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Estado de Minas

Falta de chuva coloca reservatório de Três Marias no limite

Represa tem volume útil de apenas 20,6%. Escassez hídrica prejudica o turismo e, consequentemente, a economia local


postado em 21/08/2017 06:00 / atualizado em 21/08/2017 07:33

Volume da represa de Três Marias diminui pela falta de chuvas, preocupando moradores, pescadores e donos de embarcações. Na foto, recuo já faz aparecer ilhas, banco de areia, e galhos de árvores (foto: Beto Novaes/EM/D.A PRESS)
Volume da represa de Três Marias diminui pela falta de chuvas, preocupando moradores, pescadores e donos de embarcações. Na foto, recuo já faz aparecer ilhas, banco de areia, e galhos de árvores (foto: Beto Novaes/EM/D.A PRESS)
Três Marias e Felixlândia – Pescador mais antigo na cidade de Três Marias (Região Central), Norberto Antônio dos Santos, de 69 anos, lamenta o baixo volume da represa batizada com o nome do município, formada pelo São Francisco e seus tributários: “É preciso chuva para não chegar ao volume morto”.


“O São Francisco, nos últimos anos, apresenta uma hidrologia muito abaixo da média histórica, o que tem influenciado no nível dos reservatórios das usinas da região. No caso de Três Marias, o volume do reservatório em 16 de agosto foi de 20,59%. Em 2016, a média de agosto foi de 27,10%, e em 2015, no mesmo mês, de 27,18%”, informou o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), órgão responsável pela coordenação e controle da operação das instalações de geração e transmissão de energia no Sistema Interligado Nacional.

Apesar disso, nas últimas semanas, o reservatório registra, diariamente, defluência (quantidade de água liberada pela barragem) em ritmo mais acelerado que afluência (quantidade que chega). Para se ter ideia, na última sexta-feira, esses indicadores foram de 276 metros por segundo e 41 metros por segundo, respectivamente. O principal motivo está no sertão da Bahia: Três Marias precisa liberar mais água do que recebe para evitar que a usina de Sobradinho, a léguas de distância, entre em colapso por causa da falta de chuva naquele semiárido. Por isso, o volume útil da represa mineira está em 20,6%.

Resultado: há mudança na paisagem, despontando bancos de areia sobretudo na parte tradicionalmente mais rasa do reservatório, e interferência na economia da região. A quantidade de turistas diminuiu, interferindo no lucro de comerciantes. “Desde o início do ano, calculo que o movimento seja cerca de 40% menor”, lamentou dona Sandra Leal dos Santos, de 53, a mais antiga dona de barracas na principal praia de Três Marias.

“Estamos aqui há três décadas. Temos de torcer para chegar mais chuva para as coisas não piorarem. Há alguns anos, o volume d’água chegava mais perto das barracas. Hoje, está bem distante. Você viu a embarcação encalhada na ilha atrás daquele monte?”, questionou Djalma José, de 57, marido da comerciante. A embarcação a que ele se referiu pertence à Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco (Codevasf). Por causa da longa estiagem, que teve seu ápice em 2014, o transporte encalhou.

O criador de tilápias Marcos Aurélio de Lima, de 46, alerta que a defluência maior que a afluência prejudica criadores de tilápias na represa. O problema afeta mais aqueles que têm gaiolas nas partes menos profundas, como em Felixlândia. “O baixo volume muda a temperatura da água, o que reduz a oxigenação para os peixes. Eles morrem”, explicou Sebastião Aparecido Pires, de 54. Por causa do nível baixo da represa, ele decidiu encerrar a atividade. “Os peixes não estão crescendo como deveriam por essas bandas. É prejuízo. Eu parei. Para você ter ideia do quanto o nível da água caiu, o normal é (o leito) cobrir todas essas galhas que hoje estão à nossa vista.”

DIFICULDADES A situação não prejudica apenas quem ganha a vida com peixes em cativeiro. Pescadores lamentam a dificuldade de capturar algumas espécies no lago. “Entre elas, o surubim, que tem bom valor de mercado. É uma espécie que vive em águas profundas. Como a represa está com menos água, fica difícil encontrá-lo”, reclamou Sebastião de Jesus Souza, de 63.

Mas não é só a estiagem na região e a necessidade de socorro a Sobradinho que levaram o reservatório mineiro à atual situação. O ser humano tem grande parcela de culpa, destaca seu Norberto, o pescador mais experiente de Três Marias. “As florestas de eucaliptos ajudam a secar as nascentes dos afluentes do Velho Chico. E o desmatamento interfere nas ‘veinhas’ (córregos e riachos)”, alerta. Quem viaja de BH à represa passa em pontes sobre ribeirões que, há alguns anos, eram caudalosos. Hoje, estão praticamente secos. É o caso do Extrema Grande, limite natural entre os territórios de Três Marias e Felixlândia. Em situação semelhante, o Riacho Frio, o Rio do Boi e o Córrego Olhos d’Água.

Procurada para esclarecer quando a situação em Três Marias deverá retornar à normalidade, a Cemig informou que “a gestão da usina é compartilhada com o Operador Nacional do Sistema (ONS) e envolve outros reservatórios na bacia do São Francisco”. Por sua vez, o ONS comunicou que “é preciso esperar o próximo período úmido, que começa normalmente no fim de novembro e vai até abril, para se ter uma ideia de como ficará a situação do reservatório da usina”.


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