Padre Vinícius explicou que se encontra no Vaticano, para análise, o relato de dois milagres referentes a pessoas do interior mineiro. Anteriormente, três tinham sido descartados. “Mas é um processo demorado mesmo, muito rigoroso, graças a Deus, senão fica parecendo charlatanice”, afirmou padre Vinícius, que é um dos titulares da Paróquia Sagrados Corações, mais conhecida como Igreja Padre Eustáquio, no bairro de mesmo nome, na Região Noroeste de BH. O postulador da causa é o padre norte-americano David Reid.
Como se tornou tradição a cada 30 de agosto, milhares de pessoas – a paróquia estimou em 20 mil pessoas, de manhã à noite –, participaram das missas do Dia do Beato Padre Eustáquio, sendo a última, às 20h, presidida pelo núncio apostólico (embaixador do Vaticano), dom Giovanni d’Aniello, e pelo arcebispo metropolitano de Belo Horizonte, dom Walmor Oliveira de Azevedo. À tarde, com a camisa do jubileu de Padre Eustáquio, que começou ontem e vai até 30 de agosto de 2018, quando se completarão 75 anos de morte do beato, padre Vinícius reafirmou a consolidação da devoção popular no religioso, cujos restos mortais estão no memorial construído há 10 anos e localizado ao lado da igreja.
“Há muitos casos de cura por intercessão de Padre Eustáquio, incluindo o ex-presidente Juscelino Kubitschek (1902-1975) e sua mulher, dona Sarah. “O mais importante na figura dele era o dom do aconselhamento, a qualidade do atendimento individual, o dom da cura”, disse o vice-postulador em meio à multidão que tomou conta do templo. Ela adiantou que, em 1º de outubro, será enviado um quadro com o retrato do beato à igreja dos holandeses, em Roma.
TRÊS GERAÇÕES Católicos de Belo Horizonte, do interior mineiro e de outras cidades brasileiras participaram das orações no Santuário da Saúde e da Paz, duas palavras que moviam a vida de Padre Eustáquio e se tornaram sua saudação habitual. Da Holanda, vieram representantes de três gerações da família – o sobrinho Will van den Boomen, de 74 anos, o filho dele e sobrinho-neto do religioso, Emiel van den Boomen, de 47, e seu filho Alec, de 13. “É um momento de muita emoção, felicidade e fé. Se ele se tornar santo, será um dia especial, difícil de descrever certamente”, afirmou Will.
No memorial, diante da imagem do beato, as pessoas escreviam bilhetes pedindo graças, acendiam velas ou rezavam em silêncio. Com os olhos brilhando, Terezinha Ferreira Campos, moradora do Bairro Eldorado, de Contagem, contava que, há exatamente um ano, estava no hospital com um câncer de mama. “Minha irmã veio aqui e pediu a Deus com intercessão de Padre Eustáquio. E hoje estou aqui, com saúde”, contou Terezinha ao lado da irmã Eni Lopes de Faria.
Moradora do Centro da cidade, a professora Divina da Paixão Lemes, solteira, contou sobre a recuperação da mãe, que teve um problema sério no braço, há muitos anos, e poderia ficar imobilizada para sempre. “Sonhei que Padre Eustáquio estava ao lado de Jesus, o enfermeiro junto do médico. Rezei, então, e minha mãe ficou curada.” Moradora do bairro, Ana Amélia Moreira Campos, dona de casa, também alcançou graças para o filho, que fez uma cirurgia no pulmão.
Milagre reconhecido
A beatificação do sacerdote holandês foi possível graças à cura do padre Gonçalo Belém Rocha, de BH, portador de um câncer na garganta. Em 1962, por intercessão de Padre Eustáquio, ele recebeu um milagre reconhecido pela Igreja. Em 2006, em entrevista ao Estado de Minas, padre Gonçalo se perguntou: “Por que eu fui escolhido por Deus? Tenho noção da minha pequenez, sou sensível, embora com 1,80 metro de altura. Não é fácil, tudo isso mexe muito com a gente”. Padre Belém, que fumou cigarros durante 58 anos e conseguiu abandonar o vício havia 13 anos, nunca encontrou as respostas para as suas indagações. “Acho que recebi um puxão de orelhas de Deus”. Padre Gonçalo Belém Rocha morreu em 2007, aos 83 anos.