A longa estiagem é um dos fatores de penúria dos rios – só para se ter uma ideia, completam-se, neste domingo, na capital, 69 dias sem chover. O meteorologista Luiz Ladeia, do Instituto Nacional de Meteorologia, diz que a previsão de chuva é para daqui a um mês, na primeira quinzena de setembro. Em algumas cidades do Sul de Minas, já tivemos chuvas nos últimos dias”, ressalta Ladeia. Mas os especialistas alertam que não é só São Pedro o grande responsável pela penúria dos rios. Há também muita erosão, destruição de matas ciliares, com incêndio até mesmo de árvores em torno de nascentes, plantio de eucalipto, retirada desenfreada de água para irrigação ou em poços artesianos, lançamento de esgoto in natura e poluentes químicos, além de outros fatores que fazem os rios correrem “alto risco” a caminho do Oceano Atlântico.
Na região do Alto Jequitinhonha, que engloba 25 municípios do Vale do Jequitinhonha, do Serro a Rio Pardo de Minas, a escassez hídrica chega ao sexto ano consecutivo, diz o vice-presidente do comitê da bacia, João Francisco de Pinho. “Vivemos um momento crítico. Aqui, cerca de 80% dos afluentes do Jequitinhonha estão secos, entre eles o Congonhas, Itacambiruçu, Extrema e outros.” Preocupado com o presente e o futuro da região, Pinho destaca a importância das áreas de recarga para a vida. “O problema é que muitos seres humanos não sabem usar a água. De cada 10 poços artesianos, oito são irregulares, não têm documentação. Isso se deve muito à morosidade do estado em conceder a outorga. Em alguns casos, são dois anos de espera”, conta. Se a água escasseia, esperança não pode faltar. “Nosso povo é guerreiro. Precisamos manter a confiança para tudo voltar à normalidade”, resume.
Chamado de Rio da Unidade Nacional, o São Francisco tem 78% de produção de suas águas em Minas, ressalta a coordenadora da Câmara Regional Consultiva do Alto São Francisco, Sílvia Freedman. Ela também vê a redução gradativa dos afluentes, e estima em 70% o percentual de tributários secos ou secando. Residente em Três Marias, onde está a primeira barragem no curso do Velho Chico, Sílvia cita alguns rios que enfrentam sérios obstáculos na vazão, como o Pará, Paraopeba, Paracatu (um dos maiores em volume da bacia) e Abaeté (primeiro afluente após a barragem).
"Nosso maior temor é o São Francisco parar – e há esse risco, principalmente se a barragem de Três Marias chegar no volume morto. Se isso ocorrer, os geradores não poderão fazer a ‘drenagem de fundo”, fazendo o rio correr”, afirma. “Vivenciamos um período e há necessidade extrema de preservação de água para garantir o futuro”, observa Sílvia, explicando que o reservatório está com menos de 20% de sua capacidade. Como medidas para reduzir o cenário, a coordenadora cita o reflorestamento e adianta que a Câmara Consultiva Regional vai produzir 1 milhão de mudas de espécies do cerrado.
Restrições
Na Região do Triângulo, os especialistas fazem o monitoramento da vazão dos cursos d’água. “É necessário adotar estratégias para gestão do uso da água. Todos os usuários são cadastrados”, esclarece Fernando Faria, responsável técnico pelo processo de gerenciamento do Comitê de Afluentes Mineiros do Alto Paranaíba e integrante da Associação dos Usuários das Águas de Região de Monte Carmelo. Faria conta que já é tradição fazer alternância na captação de água para essa grande área produtora de café, ou seja, uns retiram água de dia e outros à noite. Como não há nenhum mar de rosas em parte alguma, podem vir mudanças. “Se piorar, vamos ter medidas restritivas, em especial no Rio Perdizes, afluente do Paranaíba. Assim, poderá ser apenas um dia de captação, com intervalo de dois dias.
Será que somente São Pedro pode ajudar? Na avaliação de Faria, pode e não pode. “É que se vier chuva vai quebrar a dormência do café, o que obrigará à irrigação. Daí, será necessário mais captação de água”, conclui.
Diretrizes
Diante do quadro de crise hídrica, o Instituto Mineiro de Gestão das Águas (Igam), vinculado à Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad), informa que o Conselho Estadual de Recursos Hídricos (Cerh) editou a Deliberação Normativa 49, em 26/3/2015, “que estabelece diretrizes e critérios gerais para a definição de situação crítica de escassez hídrica e de restrição de uso água em Minas”. A norma prevê três situações nas quais a sociedade deve estar alerta: 1) Estado de Atenção (antecede a situação crítica de escassez hídrica; 2) Alerta (antecede ao estado de restrição de uso) e 3) Restrição de uso (escassez hídrica caracterizado pelo período de tempo em que o estado de vazão ou o estado de armazenamento dos reservatórios indicarem restrições do uso da água em uma porção hidrográfica).
As bacias monitoradas pelo Igam se encontram na seguinte situação: 1) Atenção (Buritis jusante, na Bacia do São Francisco, Nova Era Telemétrica, no Doce, Usina Maurício, no Paraíba do Sul, Cachoeira Poço Fundo, no Grande, e Desemboque, no Paranaíba. 2) Alerta (Honório Bicalho, no São Francisco, Mário de Carvalho e Porto Firme, no Doce, Usina Couro do Cervo, no Grande, e Pega, no Jequitinhonha) e 3) Em restrição (Ponte Nova do Paraopeba, Carmo do Cajuru, Entre Rios de Minas, Santo Hipólito e Jardim, no São Francisco, Vila Matias e Naque, no Doce) e Abadia dos Dourados, no Paranaíba.
Na região do Alto Jequitinhonha, que engloba 25 municípios do Vale do Jequitinhonha, do Serro a Rio Pardo de Minas, a escassez hídrica chega ao sexto ano consecutivo, diz o vice-presidente do comitê da bacia, João Francisco de Pinho. “Vivemos um momento crítico. Aqui, cerca de 80% dos afluentes do Jequitinhonha estão secos, entre eles o Congonhas, Itacambiruçu, Extrema e outros.” Preocupado com o presente e o futuro da região, Pinho destaca a importância das áreas de recarga para a vida. “O problema é que muitos seres humanos não sabem usar a água. De cada 10 poços artesianos, oito são irregulares, não têm documentação. Isso se deve muito à morosidade do estado em conceder a outorga. Em alguns casos, são dois anos de espera”, conta. Se a água escasseia, esperança não pode faltar. “Nosso povo é guerreiro. Precisamos manter a confiança para tudo voltar à normalidade”, resume.
Chamado de Rio da Unidade Nacional, o São Francisco tem 78% de produção de suas águas em Minas, ressalta a coordenadora da Câmara Regional Consultiva do Alto São Francisco, Sílvia Freedman. Ela também vê a redução gradativa dos afluentes, e estima em 70% o percentual de tributários secos ou secando. Residente em Três Marias, onde está a primeira barragem no curso do Velho Chico, Sílvia cita alguns rios que enfrentam sérios obstáculos na vazão, como o Pará, Paraopeba, Paracatu (um dos maiores em volume da bacia) e Abaeté (primeiro afluente após a barragem).
"Nosso maior temor é o São Francisco parar – e há esse risco, principalmente se a barragem de Três Marias chegar no volume morto. Se isso ocorrer, os geradores não poderão fazer a ‘drenagem de fundo”, fazendo o rio correr”, afirma. “Vivenciamos um período e há necessidade extrema de preservação de água para garantir o futuro”, observa Sílvia, explicando que o reservatório está com menos de 20% de sua capacidade. Como medidas para reduzir o cenário, a coordenadora cita o reflorestamento e adianta que a Câmara Consultiva Regional vai produzir 1 milhão de mudas de espécies do cerrado.
Restrições
Na Região do Triângulo, os especialistas fazem o monitoramento da vazão dos cursos d’água. “É necessário adotar estratégias para gestão do uso da água. Todos os usuários são cadastrados”, esclarece Fernando Faria, responsável técnico pelo processo de gerenciamento do Comitê de Afluentes Mineiros do Alto Paranaíba e integrante da Associação dos Usuários das Águas de Região de Monte Carmelo. Faria conta que já é tradição fazer alternância na captação de água para essa grande área produtora de café, ou seja, uns retiram água de dia e outros à noite. Como não há nenhum mar de rosas em parte alguma, podem vir mudanças. “Se piorar, vamos ter medidas restritivas, em especial no Rio Perdizes, afluente do Paranaíba. Assim, poderá ser apenas um dia de captação, com intervalo de dois dias.
Será que somente São Pedro pode ajudar? Na avaliação de Faria, pode e não pode. “É que se vier chuva vai quebrar a dormência do café, o que obrigará à irrigação. Daí, será necessário mais captação de água”, conclui.
Diretrizes
Diante do quadro de crise hídrica, o Instituto Mineiro de Gestão das Águas (Igam), vinculado à Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad), informa que o Conselho Estadual de Recursos Hídricos (Cerh) editou a Deliberação Normativa 49, em 26/3/2015, “que estabelece diretrizes e critérios gerais para a definição de situação crítica de escassez hídrica e de restrição de uso água em Minas”. A norma prevê três situações nas quais a sociedade deve estar alerta: 1) Estado de Atenção (antecede a situação crítica de escassez hídrica; 2) Alerta (antecede ao estado de restrição de uso) e 3) Restrição de uso (escassez hídrica caracterizado pelo período de tempo em que o estado de vazão ou o estado de armazenamento dos reservatórios indicarem restrições do uso da água em uma porção hidrográfica).
As bacias monitoradas pelo Igam se encontram na seguinte situação: 1) Atenção (Buritis jusante, na Bacia do São Francisco, Nova Era Telemétrica, no Doce, Usina Maurício, no Paraíba do Sul, Cachoeira Poço Fundo, no Grande, e Desemboque, no Paranaíba. 2) Alerta (Honório Bicalho, no São Francisco, Mário de Carvalho e Porto Firme, no Doce, Usina Couro do Cervo, no Grande, e Pega, no Jequitinhonha) e 3) Em restrição (Ponte Nova do Paraopeba, Carmo do Cajuru, Entre Rios de Minas, Santo Hipólito e Jardim, no São Francisco, Vila Matias e Naque, no Doce) e Abadia dos Dourados, no Paranaíba.