Andaimes prontos nas alturas, capacete afivelado e sprays na mão para cumprir uma missão: cobrir o céu com cores e transformar a paisagem da capital mineira. Ontem, começaram os trabalhos de colorir as paredes cinzas de concreto, as “empenas”, de quatro prédios na Região Central da capital mineira. Resgatando a trajetória da arte urbana na cidade, a partida do primeiro festival de pintura em edifícios, que vai até 6 de agosto em Belo Horizontes, foi dada ontem por cinco artistas nacionais e internacionais com experiência em murais em grande escala.
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O prédio tem 13 andares e se volta para a Praça da Estação. Ao chegar ao telhado, a altura já dá aquele frio na barriga. Com todos os equipamentos de segurança, o andaime começa a descer com a dupla e uma equipe de apoio.
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Moradora do Edifício Rio Tapajós há 26 anos, a artista e professora Sylvia de Paula, de 52 anos, decidiu conferir de perto o início dos trabalhos dos artistas. Ainda no início da manhã, ela fez uma visita aos grafiteiros nos telhados do seu prédio. “Quando recebemos a proposta, quis saber quem eram os grafiteiros. É aquele sentimento de mãe: ‘Quem vai pintar o meu prédio? Será qualquer pessoa?’ Foi então que eu pesquisei sobre o coletivo. O projeto é muito legal. O grafite vai desacinzentar a nossa cidade. Quando eu olho para a janela, só vejo cinza. O projeto promete humanizar Belo Horizonte”, afirma a moradora. Ela conta que o projeto foi muito bem recebido pelos condôminos do prédio e que está ansiosa para ver o resultado final dia 6.
Do telhado do prédio de Sylvia é possível observar o outro grupo de aristas começando a dar cor ao prédio vizinho: Edifício Satélite, na Rua da Bahia, 478. Lá, o grafiteiro Thiago Mazza realiza o sonho de pintar uma grande tela em sua cidade natal. “A maior tela que eu pintei tinha 17 metros, aqui tenho 40. Fazer esse trabalho na minha cidade é uma grande realização. Por isso, vou fazer algo bem regional. Vai dar uma mexida no Centro”, promete Thiago. Segundo o artista, o fato de a intervenção ocorrer no Hipercentro é inédito nesse tipo de festival. “A maioria não consegue fazer um festival no Centro, mas nós sim. Vamos mudar a forma de andar por aqui”, comemorou Thiago.
A execução do trabalho poderá ser acompanhada durante todo o festival a partir da Rua Sapucaí. O evento terá um bar provisório na via para que as pessoas observem as pinturas e uma programação cultural extensa com mesas de debate, festas, feira de arte, projeções de filme e visita guiada pelos murais de Belo Horizonte.
Circuito Cura
» EDIFÍCIO RIO TAPAJÓS
Onde: Rua da Bahia, 325, Centro
Artistas: Acidum Project (Tereza Dequinta e Robézio Marqs)
» EDIFÍCIO SATÉLITE
Onde: Rua da Bahia, 478, Centro
Artista: Thiago Mazza
» EDIFÍCIO TRIANON
Onde: Rua da Bahia, 905, Centro
Artista: Marina Capdevilla
» HOTEL RIO JORDÃO
Onde: Rua Rio de Janeiro, 147, Centro
Artista: Priscila Amoni
O eterno retorno
Engana-se quem pensa que a arte nas laterais dos prédios é novidade na capital mineira. Uma pesquisa feita pelo Cura revela que as telas surgiram na década de 1990 nas empenas de mais de 10 prédios do Centro de BH. Porém, a maioria delas foi apagada ou está muito deteriorada. “O pioneiro dos murais gigantes em BH foi o francês Hugues Desmaziéres, que se mudou para a capital mineira e pintou a fachada de sete prédios no Centro da cidade. Tudo por conta própria”, afirma uma das idealizadoras do projeto Janaína Macruz. Os murais brincavam com ilusões de ótica e perspectivas inusitadas. “A pintura de Tiradentes, por exemplo, está na memória de todo mundo. Quando eu era criança, passava por ali e sempre a observava. Hoje, só vejo uma parede cinza”, completa. A imagem de Tiradentes, até dezembro de 2014, coloriu o prédio que fica no número 39 da Rua Rio de Janeiro.