Jornal Estado de Minas

Medicina da UFMG arrecada 400 mechas de cabelo destinadas a perucas de pacientes com câncer

Daniella, Michelle e Flora contribuem com fios para a confecção de perucas para ajudar os doentes - Foto: Edésio Ferreira/EM/DA PressDesde março, a estudante Mariana de Assis Fantini, de 11 anos, guardava com o maior cuidado 22 centímetros de seus cabelos louros, amarrados com um laço de fita. O objetivo era um só: doar para confecção de peruca e ajudar pacientes, adultos ou crianças, com câncer. Na tarde de ontem, em companhia da mãe Maria Clara de Assis Fantini, odontopediatra moradora do Bairro São Lucas, na Região Centro-Sul de Belo Horizonte, a menina mostrava a mecha e se dizia satisfeita com a missão cumprida. “É muito bom fazer feliz uma criança doente. Quando cortei o cabelo, no salão, pensei nisso. E esperei chegar este dia”, contou a menina. A exemplo de Mariana, dezenas de pessoas atenderam ao chamado da campanha Um fio, um sorriso, inédita na Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), na Região Hospitalar, na capital, e deram sua colaboração, na forma de cabelos levados de casa ou cortados na hora, e de doação de chapéus, lenços e toucas.


Eram 14h e o Diretório Acadêmico Alfredo Balena, no câmpus Saúde da universidade, já estava tomado pelos voluntários, professores, estudantes e equipe que contabilizou, no final, 70 cortes, 400 mechas e 300 itens, entre bonés, chapéus, lenços e outros. À frente da empreitada, a professora do Departamento de Pediatria da Faculdade de Medicina, Maria Aparecida Martins, também coordenadora do projeto de extensão Registro Hospitalar de Câncer: uma estratégia na atenção oncológica, informou que há várias possibilidades para o tratamento do câncer: cirúrgico, por quimioterapia, radioterapia, imunoterapia, entre outros.
“Entretanto algumas dessas opções terapêuticas podem causar efeitos indesejáveis como queda de cabelos, o que é motivo de sofrimento dos pacientes, principalmente quando adolescentes.”

Para reduzir o sofrimento e melhorar a autoestima dos pacientes, acrescentou Maria Aparecida, o projeto propõe a arrecadação, que contou com equipe profissional para fazer os cortes na hora, mediante assinatura de um termo de autorização do voluntário. A campanha vai continuar e quem quiser pode levar o cabelo (veja o quadro com orientações) à faculdade, que fica na Avenida Professor Alfredo Balena, 190, térreo (sala 83), das 8h30 às 12h e das 13h30 às 17h. Os fios serão encaminhados a uma empresa especializada, que, sem custos, confeccionará as perucas. Depois, elas serão entregues a pacientes do Hospital das Clínicas/UFMG, a partir de seleção feita com os setores de hemoterapia e oncologia.
André Arruda deixou os cabelos crescerem por um ano para doá-los - Foto: Edésio Ferreira/EM/DA Press
DOAR NÃO DÓI Depois de preencher uma ficha, numa tenda em frente ao Diretório Acadêmico, os voluntários louros, ruivos, castanhos ou de cabelos pretos esperavam o momento de fazer o corte, a cargo de uma equipe comandada pelo especialista Kleisson Charles. “Tivemos que reforçar o grupo, que era de quatro cabeleireiros, com mais dois profissionais”, disse Kleisson. Perto dali, a estudante de fisioterapia Daniela Lara, de 21, entregava as madeixas, sem medo, à cabeleireira Sueli Silva. “Doar não dói”, resumiu a história a estudante.

Moradora do Bairro Saudade, na Região Leste, a autônoma Michelle Françoise Lima de Faria, de 37, revela ser a primeira vez na doação de cabelos.
“Vim a pé até aqui”, contou enquanto deixava Thabata Montanari cortar os fios. “Minha filha Júlia doou aos oito anos”, contou a cabeleireira. Na cadeira ao lado, a estudante Flora Miranda, de 24, hoje com a vida dividida entre Brasília (DF) e BH, confessava ter pedido para tirar o máximo de cabelo. “Ele estava muito bonito, mas vai crescer de novo e ficar comigo. Antes disso, ajudo alguém que precisa”, observou a jovem.

O estudante de engenharia ambiental André Arruda, de 27, morador da Lagoinha, também deu a sua mecha de solidariedade. “Estou deixando crescer há um ano, exatamente para doar”.

Com turbantes, Lílian Helena Rosa Miquilino, cabeleireira, e Cecília Helena, de 15, mãe e filha moradoras do Bairro Urca, na Região da Pampulha, levaram sua contribuição: toucas de crochê. Em janeiro do ano passado, a adolescente foi diagnostica com câncer linfático e teve que se submeter a seis meses de quimioterapia. Em novo tratamento, a menina não foi bem-sucedida até fazer um transplante de medula no Hospital das Clínicas.
“Hoje ela está bem, o resultado dos exames foi normal”, contou Lílian com um sorriso de felicidade. “Em solidariedade a Cecília, nós todos da família raspamos a cabeça”, acrescentou.

 

FIOS PRECIOSOS

Confira algumas orientações para a doação de cabelos:

» Cabelos com qualquer tipo de química podem ser doados

» O comprimento das mechas doadas deve ser de, no mínimo, 15 centímetros, mas preferencialmente a partir de 20 cm

» O cabelo deve estar lavado e ao natural, sem nenhum produto pós-lavagem

» O projeto está, agora, apenas recebendo as mechas de cabelos, que devem estar secas, limpas, amarradas com uma gominha e enroladas em papel de seda. As doações devem ser entregues na Faculdade de Medicina/UFMG, que fica na Avenida Professor Alfredo Balena, 190, térreo (sala 83), de segunda a sexta-feira, das 8h30 às 12h e das 13h30 às 17h. Bonés, chapéus, toucas e lenços também pode ser entregues no local

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