Armas de fabricação artesanal, mas com poder de fogo real, têm sido cada vez mais usadas por criminosos como alternativa quando enfrentam dificuldade de acesso a equipamentos de origem industrial. Prova disso é que esses artefatos, produzidos geralmente em fabriquetas de fundo de quintal, se tornaram mais frequentes em ocorrências policiais.
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Aumento de apreensões de armas revela poder de fogo do crime em MinasAdolescente de 14 anos é apreendida em fábrica de armas fechada pela polícia em BHGrupo responsável por venda de armas e munição para MG e ES é preso em ValadaresPolícia fecha fábrica de armas caseiras e apreende peças de submetralhadora em MinasForagido da Justiça é preso com drogas e submetralhadora em BHCasal rastreia celular roubado e assaltantes acabam presos na Grande BHOs flagrantes de falsas armas, que imitam as reais, mas não têm poder de fogo, também têm aumentado. Segundo a Secretaria de Estado de Segurança Pública (Sesp), as unidades recolhidas passaram de 2.311 em 2014 para 3.817 no ano passado, aumento de 65,1% no período. Neste ano, até maio, foram 1.718 réplicas apreendidas.
Juntas, armas artesanais e réplicas passaram a representar 31,55% do total dos artefatos apreendidos em Minas, ou praticamente um terço das apreensões de 2017. Neste ano, elas somaram 3.168 unidades de um total de 10.039 recolhidas.
NAS RUAS As estatísticas são atestadas no dia a dia do trabalho policial. De acordo com o chefe da Sala de Imprensa da Polícia Militar, major Flávio Santiago, pistolas e submetralhadoras artesanais têm sido cada vez mais presentes no volume de armamento apreendido. “Essas armas têm aumentado e, apesar de serem feitas com menos garantia de técnica e funcionamento, têm o mesmo poder para o cometimento de crimes”, alerta.
Ao contrário dos equipamentos que chegam a Minas vindos de rotas do tráfico de armas, geralmente de países da América Latina, essas são fabricadas de forma clandestina por pessoas com algum tipo de conhecimento em armamento. “Não temos uma quadrilha organizada fabricando armas no estado. De modo geral, são torneiros mecânicos, pessoas com algum conhecimento, que fazem essa produção em pequena escala em fundos de quintal, e vendem para a criminalidade”, afirma o delegado de Polícia Civil Rafael de Souza Horácio.
Um deses casos foi descoberto no dia 9 do mês passado, quando uma fábrica caseira de armas de fogo foi fechada pela Polícia Militar após denúncia anônima no Bairro Taquaril, na Região Leste de Belo Horizonte. Segundo a corporação, o local era conhecido por fornecer armamento a criminosos do bairro, além de fazer reparos em armas com defeitos.
OS NÚMEROS NA PRÁTICA
Confira alguns dos principais casos de apreensões recentes de armas em Minas
FABRICAÇÃO ARTESANAL
2/5/2017
Militares do 40º Batalhão da Polícia Militar descobrem uma fábrica artesanal de armas em uma casa na Rua Pedreiras, Bairro Menezes, em Justinópolis, Ribeirão das Neves, na Grande BH. No local foi apreendida uma submetralhadora, além de maquinário e ferramentas para a produção das armas. Os policiais foram até o endereço depois de receber informação de que armamentos estavam sendo comercializados, por meio de redes sociais, com criminosos da cidade.
18/5/2017
Briga entre dois estudantes de uma escola de Caxambu, no Sul de Minas Gerais, termina com uma arma artesanal apreendida pela Polícia Militar. Militares compareceram à Escola Estadual Domingos Gonçalves de Melo Mingote, no Bairro Santa Tereza, onde um jovem de 18 anos teria agredido outro de 17 com uma barra de ferro. No depoimento dos envolvidos, a PM recebeu a informação de que a vítima teria dado um tiro no dia anterior, próximo ao colégio. Com a presença da mãe do jovem, o estudante confessou a situação e disse aos militares que a arma estava em sua casa.
8/6/2017
Um fabricante de armas caseiras é preso em uma casa em Cachoeira da Prata, na Região Central de Minas Gerais. No imóvel, foram encontradas diversas peças próprias para montar armamento, uma submetralhadora e uma garrucha. Michel Felipe Batista de Alcântara, de 27 anos, afirmou que estava no ramo havia anos e que vendia o produto para criminosos de Belo Horizonte, Rio de Janeiro e São Paulo.
DESVIO DE ARMAS APREENDIDAS POR POLICIAIS
29/12/2016
O retorno para as ruas de armas apreendidas leva para a cadeia cinco policiais militares que atuavam no 40° Batalhão de Ribeirão das Neves, na Região Metropolitana de BH. Segundo investigações, os militares desviavam armamento apreendido em ocorrências e o vendiam a traficantes de drogas e assaltantes da região. Segundo a PM, eram desviados revólveres, pistolas e até submetralhadoras artesanais. Os preços variavam de R$ 4 mil a R$ 9 mil.
TRÁFICO DE ARMAS
28/3/2017
Uma quadrilha suspeita de tráfico de armas é desmantelada pela PM em Lagoa Santa, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. Com o grupo, são encontradas seis armas, sendo duas pistolas turcas de calibre 380, duas pistolas de calibre nove milímetros e duas de calibre .40.
23/6/2017
Um esquema de venda de armas é desmantelado em operação que termina com 16 pessoas presas, entre elas funcionários de empresas de armamento em Governador Valadares, no Vale do Rio Doce. A organização criminosa, segundo as investigações, fazia a venda do material para cidades mineiras e do Espírito Santo. Grande parte das negociações era feita por meio de aplicativos de celulares.
CORRUPÇÃO ENTRE AGENTES
25/5/2017
Operação no Centro de Remanejamento do Sistema Prisional (Ceresp) da Gameleira, na Região Oeste de Belo Horizonte, termina com a prisão de dois agentes prisionais. Um deles foi flagrado com duas armas de fogo, munição e quatro celulares.