Cerca de 400 pessoas de várias cidades de Minas e do Espírito Santo cortadas pelo Rio Doce, segundo organizadores, protestaram nesta segunda-feira, em Belo Horizonte, contra a decisão do Judiciário em suspender o processo criminal que tem como rés 22 pessoas, a Samarco, suas controladoras (Vale e BHP Billiton) e a VogBR, responsável pelo laudo da represa de Fundão. Os manifestantes gritaram palavras de ordem em frente a Justiça Federal, na Região Centro-Sul.
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Moradores atingidos por tragédia de Mariana protestam em BH contra suspensão de processoMilhares de ações sobre a tragédia de Mariana se arrastam na JustiçaVítimas da tragédia de Mariana ainda esperam novas casas e punição dos culpadosManifestação em BHOs advogados pediram a anulação do processo com a alegação de provas ilícitas – sustentam a tese de que telefonemas fora do período autorizado pela Justiça foram usados na denúncia pelo Ministério Público, que refuta a acusação. O magistrado suspendeu o processo até que as operadoras de telefonia esclareçam o assunto. Na prática, o juiz adotou a medida para não correr o risco de o processo ser anulado.
Atingidos pela lama da Samarco – diretamente ou indiretamente – reclamam da decisão. Ontem, cerca de 400 chegaram a BH, num evento organizado pelo Movimento dos Atingidos por Barragens. Eles levaram cruzes de madeira até o prédio da Justiça Federal, numa alusão aos 19 mortos pelo tsunami de lama e minério.
Ela mora numa casa alugada pela mineradora, mas faz questão de dizer que não é a mesma coisa: “A gente quer ter a nossa moradia. Queremos ter o nosso espaço.
Água
Dona Iolanda Gomes, de 60, veio de Resplendor, no Leste de Minas, reclamar que até hoje não pode cultivar as plantações de cebola, taioba e outras verduras que garantiam a renda mensal. “Se eu irrigá-las com água do rio, as plantas não sobrevivem, Morrem. Para beber água, eu compro galão com líquido mineral. É um gasto a mais. Lá se vão quase dois anos... É um absurdo”.
Já José de Fátima Lemes, de 62, reclama da falta de peixes ao longo do Doce. Pescador há quatro décadas, ele sente falta da profissão. “Desde que a lama chegou à cidade, não pescamos mais. Algumas espécies, como o cascudo e o pacumã, sumiram daquele trecho. Eu conseguia cerca de R$ 3 mil mensais. Sabe quanto recebo de benefício da Samarco? Mês passado depositaram em minha conta R$ 1.340. Para sacar o dinheiro, como moro na área rural, preciso viajar mais de 50 quilômetros”.
Os manifestantes, acampados na Praça da Assembleia, prometem novos atos nesta terça-e quarta-feira. Procurada, a Samarco informou que não se manifestaria sobre o protesto nem sobre a decisão judicial. .