Ouro Preto – Ao mudar, há quatro anos, para uma área rural entre os distritos de Lavras Novas e Chapada, em Ouro Preto, na Região Central, três belo-horizontinos – um casal e a cunhada – deixaram para trás a violência, o trânsito caótico e todo o estresse da vida urbana. O problema é que um inimigo destruidor os seguiu, sob a forma da estação seca que deixa o mato preparado para o pior: o fogo. O músico Oscar Neves, a mulher, Elieth Bragança, bibliotecária, e a irmã dela e sócia num empreendimento cultural, Elizabete Bragança, foram surpreendidos pelas labaredas, que impulsionadas pelo vento se aproximavam cada vez mais da residência, perto do trevo da Chapada.
Casos como o enfrentado por eles já consumiram em Minas, de janeiro a meados de agosto, quase 2 mil hectares vegetação, algo como 2 mil campos de futebol. Segundo a Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad), o número de ocorrências ultrapassa o mesmo período no ano passado. Em 2017 são 275, contra 190 no ano passado, incluindo áreas internas e entorno de unidades de conservaçao. Já os bombeiros combateram mais de 5,7 mil incêndios em todo o estado.
No caso da família de belo-horizontinos que se mudou para Ouro Preto, o pavor das chamas e a sensação de desamparo ainda estão gravados na memória “Ficamos com muito medo, pois já era fim de tarde, por volta das 17h30. Liguei para os bombeiros, no telefone 193, e fui informada de que eles não poderiam combater o incêndio à noite, a não ser que pusesse em risco moradias e pessoas. Além disso, disseram que poderia haver animais peçonhentos e por isso não combatem à noite”, conta Elieth. Passado o susto, ainda preocupada com novas ocorrências, a bibliotecária disse que vai fazer, por conta própria, um curso de brigadista. “Não sei se pode acontecer de novo. Quero aprender a combater o fogo com segurança, sem ter de esperar pelos bombeiros”, afirmou. O município de Ouro Preto é atendido pela 3ª Companhia da corporação.
O caso ocorreu na tarde do dia 10, mas até hoje as más lembranças atemorizam Oscar, Elieth e Elizabete, donos do Espaço Multicultural Trevo da Chapada, misto de restaurante e casa de eventos na estrada de Lavras Novas. No salão do restaurante, Elieth conta que tão logo viram o fogo, ela e a irmã saíram para tentar debelar as chamas com o que tinham em mãos. Naquele dia, Oscar não estava em casa. “Pegamos uma lona tipo antichamas e carregamos baldes com terra para jogar no fogo, que estava a uns 500 metros e próximo a matas ciliares, acabando com o meio ambiente.”
As irmãs correram para enfrentar o inimigo do jeito que estavam no conforto do lar. “Saímos de short e levamos os cachorros Mulato, Princesas e Mafalda. Tivemos algumas bolhas, arranhões em canela-de-ema, mas felizmente nada grave. As chamas tinham se espalhando por uma planície do outro lado do morro. Diante do que vimos, resolvemos voltar”, conta Elieth.
SEM SOSSEGO No dia seguinte, pela manhã, o perigo rondava novamente e tirava o sossego da família. O fogo estava em outra direção, e, escaldadas com a informação anterior dos bombeiros, as irmãs desistiram de ligar pedindo ajuda. “Desta vez, fomos preparadas, com calça grossa, blusa de manga comprida, luvas e bota. E ficamos contra o vento, como forma de proteção. Há muitas árvores na região e um pequeno curso d’água, que se transforma em cachoeira. Vimos, no caminho, uns 50 gaviões voando desorientados Acho que foi um incêndio criminoso, tem gente que faz queimada, com tochas. Havia também um foco bem atrás do morro, na estrada entre Ouro Preto e Ouro Branco”, diz Elieth.
Sempre destacando os benefícios que a vida no campo traz, especialmente o clima ameno, Elizabete recorda que, no ano passado, o mato “ardeu” durante três dias. “A gente fica preocupada, ainda mais que os bombeiros não fizeram questão de vir aqui. Queimada é sempre um risco, piora a qualidade do ar, acaba com os animais. Apareceu aqui um mico com fome, no nosso quintal, demos comida para ele. É triste demais”, revela a bibliotecária. Ao lado de Oscar, as duas se mostram preocupadas e apresentam as armas de combate para eventuais novas batalhas contra o fogo: uma pá toda preta de fumaça e um abafador, feito com um pedaço de bambu e lona antichamas. O relato da família, com fotos, foi postado em redes sociais.
“A preocupação maior é com o meio ambiente e com nossa segurança. Afinal, estamos abrindo um empreendimento cultural com capacidade para receber cerca de 1,5 mil pessoas. Investimos dinheiro, tempo de trabalho. Criamos expectativas”, afirma Elizabete, explicando que o trio plantou 200 mudas ao longo do córrego vizinho.
COMBATE O Corpo de Bombeiros militar informa que apura a situação relatada pelos donos do empreendimento Trevo da Chapada, uma vez que não houve registro de ocorrência, para adotar as providências necessárias e evitar que situações semelhantes ocorram. Em nota, a corporação acrescenta que, para combate a incêndio em vegetação, é feita uma avaliação, ainda que preliminar, priorizando sempre situações em que haja risco iminente de atingir residências ou pessoas.
Em alguns locais, devido às características geográficas, o trabalho é feito preferencialmente durante o dia, pela dificuldade de movimentação dos bombeiros. O período noturno também inviabiliza o combate aéreo para preservar a integridade dos militares, pela falta de visibilidade e também de condições de pouso para embarque e desembarque de pessoal em pontos estratégicos.
Como orientação, os militares destacam que a melhor maneira de evitar incêndios florestais é a prevenção. E ressaltam que levantamentos apontam que a maioria dos casos é provocada pela ação humana. “A população pode nos ajudar, denunciando por meio do telefone 181, o disque-denúncia”, informa a corporação. “Agosto e setembro representam o pico do período crítico e essa conscientização é necessária para que tenhamos um resultado mais efetivo.”
Casos como o enfrentado por eles já consumiram em Minas, de janeiro a meados de agosto, quase 2 mil hectares vegetação, algo como 2 mil campos de futebol. Segundo a Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad), o número de ocorrências ultrapassa o mesmo período no ano passado. Em 2017 são 275, contra 190 no ano passado, incluindo áreas internas e entorno de unidades de conservaçao. Já os bombeiros combateram mais de 5,7 mil incêndios em todo o estado.
No caso da família de belo-horizontinos que se mudou para Ouro Preto, o pavor das chamas e a sensação de desamparo ainda estão gravados na memória “Ficamos com muito medo, pois já era fim de tarde, por volta das 17h30. Liguei para os bombeiros, no telefone 193, e fui informada de que eles não poderiam combater o incêndio à noite, a não ser que pusesse em risco moradias e pessoas. Além disso, disseram que poderia haver animais peçonhentos e por isso não combatem à noite”, conta Elieth. Passado o susto, ainda preocupada com novas ocorrências, a bibliotecária disse que vai fazer, por conta própria, um curso de brigadista. “Não sei se pode acontecer de novo. Quero aprender a combater o fogo com segurança, sem ter de esperar pelos bombeiros”, afirmou. O município de Ouro Preto é atendido pela 3ª Companhia da corporação.
O caso ocorreu na tarde do dia 10, mas até hoje as más lembranças atemorizam Oscar, Elieth e Elizabete, donos do Espaço Multicultural Trevo da Chapada, misto de restaurante e casa de eventos na estrada de Lavras Novas. No salão do restaurante, Elieth conta que tão logo viram o fogo, ela e a irmã saíram para tentar debelar as chamas com o que tinham em mãos. Naquele dia, Oscar não estava em casa. “Pegamos uma lona tipo antichamas e carregamos baldes com terra para jogar no fogo, que estava a uns 500 metros e próximo a matas ciliares, acabando com o meio ambiente.”
As irmãs correram para enfrentar o inimigo do jeito que estavam no conforto do lar. “Saímos de short e levamos os cachorros Mulato, Princesas e Mafalda. Tivemos algumas bolhas, arranhões em canela-de-ema, mas felizmente nada grave. As chamas tinham se espalhando por uma planície do outro lado do morro. Diante do que vimos, resolvemos voltar”, conta Elieth.
SEM SOSSEGO No dia seguinte, pela manhã, o perigo rondava novamente e tirava o sossego da família. O fogo estava em outra direção, e, escaldadas com a informação anterior dos bombeiros, as irmãs desistiram de ligar pedindo ajuda. “Desta vez, fomos preparadas, com calça grossa, blusa de manga comprida, luvas e bota. E ficamos contra o vento, como forma de proteção. Há muitas árvores na região e um pequeno curso d’água, que se transforma em cachoeira. Vimos, no caminho, uns 50 gaviões voando desorientados Acho que foi um incêndio criminoso, tem gente que faz queimada, com tochas. Havia também um foco bem atrás do morro, na estrada entre Ouro Preto e Ouro Branco”, diz Elieth.
Sempre destacando os benefícios que a vida no campo traz, especialmente o clima ameno, Elizabete recorda que, no ano passado, o mato “ardeu” durante três dias. “A gente fica preocupada, ainda mais que os bombeiros não fizeram questão de vir aqui. Queimada é sempre um risco, piora a qualidade do ar, acaba com os animais. Apareceu aqui um mico com fome, no nosso quintal, demos comida para ele. É triste demais”, revela a bibliotecária. Ao lado de Oscar, as duas se mostram preocupadas e apresentam as armas de combate para eventuais novas batalhas contra o fogo: uma pá toda preta de fumaça e um abafador, feito com um pedaço de bambu e lona antichamas. O relato da família, com fotos, foi postado em redes sociais.
“A preocupação maior é com o meio ambiente e com nossa segurança. Afinal, estamos abrindo um empreendimento cultural com capacidade para receber cerca de 1,5 mil pessoas. Investimos dinheiro, tempo de trabalho. Criamos expectativas”, afirma Elizabete, explicando que o trio plantou 200 mudas ao longo do córrego vizinho.
COMBATE O Corpo de Bombeiros militar informa que apura a situação relatada pelos donos do empreendimento Trevo da Chapada, uma vez que não houve registro de ocorrência, para adotar as providências necessárias e evitar que situações semelhantes ocorram. Em nota, a corporação acrescenta que, para combate a incêndio em vegetação, é feita uma avaliação, ainda que preliminar, priorizando sempre situações em que haja risco iminente de atingir residências ou pessoas.
Em alguns locais, devido às características geográficas, o trabalho é feito preferencialmente durante o dia, pela dificuldade de movimentação dos bombeiros. O período noturno também inviabiliza o combate aéreo para preservar a integridade dos militares, pela falta de visibilidade e também de condições de pouso para embarque e desembarque de pessoal em pontos estratégicos.
Como orientação, os militares destacam que a melhor maneira de evitar incêndios florestais é a prevenção. E ressaltam que levantamentos apontam que a maioria dos casos é provocada pela ação humana. “A população pode nos ajudar, denunciando por meio do telefone 181, o disque-denúncia”, informa a corporação. “Agosto e setembro representam o pico do período crítico e essa conscientização é necessária para que tenhamos um resultado mais efetivo.”