Nos últimos dois anos, Dagson fez vários projetos de intercâmbio e exposições na França. Na última viagem, em março, quando participava de um festival, decidiu tentar a sorte. Sua estadia coincidiu com o período em que as escolas abrem suas portas a futuros alunos. De três instituições visitadas, o belo-horizontino se apaixonou pela Escola Superior de Arte e Design de Marseille, no Sul do país europeu.
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Pouco tempo depois, o adolescente ganhou oficialmente o cargo de oficineiro. Em paralelo, Dagson trabalhou como agente cultural na Secretaria Municipal de Educação em várias escolas e como professor na Arena da Cultura, projeto de formação artística e cultural da Fundação Municipal de Cultura. “Quando comecei a trabalhar no aglomerado, queria mostrar outra perspectiva e a minha visão. Isso me deu experiência de relação com o próximo para trabalhar a arte no contexto de cooperação e trabalho coletivo. Minhas temáticas sempre envolvem o outro”, conta. A atuação abordando arte no próprio território e articulado com questões da sociedade foram os diferenciais no currículo que encantaram a escola francesa durante a seleção.
O jovem mostra humildade com os novos rumos que a vida toma: “Comecei com a necessidade de provocar mudanças sociais, mas era bem despretensioso.
PESQUISA Levar a periferia para outros espaços e lhe dar, assim, outros significados. A arte do jovem grafiteiro é baseada no cotidiano e personagens do Morro das Pedras. Diariamente, ele se empenha em pesquisas para descobrir e redescobrir sua comunidade. Desenha, fotografa e grava vídeos. Na hora de grafitar, sempre lhe vem algo disso para servir de inspiração. As trocas culturais do aglomerado são valorizadas, com seus moradores oriundos de quilombolas, comunidades tradicionais indígenas, Vale do Jequitinhonha e tantas outras partes do país.
Nos muros, a pintura é mais rápida. Na parede de uma casa, personagens em desenho contemporâneo estão retratados em meio a pedras, um rio e barraco de madeira, em alusão a um cenário que mostra a história do Morro e com elementos que ele já teve. Já as telas têm enredos mais detalhados e aprofundados.
Desafio agora é garantir anuidade
As aulas na França começam em setembro. No dia 9 o grafiteiro Dagson Silva embarca para um grande sonho. As economias servirão para se manter em terras europeias, mas ele ainda precisa arrecadar R$ 15 mil, o equivalente a 60% do total necessário para custear o estudos durante os próximos dois anos. Somente a anuidade da faculdade em Marseille custa 1,7 mil euros (cerca de R$ 6,1 mil). Para isso, ele lançou na internet uma campanha de financiamento coletivo (www.catarse.me/vaidagsonsilva).
Uma bolsa parcial de estudos de uma instituição que não quer o nome divulgado é outra grande ajuda. “Se eu não conseguir o valor todo, tentarei uma alternativa. Mas vou ocupar minha vaga de qualquer maneira”, afirma. No momento, não há bolsa de estudos oferecida por órgão do estado ou outra instituição.
O jovem batalhador do Morro das Pedras participou de uma residência artística, de uma exposição individual e de festivais em Paris e Lyon. Ele já acumula no currículo duas premiações, uma nacional e outra internacional – Prêmio Agente Jovem de Cultura 2012, do Ministério da Cultura e Secretaria da Cidadania e da Diversidade Cultural, e o Graffitti Art 2015, Festival do Graffiti e de Street art em Lyon (França). A exposição individual foi feita ano passado, numa importante galeria de arte de Lyon. Cinquenta e três telas representaram a cultura popular brasileira. As obras foram construídas a partir de uma pesquisa artística feita no Morro das Pedras sobre a estética e os elementos simbólicos da cultura local.
Desde 2014, Dagson Silva prepara seus alunos para o momento da partida ao tão sonhado intercâmbio. A ideia é que um dos pupilos assuma o posto em Belo Horizonte. “Eles estão empolgados e muitos estão comigo há sete anos. Às vezes, não vale só falar que é possível fazer outros caminhos. É preciso provar.”
Um dos que torcem pelo sucesso do mestre é o estudante Pablo Cristian Moreira dos Santos, de 16 anos. Aluno do 2º ano do ensino médio, ele frequenta aulas de grafite desde 2012, mas, na faculdade, quer seguir um caminho totalmente diferente: biomedicina. Mesmo assim, ele pensa em continuar as oficinas por mais dois anos, inspirado nas ideias do professor que o preparou para desenhar e, como diz, para enfrentar a vida: “Ele sempre fala para tentarmos fazer o que quisermos e seguir nossos sonhos”..