“Em 70% dos caminhões em geral fiscalizados é constatado algum tipo de irregularidade, como falta de manutenção, especialmente nos freios, pneus e parte elétrica. Também percebemos muita imprudência e irresponsabilidade dos motoristas, com excesso de velocidade e desrespeito ao tempo de descanso e que eles dirigem até 15 ou 16 horas seguidas. Com os veículos que transportam cargas perigosas, isso não é diferente”, afirma o tenente Pedro Henrique Alves Barreiros, comandante do Policiamento do Anel Rodoviário de Belo Horizonte. De acordo com o policial, há casos em que os caminhões estão com pneus carecas ou recauchutados, lanternas e faróis queimados e o motorista é flagrado sem o cinto de segurança, dirigindo com excesso de velocidade. “Isso tudo aumenta as chances e a gravidade de um acidente”, afirma.
Os casos de ontem foram registrados em duas rodovias federais. Na BR-040, a batida envolveu duas carretas e ocorreu às 7h, na altura do km 575, em Itabirito, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. Um dos veículos transportava diisocianato de tolueno, também conhecido como TDI 80/20, produto considerado perigoso e, em tese, cancerígeno, usado na fabricação de espuma para colchões. O Corpo de Bombeiros usou terra e areia para fazer a contenção do produto, que é líquido e volátil. Depois de ser fechada, a pista foi parcialmente liberada por volta das 11h e assim permaneceu até o início da madrugada desta terça-feira. Segundo a PRF, o trânsito foi liberado à 0h30 de hoje, após o transbordo da carga e limpeza da pista.
O fechamento de rodovias nos casos acidentes que envolvem produtos perigosos tem revelado ainda outro problema: o longo tempo em que as estradas permanecem fechadas para cumprimento de protocolo de segurança. O tenente explica que diante do risco de contaminação do meio ambiente e das pessoas é preciso seguir regras rígidas de identificação da carga, isolamento da área – alguns num raio de até um quilômetro – além de contenção e posterior transbordo do produto, para finalmente limpeza da pista. “Muitas vezes, a empresa responsável pela carga não tem nem mesmo um plano de emergência. Em outros casos, ela não é de Belo Horizonte ou de Minas e é preciso vir um caminhão de outro estado”, afirma.
LEGISLAÇÃO O Batalhão de Polícia Militar Rodoviária é um dos órgãos que compõem um comitê que desde o mês passado trabalha para elevar o rigor no transporte de cargas perigosas em Minas. De acordo com a superintendente de Controle e Emergência Ambiental da Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, Ana Carolina Miranda, o grupo está discutindo e propondo medidas para evitar acidentes e também diminuir o impacto dessas tragédias para o meio ambiente, para as pessoas e, consequentemente, os transtornos que elas geram ao trânsito.
“As propostas devem incluir a exigência, às empresas, de uma plano de emergência, e a possibilidade de que elas tenham bases e equipamentos para fazer o atendimento em casos de acidentes em áreas situadas próximas à Região Metropolitana de Belo Horizonte, e também outras no estado”, explica Ana Carolina. Essa última medida foi adotada pelo município de São Paulo e pode ser seguida também em Minas.
Segundo a superintendente, a Semad já identificou trechos mais complicados para esse tipo de ocorrência, que são a BR-381, no sentido São Paulo, além de estradas da Zona da Mata e Triângulo Mineiro e da Grande BH. As proposições vão compor um projeto de lei que deve ser enviado à Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) até outubro.
Os trabalhos para a criação do PL são resultado de audiência pública convocada pela Comissão de Transporte, Comunicação e Obras Públicas da Assembleia. Membro da comissão, o deputado João Vítor Xavier (PSDB) destaca a importância da mudança na legislação. “O que a gente quer é uma legislação estadual que dê mais garantia de que o trabalho seja feito com mais segurança. Tem muita coisa que nem está prevista em legislação e é possível incluir para que a fiscalização seja mais rígida. Isso vai resultar em menos acidentes e também num menor impacto caso eles ocorram”, disse. Procurado, o assessor de segurança do Sindicato que representa as empresas de transporte de cargas em Minas não atendeu a ligação.
ALTO RISCO
Confira alguns dos acidentes com cargas perigosas em Minas neste ano
5/2 Uma carreta que transportava estireno monômero estabilizado, líquido altamente inflamável e asfixiante, tombou na BR-116, em Dom Cavati, na Região do Rio Doce. O acidente ocorreu por volta das 14h de um domingo e a pista só foi liberada 28 horas depois. O veículo saiu da pista e ficou pendurado às margens da rodovia. As causas não foram informadas.
25/5 O acidente com uma carreta bitrem carregada com 44 mil litros de óleo diesel fechou a BR-262, em Juatuba, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, por quase 24 horas. Duas pessoas morreram. O motorista da carreta perdeu o controle do veículo no sentido Belo Horizonte/Uberlândia, saiu da pista e caiu no canteiro central.
30/6 Uma carreta que transportava ácido sulfúrico tombou na AMG-150, na altura do km 2, em Nova Lima, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. A carga começou a vazar, mas foi contida antes de se espalhar pela pista, que ficou bloqueada.
24/7 Uma carreta bitrem com cerca de 48 toneladas de resíduos usados para alimentar fornos de uma fábrica de cimento ficou sem controle e parte da carga tombou no Anel Rodoviário. Segundo os bombeiros, o produto é tóxico e pode se tornar corrosivo em contato com a água, o que motivou o fechamento do trânsito no sentido Vitória por quatro horas.
26/7 Acidente com uma carreta de cilindro carregada de oxigênio, na BR-356, na Serra de Itabirito, na Região Central de Minas Gerais, fechou a rodovia por cinco horas. O caminhão seguia no sentido Itabirito/Belo Horizonte quando o motorista perdeu o controle da direção. O condutor alegou problemas no sistema de frenagem do veículo.