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Estado de Minas

'Faxina não. Mestrado': professora fala ao Estado de Minas sobre episódio de preconceito

Professora relata preconceito racial em abordagem em rua de Belo Horizonte, quando uma senhora lhe perguntou se faz serviços de limpeza doméstica simplesmente porque é negra


postado em 21/07/2017 06:00 / atualizado em 21/07/2017 14:14

Luana Tolentino já sofreu o preconceito na pele outras vezes no próprio emprego e no prédio onde mora uma amiga(foto: Edésio Ferreira/EM/DA Press)
Luana Tolentino já sofreu o preconceito na pele outras vezes no próprio emprego e no prédio onde mora uma amiga (foto: Edésio Ferreira/EM/DA Press)
A historiadora e professora Luana Tolentino, que é negra, foi vítima de preconceito racial nas ruas de Belo Horizonte. “Hoje uma senhora me parou na rua e perguntou se eu fazia faxina. Altiva e segura, respondi: Não. Faço mestrado. Sou professora. Da boca dela não ouvi mais nenhuma palavra. Acho que a incredulidade e o constrangimento impediram que ela dissesse qualquer coisa”, contou, em depoimento postado no Facebook, que até a tarde de ontem já havia sido compartilhado por aproximadamente 2 mil pessoas.

A professora afirmou que não se sentiu ofendida por ter sido confundida com uma faxineira – trabalho que já desempenhou na vida e com o qual pôde pagar o primeiro período da faculdade –, mas incomodada com o preconceito implícito na pergunta. “O que me deixa indignada e entristecida é perceber o quanto as pessoas são entorpecidas pela ideologia racista. Sim. A senhora só perguntou se eu faço faxina porque carrego no corpo a pele escura”, disse. “Quando se trata das mulheres negras, espera-se que o nosso lugar seja o da empregada doméstica, da faxineira, dos serviços gerais, da babá, da catadora de papel”, completou, no Facebook.

Ao Estado de Minas, Luana Tolentino, que leciona no ensino público de Vespasiano e faz mestrado na Universidade Federal de Ouro Preto em que aborda a contribuição intelectual das mulheres negras à ciência, disse que a pergunta dirigida pela senhora “foi como levar um soco”. “Fiquei sem ar”, descreveu, sem perder de vista que a questão tem raízes históricas no país. “Desde a colonização do Brasil, os negros são relegados aos trabalhos braçais e com pouco nível de instrução. Isso permanece até hoje. Causa muito estranhamento quando um negro se torna médico ou advogado. Ao passo de que é normal ser faxineira, porteiro ou garçom”, disse.

Não foi à toa que a professora vivenciou outras situações de preconceito no próprio do trabalho, na visita a uma amiga e até ao receber uma honraria.  “É esse olhar que fez com que o porteiro perguntasse no meu primeiro dia de trabalho se eu estava procurando vaga para serviços gerais. É essa mentalidade que levou um porteiro a perguntar se eu era a faxineira de uma amiga que fui visitar. É essa construção racista que induziu uma recepcionista da cerimônia de entrega da Medalha da Inconfidência, a maior honraria concedida pelo governo do estado de Minas Gerais, a questionar se fui convidada por alguém, quando na verdade, eu era uma das homenageadas”, contou no Facebook.

CRÍTICAS  Seu relato recebeu duras críticas online. Internautas a consideraram preconceituosa em relação a profissões como a de faxineira. “Meu questionamento é para romper com a ideologia racista de que tenhamos sempre que ocupar esses lugares. A senhora não me parou para perguntar se eu era jornalista ou engenheira”, rebateu a professora ao EM, ressaltando que já trabalhou como doméstica no passado.

A historiadora acredita que o racismo está inserido na sociedade e dificilmente será extinto “porque é institucional”. “É contra ele que devemos lutar”, defende. “A recente aprovação da política de cotas na Unicamp e na USP evidencia que estamos no caminho certo”, aposta. (Estagiária sob supervisão do editor André Garcia)


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