Mateus Henrique da Silva disse que fazia caminhada por volta das 7h de domingo quando foi abordado por um homem armado numa caminhonete preta. “Não foi sequestro, não foi assalto e, mesmo que pareça, não foi homofobia. Foi estupro. Eu não daria conta de reproduzir aqui o meu depoimento, e tampouco sei se algum dia darei”, escreveu. “Em resumo, um sujeito para de carro do meu lado, aponta uma arma na minha cara e me faz escolher entre entrar no veículo ou levar um tiro ali mesmo. E não, não tinha ninguém na rua, e também não, não tinha como correr. Ele roda um tempo, entra na mata, e o ato com paus, pedras e arame farpado começa”, contou, no Facebook.
“Caso eu quisesse gritar, a arma na minha boca não deixaria. (...) Não foi sexo, foi tortura”, diz, num dos pontos mais dramáticos do relato. “Mas como eu saí vivo? Segundo o cidadão, ele queria uma menina que provavelmente ia matar depois; já que encontrou só um garoto, esse ia salvar a vida dela. ‘Parabéns, você salvou uma mulher hoje’, disse ele depois de me amordaçar, amarrar e mandar correr descalço no asfalto quente antes que ele voltasse com outra ideia.”
Mateus afirma que, durante o percurso de quase uma hora e meia, mais de 20 pessoas passaram por ele e todas negaram ajuda. “Acharam que eu era drogado, assaltante... Tudo bem, eu entendo, mas não custava chamar a polícia que era a única coisa que eu conseguia gritar. Eu estava sozinho. Com medo. Por fim, um motoqueiro me faz esse grande favor e depois de meia hora chega a bendita polícia”, relata.
No boletim de ocorrência, a polícia relata que encontrou Mateus sentado na beira da estrada com as mãos e pés amarrados, de calça jeans e sem camisa, bastante abalado. A vítima tinha riscos no corpo todo e pedaços de galho seco introduzidos no lóbulo da orelha esquerda. Os militares afirmam ter levado o jovem ao Hospital São José, onde ele foi medicado pela plantonista, que constatou a violência sexual. A direção do hospital disse que precisava de tempo para confirmar informações.
DESABAFO Em seu texto, Mateus criticou o atendimento, dizendo que nem os policiais nem a equipe médica estavam preparados para um caso semelhante. “Mas você conhecia o agressor? Por que você não correu? Ele não titubeou nenhum momento pra você se aproveitar? e ‘o indivíduo alega’ foram as melhores pérolas que ouvi. Como sempre a culpa é da vítima.”
A assessoria da Polícia Civil informou que Mateus foi orientado por telefone sobre quais procedimentos tomar. Em caso de estupro masculino, a vítima deve comparecer à delegacia para fazer a representação e só a partir daí as investigações são instauradas – diferentemente do crime envolvendo mulheres, cujo procedimento é automático. O Estado de Minas tentou falar com Mateus , mas, até o fechamento desta edição, não obteve sucesso.