Longa caminhada de fé, celebração e muito ânimo. Depois de encontros em Mariana, na Região Central, São João del-Rei, no Campo das Vertentes, Campanha, no Sul de Minas, e Aparecida e Lorena (SP), foi dado, esta semana, em Caeté, na Grande BH, o passo decisivo na organização da Romaria 550 – do Santuário Nossa Senhora da Piedade a Aparecida, concebida para comemorar os 250 anos de peregrinação à ermida da padroeira de Minas, na Serra da Piedade, e o tricentenário de aparição da imagem da padroeira do Brasil, Nossa Senhora Aparecida, no Rio Paraíba do Sul (SP). Segundo o coordenador das pastorais de Cultura e de Turismo da Arquidiocese de Belo Horizonte, professor Josimar Azevedo, o trajeto de 801 quilômetros será cumprido a pé, de bicicleta, a cavalo e em 40 jipes 4x4 e quem quiser poderá participar de um projeto histórico.
A jornada de 37 dias vai passar por 38 municípios, sendo 32 em território mineiro e seis no paulista, informa Josimar, que coordenou, no Santuário da Serra da Piedade, em Caeté, o último seminário de preparação para a Romaria 550, com a presença de representantes de igrejas de cidades e distritos que integram a Arquidiocese de BH e fazem parte do Caminho Religioso da Estrada Real (Crer), entre eles Belo Horizonte, Caeté, Morro Vermelho, Antônio dos Santos, Nova Lima, Raposos e Rio Acima. “Com a romaria, será instalado o oficialmente o Crer”, disse o professor, certo da adesão de muita gente ao projeto e do entusiasmo necessário para subir serras, percorrer planícies, admirar paisagens e, claro, ter muito tempo para reflexão.
A saída a pé está prevista para 3 de setembro, do topo da Serra da Piedade, no encerramento do 2º Salão Nacional do Turismo Religioso, que será realizado desde o dia 1º. A estimativa é de que, a princípio, saiam 10 peregrinos do local, aos quais se juntarão centenas de outros para cumprir trechos. “Teremos a participação de 740 jovens ao longo do roteiro, que vão fazer pequenos trechos a pé e retornar para casa no mesmo dia”, disse Josimar, convidando os interessados a se juntarem ao grupo para celebrar as padroeiras dos mineiros e brasileiros.
LARGADA Enquanto a turma estiver caminhando, receberá outros animados peregrinos em datas diferentes. Conforme o calendário agora concluído, a partida de um grupo a cavalo será em 17 de setembro; os ciclistas pedalam a partir de 24/9; e os condutores dos veículos off road darão a largada em 1º de outubro. O encontro de todos será em 8 de outubro, em Guaratinguetá (SP), seguindo no dia seguinte para o Santuário de Nossa Senhora Aparecida, que terá a grande festa em 12 de outubro.
Ao lado da Arquidiocese de BH, participam da empreitada a Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de Minas Gerais (Fecomércio MG), Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), Sebrae Minas, Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), PUC Minas, governos de Minas e de São Paulo, com as secretarias estaduais de Turismo, e outras instituições dos dois estados.
ROMARIA Com larga experiência em caminhadas religiosas de longa distância, que inclui 6.014 quilômetros, em 2001, na Europa, em direção a Jerusalém, em Israel, o relações-públicas Cláudio Leão, de 51 anos, é um dos peregrinos que vão partir da Romaria 550, da Serra da Piedade a Aparecida. “O Crer significa uma experiência muito importante e temos que ter uma preparação física para percorrê-lo. Serão, em média, 20 quilômetros por dia, com duração entre quatro e cinco horas”, diz o morador do Bairro Gutierrez, na Região Oeste de BH. Entre as boas lembranças de caminhada ele cita o Caminho de Santiago de Compostela.
Na tarde de ontem, na Praça Carlos Chagas, mais conhecida como Praça da Assembleia, na Região Centro-Sul de BH, ele disse que jornadas desse tipo são fundamentais para o autoconhecimento e reflexão. “Trata-se de um mergulho interior, com muitas horas para enfrentarmos nossos fantasmas”, afirma o relações-públicas, que espera contar com cerca de mil pessoas na chegada final a Aparecida (SP). “Repouso e alimentação, durante o período de romaria, são imprescindíveis”, faz questão de ressaltar.
“O mais importante não é a chegada, e sim a caminhada. Afinal, nós, seres humanos, temos um corpo e nossa respiração”, refletiu Edésio. A jornada histórica da Serra da Piedade a Aparecida pelo Crer teve apoio do Núcleo de Estudos e Pesquisas em Pastoral da Cultura (Nepac), da PUC Minas.
Trilhando a pé em média 24 quilômetros por dia, num tempo de seis a sete horas – das 6h às 13h –, os dois amigos, ambos aposentados, consideraram a experiência “indescritível”, em especial pela paisagem e pelas pessoas encontradas durante a travessia. Eles citam como de grande beleza os trechos entre Raposos e Rio Acima, na Região Metropolitana de BH, o acesso a Itabirito, a estrada que vai do distrito de São Bartolomeu, em Ouro Preto, na Região Central, à sede do município e a descida da Serra da Mantiqueira, no Sul do estado. “Há lugares sublimes, entre eles as lagoas de Caxambu e São Lourenço, a Serra de Carrancas, a travessia de balsa entre Caquende e Capela do Saco”, contou José Eustáquio. Os dois saíram da Serra da Piedade em 22 de maio de 2016..