Jornal Estado de Minas

Moradores do interior de Minas falam sobre o medo de assaltos: "Estamos aterrorizados"

- Foto: Marcelo Sant'Anna/EM/DA Press - 11/1/7Grão Mogol – A população do município de 15,8 mil habitantes no Norte de Minas sempre levou uma vida pacata. Na cidade, ainda é mantido velho hábito de se deixar as janelas abertas, mas os moradores de Grão Mogol já não têm a mesma tranquilidade de antes. A mudança mais drástico ocorreu na madrugada de 7 de junho, quando um grupo fortemente armado, com pelo menos oito integrantes, explodiu a agência local do Banco do Brasil e levou todo dinheiro que encontrou no cofre. O bando espalhou terror cidade, mantendo pessoas reféns e fazendo disparos contra o pelotão da PM, que tinha efetivo de três policiais de plantão.

“Estamos aterrorizados e inseguros”, afirma Benedito Pereira Souza, comerciante que mora ao lado do banco atacado pelos bandidos, no Centro de Grão Mogol. Passado mais de um mês da ação criminosa, a agência continua fechada, aguardando a conclusão da reforma e sem previsão para voltar a funcionar. Isso causou um grande prejuízo ao comércio local, já que o Banco do Brasil é o principal responsável pelos pagamentos a aposentados e servidores públicos, que movimentam a economia da cidade. Os saques foram transferidos para as vizinhas Cristália, Francisco Sá e Salinas. “O comércio teve queda quase de 80%.
As pessoas vão para outra cidade para receber os pagamentos e lá fazem as compras”, lamenta Benedito Pereira.

ALVO FÁCIL A situação de medo e o pavor provocados por assaltantes de bancos entre pessoas que antes levavam uma vida tranquila se repete em outras cidades do Norte de Minas. Pequenas cidades da região viraram alvo das quadrilhas especializadas nos ataques às agências bancárias, que se aproveitam de efetivos policiais reduzidos e o fato de estarem próximo às divisas com a Bahia, o que facilita fugas.

Conforme balanço da Polícia Militar, em 2016 foram 21 ataques a agências bancárias e bancos postais no Norte do estado. Neste ano, já foram 12 ocorrências na região. A última na madrugada de terça-feira, em Matias Cardoso, onde um bando armado explodiu o prédio e levou o cofre da agência do Bradesco. Os marginais cercaram as casas dos policiais militares. Antes da fuga, ainda fizeram disparos contra a sede do pelotão da PM.

EXPLOSÕES
A ação dos criminosos em Grão Mogol foi parecida com a de Matias Cardoso. Conforme a PM, eles estavam em dois carros.
Alguns homens armados fizeram vigília em frente às casas dos PMs que moram na cidade. Outra parte da quadrilha entrou na agência e foi direto para local onde ficava o cofre do banco, no fundo de um prédio histórico. Fizeram pelo menos seis explosões para arrombar o cofre. Ação durou 50 minutos.

O operador de máquinas Sebastião de Oliveira diz que a população da cidade foi surpreendida com o ataque a agência do Banco do Brasil. “O povo nunca imaginava uma ação criminosa dessa aqui. Foi realmente uma surpresa para os moradores, que sempre viveram com as portas e janelas das casas abertas e também costuma deixar os vidros dos carros abertos”, comenta.

REFORÇO O comando 11ª Região da PM de Montes Claros, que responde pelo Norte de Minas, informou que investe em ações para diminuir a ação das quadrilhas que atacam as agências bancárias nos pequenos municípios, com o reforço dos efetivos e melhoria das instalações dos quartéis e “investimentos na capacitação técnica dos policiais militares, com treinamento para uso de armamento mais pesado, por meio do credenciamento para utilização de fuzis”, além da entrega de mais viaturas. Outra ação é o investimento na área de inteligência.


Ataque em São Gotardo completa uma década


Em janeiro de 2007, um grupo de 15 criminosos assaltou duas agências bancárias em São Gotardo, no Alto Paranaíba, Região Noroeste de Minas. A quadrilha, armada com fuzis e metralhadoras, fugiu em dois veículos.
Na fuga, moradores foram feitos reféns e houve tiroteio. Um juiz, um delegado da cidade de Carmo do Paranaíba, e dois policiais militares que estavam em uma viatura ficaram sob o poder dos bandidos. Dois militares foram baleados. Um deles, o cabo Vandeck da Costa Silva, morreu com um tiro de fuzil na cabeça. O crime provocou revolta na população e nos colegas de farda (D). Na época, a Polícia Civil montou uma operação batizada em homenagem ao policial militar morto. As investigações se prolongaram por três anos e resultou na prisão de cerca de 50 criminosos. O encerramento ocorreu em 2009, com a prisão de “João de Goiânia”, junto com a metralhadora .50, usada nos assaltos. No mesmo do ataque em São Gotardo, outras duas agências bancárias foram assaltadas em duas cidades do interior de Minas..