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Estado de Minas

Carros levam risco a pedestres na pista de caminhada da Avenida dos Andradas

Em jogo de empurra, estado e município se esquivam de responsabilidade por remoção de cancelas que restringiam trânsito na via onde transeuntes estão vulneráveis a acidentes, roubos e agressões


postado em 31/07/2017 06:00 / atualizado em 31/07/2017 08:31

A qualquer hora é possível ver veículos invadindo a área destinada a esportistas, já que barreira física foi removida, em ação que não é assumida por nenhum órgão público(foto: Beto Novaes/EM/D.A PRESS)
A qualquer hora é possível ver veículos invadindo a área destinada a esportistas, já que barreira física foi removida, em ação que não é assumida por nenhum órgão público (foto: Beto Novaes/EM/D.A PRESS)
Depois de ser palco de uma onda de roubos de bicicletas e de celulares, a pista de caminhada da Avenida dos Andradas, na Região Leste de Belo Horizonte, impõe agora um novo risco a quem procura o espaço para lazer e prática de atividade física. Duas cancelas que limitavam a entrada de veículos particulares no trecho, que é também uma área de segurança pública do governo estadual, foram retiradas.

Em outro ponto, na altura da Avenida Mem de Sá, nunca houve sinalização que informasse aos motoristas a proibição de tráfego. Com isso, carros e motos estão tendo livre acesso à via, inclusive invadindo a área usada por pedestres, ciclistas, incluindo crianças e idosos. Muitos entram desavisados no trecho, segundo a Polícia Militar, guiados por coordenadas dos GPS, que passaram a não mais identificar o bloqueio das antigas cancelas no sistema de satélite. Outros têm conhecimento da restrição na pista, mas passaram a transitar e a estacionar na área com tráfego permitido somente a veículos ligados aos prédios de segurança.

No local ficam o Complexo Penitenciário Estevão Pinto e o Centro de Internação Provisória Dom Bosco. O problema se agrava já que, além de invadir a área proibida, motoristas e motociclistas têm abusado da velocidade, impondo medo e risco de atropelamento aos usuários da pista. Situação sem perspectiva de solução, pois, em um jogo de empurra, nem o estado, nem o município assume a responsabilidade sobre a retirada das cancelas, que passou a expor os pedestres e ciclistas que usam o espaço a um risco ainda maior.

A nova situação de perigo se soma a problemas já bem conhecidos na Andradas: sujeira; mato alto; lixeiras quebradas; cavalos transitando entre pedestres; barracas fixas de moradores de rua, além de seus carrinhos de supermercado e materiais de reciclagem espalhados no asfalto; ausência de banheiros e de bebedouros; além de falta de revitalização das marcações de distâncias da via. Sem falar das questões de segurança pública, que também têm sido uma constante preocupação. Na semana passada, um motorista que caminhava pelo trecho foi atacado a golpes de madeira e pontapés por três adolescentes que lhe roubaram o celular. Nos últimos meses, a Polícia Militar (PM) registrou uma onda de assaltos em que bicicletas eram o alvo de ladrões, em sua maioria menores de idade.

Cavalo solto ao lado da pista de caminhada(foto: Paulo Filgueiras/EM/D.A PRESS)
Cavalo solto ao lado da pista de caminhada (foto: Paulo Filgueiras/EM/D.A PRESS)

SEM SOLUÇÃO A insatisfação diante de tantos problemas é comum aos frequentadores, que atualmente se surpreendem com a ameaça representada pela alta velocidade dos veículos e continuam à espera de solução para os demais transtornos. “Já presenciei uma situação em que uma moça havia acabado de ser assaltada e me pediu ajuda. Levaram o celular dela. Apesar de a Polícia Militar ter vindo imediatamente, sinto que ainda falta segurança ao longo da pista”, comentou o professor aposentado Rogério Luiz Teodoro, de 58 anos. Frequentador assíduo da pista de cooper, ele reclama da mudança ocorrida após a retirada das cancelas. “Os carros não só começaram a passar aqui, mas também assustam as pessoas, porque trafegam em alta velocidade”, disse.

O amigo que o acompanhava em uma caminhada, na semana passada, o representante comercial André Luiz Venâncio, de 49, também se queixa. “Essa é a melhor pista de caminhada da cidade, mas não recebe a mesma atenção de outras. A limpeza está muito ruim, tem mato alto, lixo espalhado, gente usando droga. Tudo isso traz uma impressão muito ruim”, disse. Em um dos dias em que a equipe do Estado de Minas esteve no local, havia, inclusive, um cavalo transitando pela pista de caminhada, no trecho próximo à Penitenciária Estevão Pinto. No cruzamento com Avenida Silviano Brandão, onde há uma grande barraca de moradores de rua, é grande o volume de lixo que se acumula frequentemente, e que se estende até a calha do Ribeirão Arrudas.

Os dois amigos chamam a atenção para outras demandas: a necessidade de instalação de banheiros públicos e melhorias na iluminação. “Esse é um local em que vem muita criança e idosos. Um banheiro atenderia a todos”, ressalta Rogério. Luiz reforça: “A iluminação é fraca e precisa melhorar, porque há muitas árvores ao longo da via”, diz.

Buraco no passeio por falta de uma tampa metálica é mais um dos riscos da avenida(foto: Paulo Filgueiras/EM/D.A PRESS)
Buraco no passeio por falta de uma tampa metálica é mais um dos riscos da avenida (foto: Paulo Filgueiras/EM/D.A PRESS)

CORRIDA DE OBSTÁCULOS
A julgar pela postura de órgãos municipais e estaduais, ninguém é dono das cancelas que foram retiradas da pista de caminhada da Avenida dos Andradas. Confira o que cada órgão diz sobre esse e outros problemas do espaço

Cancelas
A BHTrans informa que a pista é´área de segurança, pertence à Penitenciária Estevão Pinto. “As cancelas foram colocadas por eles”, diz nota da empresa municipal, que prossegue: “a Polícia Militar e a Guarda Municipal podem multar o desrespeito à sinalização existente”, referindo-se à proibição de carros particulares transitarem pelo trecho, descumprindo orientação de uma placa de trânsito. A PM informa que, durante o período em que realizava o policiamento na unidade prisional havia uma cancela que impedia o tráfego de veículos pela pista de cooper. E que, com a mudança de governo, a Secretaria de Estado de Administração Prisional assumiu a guarda do estabelecimento, com todo o aparato. Diante disto, informou não ter ciência do foi feito com as cancelas. A Seap por sua vez afirmou que as cancelas não eram de sua responsabilidade: “É de responsabilidade da Seap a segurança intramuros (da penitenciária). Não cabe à secretaria o controle do fluxo de trânsito externo”. Sobre a alta velocidade dos carros da segurança pública que passam pelo local, a Secretaria de Estado de Segurança Pública informou que até o momento, não havia denúncia sobre a situação, mas que a direção das unidades de segurança locais vai orientar funcionários sobre a questão.

Sinalização precária
A BHTrans diz que fará uma vistoria no local (foto abaixo) para avaliar a sinalização de trânsito próximo à área da pista de caminhada. Porém, a data para esse procedimento não foi informada pela empresa municipal.

Sinalização é deficiente no local(foto: Paulo Filgueiras/EM/D.A PRESS)
Sinalização é deficiente no local (foto: Paulo Filgueiras/EM/D.A PRESS)


Revitalização da pista
A BHTrans informa que programou uma nova pintura das sinalizações de distâncias e marcações de solo na via. A previsão é de que os trabalhos comecem em até 30 dias. E destacou que a pista de caminhada demarcada vai da área próxima ao Boulevard Shopping até a Penitenciária Estevão Pinto, o que corresponde à parte fechada.

Banheiros públicos
A Prefeitura de Belo Horizonte informou que está estudando uma forma para viabilizar licitação para construção de banheiros públicos por toda a cidade. Mas ainda não há modelo definido, nem data para o processo ser iniciado.

Poda de árvores
A Sudecap informou que, em abril deste ano, executou podas de todas as árvores com desobstrução de luminárias entre as avenidas do Contorno e Silviano Brandão. Pelo que informam usuários da pista, o serviço foi insuficiente ou precisa ser refeito.

Sujeira
A Superintendência de Limpeza Urbana (SLU) diz ter programado uma ação emergencial de limpeza para a pista de cooper da Avenida dos Andradas, no trecho de concentração de lixo (foto abaixo). Ressaltou ainda que há dois meses foi feita a capina ao longo da via e que o local ainda não demanda novo procedimento em toda sua extensão. Segundo a SLU, a via passa por varrição duas vezes por semana e tem 37 cestos de lixo instalados. Em relação à reclamação sobre a presença de cavalos entre os frequentadores do local, o órgão informou que nas proximidades há uma Unidade de Recebimento de Pequenos Volumes (URPV) pela qual trafegam diariamente carroceiros para entrega de resíduos. “O que pode acontecer é que, vez ou outra, algum carroceiro transite pela localidade, mas não há acesso à URPV pela pista de caminhada”, informou o órgão.

Lixo toma conta do gramado ao lado da pista de cooper(foto: Paulo Filgueiras/EM/D.A PRESS)
Lixo toma conta do gramado ao lado da pista de cooper (foto: Paulo Filgueiras/EM/D.A PRESS)


Programas de esporte e saúde
De acordo com a Secretaria Municipal de Esporte e Lazer (Smel), a cada 15 dias são realizadas ações do projeto Caminhar em cada uma das nove pistas que integram o programa. Das 7h às 9h, a equipe de profissionais e estagiários de Educação Física da Prefeitura de Belo Horizonte atende os caminhantes para avaliações físicas que incluem medições de pressão arterial, de massa corporal e de perímetro abdominal, peso e altura para calcular o Índice de Massa Corporal, além da média de frequência cardíaca após caminhada. No primeiro atendimento o caminhante é cadastrado pela equipe do Caminhar, que lhe encaminha comunicados das agendas de realização dos testes. Na Avenida dos Andradas, as ações ocorrem na esquina com a Avenida Mem de Sá.


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