Porém, o que hoje se revela uma sensação de alívio e felicidade foi motivo de tristeza para Maria Alice. Na última quarta-feira, 9 de agosto, ela recebeu da mãe a notícia de que sua inscrição tinha sido negada pelo fato de ser menina. Acostumada a jogar desde os cinco anos e sempre estar junto dos garotos, já que não existe um time feminino para sua idade em Vieiras, ela sonhava estar no torneio. Ganhou até chuteira personalizada da mãe, a advogada e comerciante Eliane Barbosa. Os nomes Maria no pé direito e Alice no esquerdo indicam quem é a dona daquela ferramenta de trabalho que promete se destacar na competição daqui a uma semana.
Vendo a tristeza da filha com a resposta negativa da coordenação do Sesc, Eliane estudou o caso e procurou alguma brecha nas regras para interceder a favor da pequena jogadora, mas foi apelando para o sentimento das pessoas que acabou sensibilizando a organização e conseguiu realizar o sonho da filha.
Inspirada por um exemplo de São Paulo, Eliane criou um abaixo-assinado na internet pedindo apoio para a inscrição de Maria Alice, conquistando a ajuda de 19.379 pessoas. "A cidade inteira ficou na expectativa. Recebi uma ligação da coordenação do Sesc em Muriaé dizendo que a inscrição será aceita. A secretária de Esportes de Vieiras também me ligou, confirmando que foi orientada a colocar os dados da minha filha e tirar uma foto da página de inscrição, mostrando que tudo foi feito dentro do prazo, já que as inscrições se encerram hoje", diz Eliane.
Em nota, o Sesc, que inicialmente havia negado a participação, confirmou a inscrição de Maria Alice. A instituição justificou a negativa inicial dizendo que "segue os parâmetros das regras oficiais da Confederação Brasileira de cada modalidade. Dessa maneira, em seu regulamento, não prevê a modalidade de futsal sub-11 mista – com a participação de meninos e meninas na mesma equipe", diz a nota.
"Porém, o Sesc também idealizou a Copa Sesc partindo da compreensão do esporte como um processo de construção de identidade, autonomia e autoconfiança, que abrace os talentos espalhados por todos os cantos de Minas, respeitando a diversidade. Por esse motivo, o Sesc em Minas informa que a Maria Alice vai participar da Copa Sesc em Muriaé. Queremos que todos tenham oportunidade de se aperfeiçoar, crescer e competir. Buscamos realizar esse desejo não apenas na Copa Sesc mas, também, nos Cursos Sesc de Esportes, que atendem a mais de 5.700 pessoas, sendo 1441 meninos e meninas na modalidade futsal", informou a instituição.
O resultado não poderia ser outro: ao receber a notícia, a garota ficou muito feliz e foi logo avisar aos colegas, que são os maiores apoiadores da presença dela no time. "Como ela é praticamente a única menina que joga na cidade, sempre esteve junto com os meninos. Treina três vezes por semana e ainda brinca nos demais horários. Os treinos são sempre às 8h30 e todos os dias os meninos passam aqui na porta de bicicleta chamando ela para irem juntos", acrescenta Eliane.
Na publicação na internet, Eliane destacou que a filha tinha todas as condições para participar do torneio entre os meninos. "Como podemos explicar para ela que o fato de ser menina a impede de participar de uma competição, mesmo tendo condições físicas, psicológicas e técnicas suficientes para tanto?", disse a mãe na apresentação do abaixo-assinado publicado na internet.
Também pela internet, as pessoas que apoiaram a causa da garota inundaram as publicações do Sesc no Facebook com pedidos para que a instituição reconhecesse o erro e mudasse a postura, aceitando a menina no time. O início do torneio está marcado para 26 de agosto e as partidas serão disputadas em Muriaé. A Prefeitura Municipal de Vieiras ficará responsável por levar o time.