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Mãe acusa escola de racismo por forçar filha a prender cabelo Jovem negro denuncia racismo sofrido em supermercado no Santa TerezaAutoridades alertam que há como rastrear autores de racismo na internetCaminhos para combater o racismo no Brasil é o tema da redação do Enem'Faxina não. Mestrado': professora fala ao Estado de Minas sobre episódio de preconceitoAlunos de arquitetura da UFMG se recusam a projetar casa com área para empregadosA taxa de desemprego entre os diferentes grupos também confirma o preconceito racial. O índice entre pessoas que se declararam de cor preta ficou em 14,4% no quarto trimestre de 2016, enquanto a taxa entre a população parda foi de 14,1%. Os resultados são maiores que o da média nacional, de 12%, e do que o registrado pela população branca, que teve taxa de desemprego de 9,5% no quarto trimestre de 2016.
Na avaliação do sociólogo Luiz Chateaubriand, da Superintendência de Estudos Econômicas e Sociais da Bahia, os dados são um resultado da forma como o mercado se estrutura em função das questões de raça e cor. Também analista da Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED) do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), o especialista explica que população negra e parda tem mais dificuldade de obter emprego, mesmo quando tem o mesmo nível de escolaridade e titulação. E que, quando consegue, está sub-representada em postos de comando e chefia ou acesso a bens e propriedades, além de ganhar salários mais baixos do que a população branca.
CAMINHOS “O racismo é um componente da estruturação do mercado de trabalho.
No caso da Luana Tolentino, foi preciso muita persistência para chegar ao mestrado na Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop). Ela contou que sempre batalhou para ajudar nas despesas da casa e, com o fruto do trabalho, conseguiu ingressar na faculdade para alcançar o sonho de se tornar professora. “Quando adolescente, trabalhei como faxineira, mas logo saí devido às condições do trabalho. Depois, fui telefonista, mas também saí após um episódio de preconceito racial. Voltei à faxina para pagar meus estudos, já que à época não existiam Pro-Uni e Fies”, contou.
Sobre o episódio de quinta-feira, Luana descreveu a reação da mulher que a abordou na rua: “Da boca dela não ouvi mais nenhuma palavra. Acho que a incredulidade e o constrangimento impediram que ela dissesse qualquer coisa”, contou, no Facebook. A professora afirmou que não se sentiu ofendida por ter sido confundida com uma faxineira, mas incomodada com o preconceito implícito na pergunta. “O que me deixa indignada e entristecida é perceber o quanto as pessoas são entorpecidas pela ideologia racista. Sim. A senhora só perguntou se eu faço faxina porque carrego no corpo a pele escura”, escreveu.
Ela lembrou ainda que quando se trata das mulheres negras, espera-se sempre que estas ocupem o lugar da empregada doméstica, da faxineira, dos serviços gerais, da babá, da catadora de papel, entre outros trabalhos braçais e com pouco nível de instrução. “Isso permanece até hoje. Causa muito estranhamento quando um negro se torna médico ou advogado. Ao passo que é normal ser faxineira, porteiro ou garçom”, disse.
Cotas no caminho da mudança
Ao passo que avanços foram alcançados na política de acesso à educação superior, com a instituição da política que cria cotas para negros em universidades do país, ainda é clara a presença maciça de brancos nessas instituições. Prova disso está na distribuição de vagas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), onde 42,11% das cadeiras ainda são ocupadas por pessoas que se autodeclararam brancos, contra 8,45% declarados pretos.
Ainda assim, ainda há muito o que ser feito na educação, de modo geral, como explica a socióloga Inês Teixeira, professora titular da Faculdade de Educação da UFMG. Segundo ela, “os processos históricos e o imaginário das pessoas ainda colocam o negro em posições permeadas por estereótipos de inferioridade que precisam ser combatidos”. Ela conta que à época da elaboração da pesquisa Memórias e percursos de gerações de professora e estudantes negros da UFMG, da qual participou, há uma década, havia área da UFMG que não tinha nenhum professor negro. “Claro que essa realidade mudou, mais ainda há muito o que ser feito”, avalia.
A questão é que “a mentalidade escravocrata não está eliminada e ainda é muito forte no sentido de endereçar as pessoas negras para atividades como as domésticas ou outros trabalhos braçais, como ocorria no período da escravidão”, afirma a filósofa Shirley Miranda, também professora da FAE. Ela também comenta o desnível identificado na presença de negros e brancos na educação, mas ressalta a importância da política de cotas e o avanço com a recente aprovação da medida também para a pós-graduação da UFMG.
A coordenadora do Centro Nacional de Africanidade e Resistência Afro-brasileira (Cenarab), Makota Célia Gonçalves, explica como esse preconceito afeta o negro não só no mercado de trabalho e na educação, mas também em esferas pessoais. “Isso fere nossa subjetividade. O racismo brasileiro não tem nada de gentil. Ele é perverso. Em um desses casos, uma moça negra teve seu turbante puxado por um senhor quando ia pegar o ônibus. Em outro, o mesmo ocorreu em um baile de formatura.