Jornal Estado de Minas

Em 10 anos de total descaso, Anel Rodoviário registrou 25 mil acidentes


Corredor mais movimentado em Belo Horizonte, com um tráfego em torno de 160 mil veículos por dia, o Anel Rodoviário é palco de estatísticas alarmantes: 25.219 acidentes nos últimos 10 anos. De 2007 a 2016, segundo a Polícia Militar, foram 7.635 ocorrências com vítimas e 17.584 sem feridos. No mesmo período, 319 pessoas morreram e 10.209 ficaram feridas na rodovia que corta a capital.


O balanço deixa claro o quanto o Anel necessita de investimento público. Os vários gargalos se transformaram em armadilhas que, não raras vezes, terminam em tragédias. Os dados ainda servem de alerta para que usuários – motoristas e pedestres – respeitem a legislação de trânsito, sob o risco de engrossar as estatísticas.

“O Anel está saturado”, constata o tenente Pedro Barreiro, responsável pelo policiamento no trecho. O oficial recorda que o corredor foi aberto na década de 1950, em condições bem diferentes das de hoje, quando a capital nem sequer sonhava com a atual frota, em torno de 1,8 milhão de veículos.

“Na época eram carros e caminhões menos pesados e com uma velocidade média bem inferior à de hoje”, constata o tenente. Não é só isso: com o crescimento da cidade que inflou a frota, muitos bairros também surgiram às margens da via. Na prática, o Anel deixou de ter características exclusivas de uma rodovia e se transformou em uma espécie de avenida.
Mas uma avenida cheia de gargalos e com tráfego extremamente pesado.

A solução, defendem tanto o oficial quanto especialistas, é a criação de um rodoanel, um projeto antigo que ligaria Betim a Sabará, retirando da capital o tráfego de passagem, sobretudo os caminhões. A obra, contudo, não tem previsão de sair do papel.

Pior para quem precisa passar diariamente pelo corredor, como o motorista de guincho Tiago Henrique de Souza, de 31 anos. Estrategicamente, ele estaciona o veículo em uma área no fim da descida do Bairro Betânia, na Região Oeste, onde ocorrem muitas batidas.

Tiago já presenciou várias. “O problema deste trecho é que há afunilamento de pistas (de três para duas faixas) no pontilhão do trem. Nem todos os caminhões que descem os seis quilômetros conseguem parar. Aí, se houver lentidão, arrastam os carros menores. Na semana passada, um atingiu seis carros”, contou.

A solução, sugere o caminhoneiro, seria transformar uma área pública no fim da descida, próximo ao viaduto de acesso à Via do Minério, em uma “caixa de brita”.
“Os caminhões que porventura não conseguissem frear poderiam entrar nela. As britas diminuem a velocidade, fazendo o veículo parar. Isso salvará vidas”, avalia..