Delfinópolis – Acima dos 1.300 metros de altitude, a Serra da Babilônia tem jeito de obstáculo inexpugnável, uma muralha de pedras escarpadas e íngremes patrulhada pelo voo de gaviões-carrapateiros, carcarás e outras aves de rapina.
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Encontro nacional no cerrado do Sul de Minas reúne amantes do matoFesta peruana movimenta a Savassi com música, dança e comidas típicasE a marcha dos amantes do mato seguiu por boa parte das trilhas com gente assim, olhando por debaixo da aba do chapéu para as muralhas de pedras, no compasso de passos, cajados e bastões de caminhadas.
Mas se engana quem acha que a fixação no objetivo tira a atenção de um mateiro. Quem vive no mato enxerga sinais importantes onde ninguém costuma ver. A acuidade do olhar dos aventureiros não deixava a monotonia do longo caminho tomar conta, nem o sofrimento das subidas sob o Sol escaldante.
Em uma curva pouco mais batida, o organizador do encontro, Fábio Ceribelli, de 40 anos, deu o alerta para a marcha parar. Rapidamente a fileira apeou as mochilas e se agrupou em torno dele, já agachado, vasculhando o solo.
O que ele viu num relance levou tempo para ser distinguido entre a poeira e as pedras: uma pegada impressa no meio do caminho, revelando a trilha de um animal. “Esse é um rastro de mão-pelada (espécie de guaxinim que habita da Costa Rica ao Uruguai). Vejam como é importante reconhecer isso numa situação de emergência: pode ser alimento”, salientou Fábio.
Pegadas como essas foram avistadas em vários trechos do caminho, mostrando ser o animal uma importante alternativa alimentar para uma pessoa em situação de sobrevivência ou emergência, treino que foi um dos objetivos do encontro.
No mesmo caminho, mais gente identificou outras pegadas de animais, como o soldador de Pratápolis Brasilio Moskoski Neto, de 37, que conseguiu apontar vestígios deixados por codornas e paturis.
O radar dos aventureiros foi desbravando também espécies vegetais importantes nas matas ao longo das trilhas, localizando madeiras importantes para se fazer fogo primitivo, como as embaúbas, e alimentos nutritivos, como os cocos de macaúba, os frutos do pequi, as folhas de assa-peixes e as flores do cipó-de-são-joão.
O guardião das trilhas
Depois de atravessar córregos e ribeirões, a expedição visita a primeira habitação do trajeto atrás de uma iguaria para a fogueira da noite: queijos canastra tradicionais, que seriam derretidos na pedra.
Em um morro ainda aos pés da Serra da Babilônia, os mateiros se gruparam em um rancho rústico, com um curral pequeno, galinheiro apertado, uma casinha de madeira e um barracão de tijolos.
De dentro da habitação pitoresca sai um senhor baixo, de chapéu de palha e sorriso acolhedor. É o produtor dos queijos, José de Paulo Pereira, de 55, conhecido como Paulo Peão.
“Moro aqui tem mais de 25 anos, nos pés da serra. Não tenho televisão e para resolver o que preciso, só cavalgando o dia inteiro até a cidade. Mas aqui tenho minha vida, minhas vacas para tirar leite e umas galinhas. Sempre aparece gente para ir às cachoeiras ou subir pelas serras. Sempre conto para eles uns causos, vendo uns queijos, leite e ovos”, conta.
Foi nas terras do Paulo Peão que os mateiros resolveram armar acampamento, bem às margens do Ribeirão da Babilônia. O vale do curso d’água tem cascatas encadeadas, com vários poços e muitas pedras cinzentas, com partes bem polidas e outras fissuradas.
A maior parte do grupo ocupou com suas redes e barracas um remanso seco e profundo à beira da área de banho.
Duas galinhas foram compradas do Paulo Peão para uma instrução que simulou abate e preparo de aves à beira da fogueira, onde a noite prosseguiu com muita conversa, bacon frito, café mateiro (sem coador), linguiças espetadas e queijo canastra derretido até borbulhar e se tornar uma crosta crocante..