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Sobre a alimentação da vítima, Rodolfo explicou que em algumas ocasiões os policiais viram o pai servindo a alimentação a ela em potes de sorvete e, em outras, geralmente mais à noite, jogava a comida por cima do muro, que era alto. “Segundo o pai, os potes eram usados porque ela poderia quebrar o prato. Ele disse ainda que ela comia com talheres, mas a gente não viu isso”, disse o delegado.
No lote, havia veículos estacionados e esse pequeno quarto, onde havia uma cama de solteiro com colchão forrado com um plástico, uma cadeira e um pequeno banheiro, com uma privada. O pai dela foi apresentado à imprensa na manhã de ontem. De acordo com as primeiras informações da investigação, o transtorno mental da vítima foi o principal motivo para a ação criminosa do casal.
Segundo o policial, a situação era tratada pelos suspeitos como normal. “Ele fala que estava cuidando dela e que ela dava muito trabalho, porque suja a casa, e que tinha que ter muita paciência com ela”, disse Rodolfo. O pai afirmou também à polícia que não tinha condições de manter uma pessoa fixa para tomar conta da filha e que “achou mais seguro mantê-la com os carros e o cachorro durante o dia e, à noite, trancá-la”. Já a madrasta contou à polícia que cuidava da mulher, que dava banho e alimentos e confirmou que concordava com a situação. “Os dois acham que o melhor para ela era esse tipo de conduta”, disse o delegado.
A vítima foi encaminhada ao Centro de Referência em Saúde Mental (Cersam) Nordeste, unidade da rede do Sistema Único de Saúde de BH (SUS-BH), para ser atendida e medicada. Posteriormente, ela será entregue às três irmãs que, segundo a polícia, tinham ciência da situação, mas não intervieram já que o pai era o tutor e decidia sobre a situação. A vítima é a filha mais velha do carreteiro.
Em entrevista, o pai informou à imprensa que já tentou, por várias vezes, conseguir um laudo que atestasse o problema de saúde da filha, bem como buscou tratamento médico para ela. A demanda teria sido levada à rede de saúde do município desde que a filha era criança, mas nunca houve retorno. “A gente trabalha da maneira que a família pode.
VISITAS NEGADAS Por meio de nota, a Secretaria Municipal de Saúde (SMSA) afirmou que a residência onde a vítima era mantida em cárcere privado vinha sendo visitada desde junho de 2015 por um agente comunitário de saúde (ACS), época em que a família foi cadastrada pelas equipes do Sistema Único de Saúde (SUS). “De acordo com a agente comunitária de saúde responsável por visitar o domicílio da paciente (conforme prevê ações do Programa de Saúde da Família do município), desde o cadastro da família, em 2015, foram realizadas visitas regulares ao imóvel, contudo, o pai da paciente, José Tomé da Cruz, se negava a receber a agente dentro da casa, respondendo a ficha de visita no portão. Desde o cadastro, foram sete visitas dos profissionais de saúde em que não foram encontrados moradores”, explicou a secretaria.
A pasta esclareceu que a entrada dos agentes nas casas ocorre somente com o consentimento dos moradores, por isso, a ACS desconhecia os crimes praticados contra a jovem. Desde sexta-feira, a vítima está em tratamento multidisciplinar em período integral do Centro de Referência em Saúde Mental (Cersam) Nordeste, onde recebe visita dos familiares. “Nesta unidade, que é de porta aberta, atendendo livre demanda, nunca houve nenhuma demanda de atendimento desta paciente por meios próprios ou por terceiros”, esclareceu a SMSA.
ROTINA DE HORROR
Entenda como era o cotidiano da mulher mantida em cárcere privado em um lote no Bairro Goiânia, na Região Nordeste de Belo Horizonte
Fonte: Polícia Civil
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