O orgulho de carregar a bandeja é algo indescritível. Postura, carisma e brio deixam o jovem Raphael Lima, de 24 anos, altivo. Com camisa, calça e avental na cor preta, ele maneja com cuidado e atenção seu instrumento de trabalho. Prefere servir comidas a bebidas, mas abre uma garrafa de vinho com destreza de profissional. Para o rapaz, que tem down, a atividade tem gostinho especial. É sonho realizado. É barreira superada. Ao lado de outros sete jovens também com a síndrome, Raphael integra a equipe de garçons que promete fazer a diferença numa das mostras de decoração mais prestigiadas de Belo Horizonte, integrando a ambientes sofisticados e criativos a oportunidade e a inclusão.
A ideia de fazer uma participação diferente veio logo que as sócias do Made by Debbie, Débora Cabral e Silvana de Oliveira, receberam, em maio deste ano, o convite para assumir o restaurante da mostra Morar mais por menos. O evento começa na semana que vem e vai durar 10 dias. As duas fazem pós-graduação em inclusão de pessoas com down e usaram os grupos que têm nas redes sociais para divulgar a ideia e recrutar interessados. Dos 18 recrutados, 12 foram selecionados e oito permaneceram até o fim: Igor Abreu, de 16, Davidson Vieira Júnior, de 18, Thamiris Barbosa, de 19, Luan Moges, de 22, Marcela Vaz, de 23, Raphael Lima, de 24, Antônio Dipré, de 25, e Vanessa Nascimento, de 32. “O objetivo é dar visibilidade a eles na sociedade. A inclusão de verdade pode ser feita desde que consigamos ter um treinamento multi e interdisciplinar, pois, assim, conseguimos qualificá-los”, afirma Débora.
Não é apenas um manejo de bandejas, O aprendizado dos segredos de como servir bem e com elegância tem o apoio de várias terapias, como fisioterapia, terapia ocupacional, fonoaudiologia, acompanhamento psicológico e musicoterapia, para ajudar em aspectos diversos, como autoconfiança, autonomia, desenvolvimento da fala e melhora do equilíbrio. A turma ainda faz academia para garantir força e resistência. “O trabalho de garçom exige preparo físico e psicológico”, ressalta Débora.
O grupo está em treinamento há apenas um mês e meio e já dá show. Etiqueta, postura, serviço do vinho e do espumante e um pouco de cerimonial. O maitre e sommelier Alitton Sousa garante que passa tudo o que o mercado exige dos profissionais, sem facilitar. “É um desafio gostoso. Os alunos são interessados e empenhados. Todo mundo quer fazer e repetir. Há vontade de aprender em cada um deles. Um gesto simples, como pegar uma taça, que eles se esforçam tanto para fazer e conseguem, é uma vitória”, diz.
Ontem, os oito novos garçons passaram por uma prova de fogo: treinamento para o coquetel de abertura da mostra, que contará com 500 convidados. Atender com elegância e educação, servir os pratos e circular com taças e garrafas em bandejas ou pendurados nos dedos foram algumas das lições, que já vêm sendo praticadas ao fim de cada semana em happy hours e almoços reais. Neles, a clientela dá o retorno sobre o que está bom e o que precisa melhorar. Eles já trabalharam até num aniversário de 65 anos. “No início, os convidados se assustaram. Mas, depois, todos gostaram da ideia e queriam até tirar fotos com eles”, conta Débora, acrescentando que estão prontos para fazer qualquer evento, de aniversários e jantares e grandes festas. No fim de semana, eles tiveram a tarefa de servir, no aniversário de 82 anos do pai de Silvana, o mesmo cardápio que será servido no coquetel.
Silvana garante que os pupilos arrasam quando precisam servir de verdade. Para não se confundirem com os pedidos, foi montado um sistema de comanda individual. “O que erram no protocolo de abrir um vinho compensam na simpatia”, diz.
REMUNERAÇÃO
O curso de garçom é o primeiro módulo. A ideia é que a turma continue estudando e passe para as brigadas da cozinha para aprender tudo o que está relacionado à gastronomia, como o trabalho de sommelier e de garde manger. Na mostra, os garçons vão trabalhar 20 horas por semana e receber R$ 1 mil, além de transporte e alimentação. “É preciso que eles e as famílias entendam que eles são competentes, podem trabalhar e devem ser remunerados por isso, como qualquer outra pessoa. Empregá-los não é um favor prestado por ninguém”, ressalta Débora.
Nessa qualificação, os pais também têm acompanhamento psicológico para conter a ansiedade e o medo de deixar os filhos ganharem o mundo. Avó da jovem Thamiris, Lourdes Vitoriana da Silva Barbosa, de 62, se emociona ao falar da neta, uma bela estudante do 2º ano do ensino médio, modelo, nadadora e dançarina de jazz. “Tudo para ela é desafio. Liguei num domingo à tarde para a Débora. Ela foi recrutada e deu muito certo”, relata.
Vanessa Nascimento é outra aluna delicada, competente e dedicada. Ela já teve outras experiências profissionais, incluindo uma casa de lanches num shopping da Região Centro-Sul, mas essa, ela diz ser especial. “Fiquei um pouco nervosa no início, mas está sendo muito bom. Quero continuar. As aulas de garçom são as de que mais gosto”, diz. Para Raphael, vestir o uniforme, segurar a bandeja e servir é mais que uma oportunidade. “Meu sonho era ser garçom. Agora eu consegui ser um.”
SERVIÇO
Made by Debbie na Morar mais por menos
23 de agosto a 1º de outubro
Avenida dos Bandeirantes, 800, Mangabeiras
No restaurante, a entrada é gratuita e o espaço é aberto ao público
A ideia de fazer uma participação diferente veio logo que as sócias do Made by Debbie, Débora Cabral e Silvana de Oliveira, receberam, em maio deste ano, o convite para assumir o restaurante da mostra Morar mais por menos. O evento começa na semana que vem e vai durar 10 dias. As duas fazem pós-graduação em inclusão de pessoas com down e usaram os grupos que têm nas redes sociais para divulgar a ideia e recrutar interessados. Dos 18 recrutados, 12 foram selecionados e oito permaneceram até o fim: Igor Abreu, de 16, Davidson Vieira Júnior, de 18, Thamiris Barbosa, de 19, Luan Moges, de 22, Marcela Vaz, de 23, Raphael Lima, de 24, Antônio Dipré, de 25, e Vanessa Nascimento, de 32. “O objetivo é dar visibilidade a eles na sociedade. A inclusão de verdade pode ser feita desde que consigamos ter um treinamento multi e interdisciplinar, pois, assim, conseguimos qualificá-los”, afirma Débora.
Não é apenas um manejo de bandejas, O aprendizado dos segredos de como servir bem e com elegância tem o apoio de várias terapias, como fisioterapia, terapia ocupacional, fonoaudiologia, acompanhamento psicológico e musicoterapia, para ajudar em aspectos diversos, como autoconfiança, autonomia, desenvolvimento da fala e melhora do equilíbrio. A turma ainda faz academia para garantir força e resistência. “O trabalho de garçom exige preparo físico e psicológico”, ressalta Débora.
O grupo está em treinamento há apenas um mês e meio e já dá show. Etiqueta, postura, serviço do vinho e do espumante e um pouco de cerimonial. O maitre e sommelier Alitton Sousa garante que passa tudo o que o mercado exige dos profissionais, sem facilitar. “É um desafio gostoso. Os alunos são interessados e empenhados. Todo mundo quer fazer e repetir. Há vontade de aprender em cada um deles. Um gesto simples, como pegar uma taça, que eles se esforçam tanto para fazer e conseguem, é uma vitória”, diz.
Ontem, os oito novos garçons passaram por uma prova de fogo: treinamento para o coquetel de abertura da mostra, que contará com 500 convidados. Atender com elegância e educação, servir os pratos e circular com taças e garrafas em bandejas ou pendurados nos dedos foram algumas das lições, que já vêm sendo praticadas ao fim de cada semana em happy hours e almoços reais. Neles, a clientela dá o retorno sobre o que está bom e o que precisa melhorar. Eles já trabalharam até num aniversário de 65 anos. “No início, os convidados se assustaram. Mas, depois, todos gostaram da ideia e queriam até tirar fotos com eles”, conta Débora, acrescentando que estão prontos para fazer qualquer evento, de aniversários e jantares e grandes festas. No fim de semana, eles tiveram a tarefa de servir, no aniversário de 82 anos do pai de Silvana, o mesmo cardápio que será servido no coquetel.
Silvana garante que os pupilos arrasam quando precisam servir de verdade. Para não se confundirem com os pedidos, foi montado um sistema de comanda individual. “O que erram no protocolo de abrir um vinho compensam na simpatia”, diz.
REMUNERAÇÃO
O curso de garçom é o primeiro módulo. A ideia é que a turma continue estudando e passe para as brigadas da cozinha para aprender tudo o que está relacionado à gastronomia, como o trabalho de sommelier e de garde manger. Na mostra, os garçons vão trabalhar 20 horas por semana e receber R$ 1 mil, além de transporte e alimentação. “É preciso que eles e as famílias entendam que eles são competentes, podem trabalhar e devem ser remunerados por isso, como qualquer outra pessoa. Empregá-los não é um favor prestado por ninguém”, ressalta Débora.
Nessa qualificação, os pais também têm acompanhamento psicológico para conter a ansiedade e o medo de deixar os filhos ganharem o mundo. Avó da jovem Thamiris, Lourdes Vitoriana da Silva Barbosa, de 62, se emociona ao falar da neta, uma bela estudante do 2º ano do ensino médio, modelo, nadadora e dançarina de jazz. “Tudo para ela é desafio. Liguei num domingo à tarde para a Débora. Ela foi recrutada e deu muito certo”, relata.
Vanessa Nascimento é outra aluna delicada, competente e dedicada. Ela já teve outras experiências profissionais, incluindo uma casa de lanches num shopping da Região Centro-Sul, mas essa, ela diz ser especial. “Fiquei um pouco nervosa no início, mas está sendo muito bom. Quero continuar. As aulas de garçom são as de que mais gosto”, diz. Para Raphael, vestir o uniforme, segurar a bandeja e servir é mais que uma oportunidade. “Meu sonho era ser garçom. Agora eu consegui ser um.”
SERVIÇO
Made by Debbie na Morar mais por menos
23 de agosto a 1º de outubro
Avenida dos Bandeirantes, 800, Mangabeiras
No restaurante, a entrada é gratuita e o espaço é aberto ao público