Enquanto muitos mineiros aguardam apenas a decisão judicial para ter de volta imagens dos padroeiros e santos de devoção, cientes de que as peças se encontram sob guarda de instituições culturais ou ainda com os detentores, outros mantêm somente a esperança, pois as peças foram furtadas ou vendidas e ninguém sabe do paradeiro. Estatísticas do Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) mostram que 60% dos bens culturais sacros foram deslocados de suas origens de forma indevida, indo parar nas mãos de colecionadores e antiquários mineiros, fluminenses e paulistas. Atualmente, 730 peças sacras são procuradas pelas autoridades estaduais de defesa do patrimônio cultural.
Entre os objetos de fé procurados há décadas estão o Cativo (século 18), furtado em 1994 do Museu Regional do Sul de Minas, em Campanha, no Sul de Minas; Nossa Senhora do Bom Sucesso (séc. 18), em 1994 da Igreja Matriz de Nossa Senhora do Bom Sucesso, em Serranos, no Sul; Santana Mestra (séc. 18), em 1997 da Igreja Matriz de Santana, em Inhaí, Diamantina, no Vale do Jequitinhonha; São Miguel Arcanjo (séc. 18/19), em 2003 da Igreja Matriz de São Caetano, em Mariana, na Região Central; e Nossa Senhora da Conceição (séc. 19), em 2003 do Museu de Arte Sacra Dom José Medeiros Leite, de Oliveira, no Centro-Oeste.
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No distrito de Inhaí, em Diamantina, no Vale do Jequitinhonha, os moradores também não se conformam com o roubo da Santana Mestra, em 1997, mas mantêm a esperança. Pouco antes, a imagem também havia sido roubada, diz a dona de casa Ana Maria Guedes, de 50 anos. “Os mais velhos têm saudade e os mais jovens desejam conhecer”, conta a integrante da comunidade, que se une aos amigos na luta pelo retorno da Santana Mestra. “A capela foi restaurada, ganhamos uma réplica, mas a original faz falta. Uma vez ou outra o assunto volta, mas queremos que tudo se resolva”, afirma.
O número de furtos e arrombamentos caiu em Minas, mas os ladrões não dão trégua. Recentemente, houve furtos em Oliveira e no distrito de Miguel Burnier, em Ouro Preto.
Sem trégua contra o comércio clandestino
O furto de peças sacras e outras obras de arte movimenta um comércio clandestino só superado no mundo pelo de drogas e armas, segundo a Interpol Brasil. “Muitas pessoas visitam igrejas históricas em povoados distantes dos grandes centros e depois encomendam as peças, ou seja, mandam um ladrão ao local para carregá-las.
De acordo com o Ministério Público de Minas Gerais (MPMG), os furtos remontam ao tempo do Império, mas há mudanças. “Nos últimos 14 anos houve avanços, como a devolução de 282 peças e maior conscientização da população”, diz a titular da Coordenadoria das Promotorias de Justiça de Defesa do Patrimônio Cultural e Turístico do MPMG, Giselle de Oliveira.
Para entender melhor a história do resgate do bens culturais é preciso olhar para o ano de 2003, quando começou a grande mobilização no estado pela recuperação de obras de arte e de peças sacras desaparecidas ao longo do tempo de igrejas, capelas, museus e prédios públicos. A campanha, deflagrada em Santa Luzia, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, que reclamava, na Justiça, a volta de três anjos barrocos levados a leilão no Rio de Janeiro (RJ), ganhou de imediato as páginas do Estado de Minas, e, em seguida, de toda a mídia nacional.
A partir daí, Minas passou a ter uma política específica para a preservação do acervo histórico, algo então inédito no país. Formou-se um grupo com a participação de instituições públicas. Nesse período, peças foram recuperadas em operações policiais ou entregues de forma espontânea por particulares, e muitas retornaram aos locais de origem, com festa e lágrimas de fiéis emocionados.
Para garantir maior participação pública, inclusive para denúncias e reconhecimento do acervo recuperado, foram criados – e continuam em funcionamento – páginas na internet e linhas telefônicas diretas.
ANJOS BARROCOS Embora haja um longo caminho a percorrer em preservação, a campanha favoreceu o tombamento e restauração de monumentos, instalação de equipamentos de segurança e elaboração de inventários sobre o acervo de cada cidade.
Os anjos foram excluídos do leilão e entregues ao Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico (Iepha-MG) para perícia. Comprovada a origem, hoje as peças se encontram no templo barroco, encantando moradores e visitantes.
PARA DENUNCIAR
Quem tiver informações sobre peças desaparecidas pode acionar:
Ministério Público de Minas Gerais
E-mail: cppc@mpmg.mp.br e telefone (31) 3250-4620. Pode também enviar correspondência para Rua Timbiras, 2.941, Bairro Barro Preto, Belo Horizonte. CEP 30.140-062. Também está disponível o blog patrimoniocultural.blog.br. mpmg
Iphan
Para obter ou dar informações, basta acessar o site www.iphan.gov.br e verificar o banco de dados de peças desaparecidas. Denúncias anônimas podem ser feitas pelo telefone (61) 2024-6342 2024-6355 2024-6370, telefone do Departamento de Patrimônio Material e Fiscalização (Depam) e pelos e-mail depam@iphan.gov.br e cgbm@iphan.gov.br e ao Fale Conosco: faleconosco@iphan.gov.br
Iepha/MG
Pelo site www.iepha.mg.gov.br ou pelo telefone (31) 3235-2812 ou 2813.