminho, que a pessoa não tenha tempo de a gente chegar ao outro lado”, alertou José Ananias, enquanto passava pelo local.

DÉFICIT Técnicos da prefeitura que foram a campo fazer o levantamento apuraram que cruzamentos importantes, como o da Contorno com a Rua Carangola, no Bairro Santo Antônio, também precisarão de investimento. Outro exemplo é a interseção entre a antiga 17 de Dezembro e a Rua da Bahia. Nesse caso, porém, o cruzamento conta com os dois semáforos para quem está em um dos lados da travessia da Bahia. Mas quem está na outra calçada não conta com auxílio da faixa, nem do sinal. A observação é necessária, pois os carros que sobem a Bahia podem virar à direita na Contorno.
Provavelmente, a instalação dos dois equipamentos, se ocorrer, levará à mudança no semáforo para veículos.

“Um cruzamento tem quatro lados. O ideal é que todos tenham os equipamentos, mas há lugar em que não há condição”, diz José Carlos Mendanha. Faixas e semáforos são necessários em todas as interseções, “pois não dá para confiar apenas na educação do motorista”, acrescenta o diretor da BHTrans. Conhecedor da história da capital e colecionador de curiosidades, ele conta que a Contorno foi a via usada pelos fiscais que recolhiam impostos. Hoje foi engolida pelo crescimento urbano e se transformou não apenas em movimentado corredor de tráfego, mas em um desafio para conciliar todos os personagens do trânsito na cidade.

 

Cartões-postais nos semáforos

Há 15 meses, semáforos para pedestres na Região Centro-Sul de BH recebiam contornos especiais para valorizar o turismo e o patrimônio da cidade. No lugar da tradicional silhueta iluminada pelo verde ou vermelho, desenhos das fachadas de prédios como o Teatro Francisco Nunes e o Palácio das Artes. Também há figuras que remetem à Praça da Estação e a outros cartões-postais. A mudança faz parte do projeto Cidade Revelada – Interpretação e Sinalização do Patrimônio Histórico, uma parceria entre a BHTrans e a Fundação Municipal de Cultura (FMC).

O município investiu, na época, R$ 30 mil.

 

 

Uma capital sem limites

Com área de apenas 8,9 quilômetros quadrados (km2) em seu perímetro interno, frente aos 330 km2 de toda a capital, a Contorno circunda a região central de Belo Horizonte. Seu desenho segue o traçado planejado antes da construção da cidade, em projeto que originalmente previa a urbanização apenas da área limitada pela avenida. Porém, com o intenso desenvolvimento no século 20, a mancha urbana ultrapassou esse limite muito antes do esperado, o que criou uma divisão que o observador do mapa moderno da capital percebe nitidamente. O crescimento inicial foi marcado pelo traçado do interior da avenida, que recebeu mais infraestrutura, sistemas de transporte coletivo e serviços como água, luz e esgotos. Nesse perímetro se concentrou também a maior parte do comércio, hospitais e escolas. Já a área fora desse limite cresceu de forma mais desordenada. Hoje isso fica evidente em questões como a disposição das ruas: dentro da Contorno, elas traçam quarteirões simétricos. Fora, formam um desenho bem menos organizado, com vias mais estreitas e sinuosas, que acompanham o relevo natural.

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