O mural mais comentado nas ruas e nas redes sociais até agora é o que retrata as imagens dos mascotes do Clube Atlético Mineiro e do Cruzeiro, o galo e a raposa, no Edifício Satélite. Uns especulam que o galo está por cima porque o artista torce para o Galo, outros dizem que a raposa está partindo pro ataque e vai ganhar. “O galo está por cima porque é uma ave, portanto voa. Escolhi assim porque o espaço é vertical e por isso não consegui colocá-los frente a frente”, contou o responsável pela obra, Thiago Mazza. “Quando participei de um festival na Rússia, cujo tema era lendas e mitos, tomei conhecimento do conto russo da raposa e do galo, que conta a eterna rivalidade entre os animais. Daí comecei a desenhar os dois bichos e só depois de um tempo caiu a ficha e me lembrei do Atlético e Cruzeiro. Guardei o projeto e decidi que o faria como homenagem na minha cidade natal, Belo Horizonte”, contou Thiago.
Mazza ainda explicou a dinâmica da posição dos elementos no mural: “Eu os coloquei em posição de ying e yang, positivo e negativo, para representar o equilíbrio entre a raposa e o galo. Por causa da rivalidade natural dos dois, um não vive sem o outro”. Despertando comentários e olhares, o artista conta que embaixo do prédio há sempre movimento, pois a toda hora um para, chama outro pra ver, faz piadas e tira fotos. Há quatro dias do fim do projeto, Mazza agora focará no contraste entre claro e escuro e continuará a florear e dar detalhes ao quadro de 400 m².
Outro trabalho que abusa de detalhes e contrates é a tela da muralista Priscila Amoni. Pintando uma mulher de pele escura, de corpo inteiro, no Edifício Hotel Rio Jordão, Priscila contou que queria retratar o poder feminino, principalmente o das negras, que para ela, são as mais prejudicadas socialmente. No desenho, as plantas carregadas nas mãos e na cabeça da mulher são os desejos da artista para a cidade: “a dracena representa força, o alecrim, a alegria, a lavanda, calma, e a maranta, beleza. Pra mim, a pintura é uma forma de oração, uma forma de amor”.
SABORES MINEIROS Pela primeira vez em Belo Horizonte, o coletivo Acidum Project, de Fortaleza, no Ceará, formado por Robezio Marques e Tereza DeQuinta, se inspirou em aspectos da cidade como sons, sabores, ideias e cores, para incorporar seu mural, no Edifício Rio Tapajós, de maneira orgânica à paisagem da metrópole. “Amamos o feijão-tropeiro e o pão de queijo, temos comido muito bem aqui. Fora a grande hospitalidade mineiro, que nos faz nos sentir em casa, pois lembra muito o jeito de acolher do cearense”, disse Tereza. Ainda sobre as referências, segundo Robezio, também misturaram o Norte do país na pintura que abrange a maior tela do Cura. “A construção do desenho foi espontânea. Pesquisamos coisas sobre BH, vimos os desenho do artista francês que pintou murais por aqui na década de 1980. Trouxemos o surrealismo em figuras fantásticas e o abstrato”.
A dupla ainda promete mais coisas: “Até agora trabalhamos a base, na reta final, virá detalhes em estêncil e padronagens. Entre os dois personagens que estão conversando no mural, virá outro. E da boca deles sairá mais personagens”. Tereza assume o desafio e revela que esta é uma das maiores empenas grafitada pelos dois durante os 11 anos que trabalham juntos pintando.
DIRETO DA ESPANHA De fora do país, vinda do mediterrâneo europeu, a muralista Marina Capdevilla é a quarta e última artista a rasgar a paisagem belo-horizontina pintando, no Edício Trianon, elementos tipicamente nacionais como cocar indígena; o instrumento que dá ritmo ao samba, o pandeiro; uma máscara de Carnaval e o chapéu da pequena notável, Carmen Miranda, que na verdade é cidadã portuguesa. Assim como os outros três, suas cores são fortes e trazem os tons da bandeira o verde e o amarelo, com um toque de vermelho. * Estagiária sob supervisão do editor André Garcia