Três Marias e Felixlândia – Pescador mais antigo na cidade de Três Marias (Região Central), Norberto Antônio dos Santos, de 69 anos, lamenta o baixo volume da represa batizada com o nome do município, formada pelo São Francisco e seus tributários: “É preciso chuva para não chegar ao volume morto”.
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Resultado: há mudança na paisagem, despontando bancos de areia sobretudo na parte tradicionalmente mais rasa do reservatório, e interferência na economia da região. A quantidade de turistas diminuiu, interferindo no lucro de comerciantes. “Desde o início do ano, calculo que o movimento seja cerca de 40% menor”, lamentou dona Sandra Leal dos Santos, de 53, a mais antiga dona de barracas na principal praia de Três Marias.
“Estamos aqui há três décadas.
O criador de tilápias Marcos Aurélio de Lima, de 46, alerta que a defluência maior que a afluência prejudica criadores de tilápias na represa. O problema afeta mais aqueles que têm gaiolas nas partes menos profundas, como em Felixlândia.
DIFICULDADES A situação não prejudica apenas quem ganha a vida com peixes em cativeiro. Pescadores lamentam a dificuldade de capturar algumas espécies no lago.
Mas não é só a estiagem na região e a necessidade de socorro a Sobradinho que levaram o reservatório mineiro à atual situação. O ser humano tem grande parcela de culpa, destaca seu Norberto, o pescador mais experiente de Três Marias. “As florestas de eucaliptos ajudam a secar as nascentes dos afluentes do Velho Chico. E o desmatamento interfere nas ‘veinhas’ (córregos e riachos)”, alerta. Quem viaja de BH à represa passa em pontes sobre ribeirões que, há alguns anos, eram caudalosos. Hoje, estão praticamente secos. É o caso do Extrema Grande, limite natural entre os territórios de Três Marias e Felixlândia. Em situação semelhante, o Riacho Frio, o Rio do Boi e o Córrego Olhos d’Água.
Procurada para esclarecer quando a situação em Três Marias deverá retornar à normalidade, a Cemig informou que “a gestão da usina é compartilhada com o Operador Nacional do Sistema (ONS) e envolve outros reservatórios na bacia do São Francisco”.