Jornal Estado de Minas

Das 130 mortes no trânsito de BH em 2016, 71 estavam relacionadas com motocicletas

- Foto: Um grupo de risco no trânsito vem crescendo em velocidade duas vezes maior que o avanço da frota geral em Minas e em Belo Horizonte: enquanto sua participação avança nas ruas, os motociclistas representaram, nos últimos sete anos, mais da metade (53%) das pessoas atendidas por acidentes de trânsito no Hospital João XXIII, o principal pronto-socorro de Belo Horizonte. Além disso, somam 30% do total de mortes registradas na unidade no período. No intervalo, foram 85.764 acidentados, sendo 45.532 em ocorrências com motos. Das 1.764 pessoas que perderam a vida, 532 foram resgatadas de tragédias envolvendo motocicletas. A fragilidade desse veículo associada ao mau comportamento dos pilotos são as razões para resultado tão negativo envolvendo essa classe de condutores, que ontem comemorou seu dia com muitas dificuldades ainda a enfrentar.


No estado, enquanto a frota total teve um salto de 210% entre 2000 e 2016, o número de motos teve assustadores 406,5% de elevação. Em BH, a situação é semelhante: a alta foi de 159% na frota geral e de 333,5% nos veículos de duas rodas. O número de mortes na capital também chama a atenção. Das 130 pessoas que perderam a vida no trânsito no ano passado, 71 (54,6%) estavam em quedas de moto ou em batidas desses veículos com carros, caminhões e ônibus, entre outras ocorrências.
Neste ano, no primeiro semestre, já são 35. Os dados se referem somente a vias municipais de Belo Horizonte e aos óbitos registrados no local do acidente.

Na avaliação do delegado Bernardo Machado, da Delegacia Especializada em Acidentes de Veículos, a imprudência é a maior causadora das tragédias e mortes. “A moto já é um veículo frágil, que expõe o condutor a altos índices de ferimentos e mortalidade. Além disso, muitos se acidentam após ingestão de bebida alcoólica ou conduzindo sem habilitação e desrespeitando as regras de trânsito. Em praticamente todas as hipóteses, tanto por parte do motociclista quanto por motoristas de outros veículos, os acidentes ocorrem por descumprimento das leis de trânsito”, afirma. Ele comenta a explosão na frota de motocicletas e explica que o avanço está muito relacionado ao vínculo com atividades de trabalho. “Em uma cidade com cada vez mais engarrafamentos, o motociclista consegue se deslocar com rapidez no trânsito, usando um veículo mais barato que os automóveis e também mais economicamente viável”, diz.
O policial, no entanto, chama a atenção para a necessidade de mais cautela e observância às leis de trânsito para mudar essa realidade que coloca pilotos de moto em um grupo de risco entre os demais agentes do trânsito.

- Foto: Gladyston Rodrigues/EM/DA PressLESÕES Na ponta dos atendimentos, os Bombeiros também destacam o poder devastador dos acidentes de moto. “Diferentemente do carro, que tem a estrutura que protege seus ocupantes, a moto expõe as vítimas, em caso de acidentes, a uma maior possibilidade de lesões, especialmente fraturas e outros traumas. Geralmente ocorrem fraturas graves, de tíbia, fêmur e da pelve, que têm difícil e demorada recuperação”, explica o assessor de imprensa do Corpo de Bombeiros, tenente Padro Aihara. Ele lembra ainda o impacto econômico do problema, que extrapola os gastos com atendimentos hospitalares, já que os desastres deixam vítimas afastadas do trabalho por muitos meses, ou até mesmo fisicamente incapacitadas. “Essa é uma realidade que tem que mudar. O motociclista muitas vezes se preocupa com equipamentos de segurança, como capacete, luvas e outros, mas esquece que seu comportamento é um dos itens principais no trânsito”, ressalta.

Em relação a essa conduta de cautela, o tenente recomenda que o motociclista se programe, tanto para atividades de trabalho quanto em outros momentos em que estiver de moto. “É importante que saia mais cedo, não faça ultrapassagens perigosas, não use o corredor entre os carros nem conduza em alta velocidade. As pessoas devem se lembrar sempre de que em busca do ganho de tempo elas podem perder a vida”, afirma.
O militar alerta ainda para que os demais motoristas mantenham uma postura de atenção e respeito ao motociclista, indicando corretamente mudanças de faixa de trânsito e usando a seta nessas manobras, por exemplo.

O médico Rômulo Souki, cirurgião-geral do HPS, ressalta que falta prevenção. “O número de motos cresce a cada dia, já que é um meio de transporte que pode ser adquirido por um baixo valor. Porém, o que mais causa acidentes é a falta de prevenção, tanto do setor público, com leis específicas, como por imprudências dos motociclistas. Grande parte dos acidentes está ligada ao segundo item”, alerta. O especialista acredita que o uso acessórios de proteção pode prevenir algumas lesões provocadas por quedas, mas sozinho não resolve. “O problema é que o motociclista não é atingido apenas em um lugar: sofre traumas multissistêmicos. E a gravidade da queda está relacionada à velocidade que o condutor estava quando sofreu a batida”, pontua. (Com Larissa Ricci)

Dicas de prevenção


Motociclistas que trafegam pelo Anel Rodoviário de BH (foto), por onde circulam diariamente 160 mil veículos, foram abordados ontem pela Polícia Militar Rodoviária (PMRv) para receber orientações e dicas de segurança no trânsito. A ação fez parte do Dia do Motociclista e orientou 79 desses condutores, que, além de receber kits com dicas e brindes, tiveram a oportunidade de submeter seus veículos a uma checagem rápida para itens como transmissão e rodas. Segundo o tenente Pedro Barreiros, que comanda o policiamento no Anel, o principal objetivo do trabalho foi alertar pilotos para os perigos de condutas imprudentes.

“Muitos andam nos corredores estreitos e não respeitam o limite de velocidade. Quando passam por veículos pesados, acabam perdendo o equilíbrio pelo deslocamento do ar e caem.”

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