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Jovem com necrose rara nos ossos faz campanha para pagar tratamento na FrançaFamília promove corrida para bancar tratamento de criança com doença em IbiritéMedicina da UFMG arrecada 400 mechas de cabelo destinadas a perucas de pacientes com câncerJovem luta contra o câncer e amigos fazem campanha para custear tratamentoSaiba como doar para contribuir com a reforma do Mosteiro de MacaúbasSemana será sem chuva e com baixa umidade do ar em BHDesgastes físico e emocional são frutos naturais da vigilância permanente, e Aldelite sabe disso de cor e salteado. “O que te move? “, pergunta o repórter. Antes que a filha responda, Elite, até então apenas sorridente na sala de visitas, levanta os olhos do livro, interrompe o diálogo e responde: “Amor”. Os olhos da confeiteira brilham e os lábios se comprimem até completar a palavra. “Amor e muita responsabilidade. Estou sempre presente, me mudei para cá de mala e cuia e avisei ao meu marido, Manassés, que entendeu bem desde o começo. Meu filho, João Gabriel, de 12, também compreendeu e ajuda a cuidar da avó”. Para aliviar a barra, Aldelite tem seu segredos.
TODOS OS MOMENTOS Nos hospitais, carinho e atenção andam de braços dados. No corredor da ala de enfermaria, marido e mulher caminham como dois namorados. Passos lentos, olhos nos olhos, tom de voz baixo. “Não disseram que era para ser assim? Na alegria e na tristeza, na saúde e na doença ...”, argumenta Paulo Alves dos Reis, de 62, mecânico desempregado, que não desgruda da mulher, Marisa Gomes Crispim Reis, de 56, professora aposentada. Há sete anos, ela se submete a um tratamento contra câncer, no Hospital Luxemburgo, unidade do Instituto Mário Penna, na Região Centro-Sul da capital.
Com a voz enfraquecida pelas intervenções, Marisa se declara uma pessoa muito agitada. “Pouca gente tem a paciência que ele tem”, olha com suavidade para o marido.
E lá vão os dois pelo corredor, desta vez sem o brilho nos olhos que faz a alegria de muitos casais. Quem passa não deixa de notar a união de Paulo e Marisa que, desta vez, chegaram em 16 de agosto para o tratamento. Agora, é esperar a melhora e voltar para casa.
Pilares da superação
Ao cuidar da irmã que combate um câncer, Fabrícia, de 22 anos, virou, como outros familiares que se dedicam a parentes enfermos, a referência da adolescente no enfrentamento à doença
A tarde começa a esfriar, mas a adolescente Larissa Costa dos Santos, de 16 anos e estudante do 1º ano do ensino médio, não esquenta a cabeça. Diante de uma tigela de açaí com granola e banana, usando short jeans, blusa sem manga e sandália rosa, ela aproveita o fim do dia, numa lanchonete do Bairro Vianópolis, em Betim, na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH). À mesa, estão o irmão Dionei, de 18, a irmã Fabrícia, de 22, e o cunhado Darlivan. Com tranquilidade, conta parte da sua história, plena de desafios e exigente em coragem. “Em 4 de setembro (hoje), vou fazer a terceira cirurgia no pulmão”, diz Larissa sem alterar o tom da voz e demonstrando que, mesmo num sofrimento extremo, mais vale lutar para superar as adversidades.
Desde o início de seu calvário particular, Larissa tem o apoio da irmã Fabrícia, casada há cinco anos e fiel escudeira.
Mais uma colherada no açaí e Fabrícia revela que todas as dificuldades se tornam um aprendizado. “São novas experiências”, resume. No período de dificuldades, veio o desemprego do marido Darlivan, que, “felizmente, está trabalhando há três meses”. Larissa ouve os relatos com atenção, só tem a agradecer. E faz planos. Pretende se formar em direito e ganhar a vida, por uns tempos, como modelo. “Quero ajudar as pessoas, assim como sou ajudada”, observa, enquanto alisa a ponta dos fios da peruca pintados de um azul-esverdeado, como os cabelos de muitas meninas da sua idade. “Depois do tratamento, o cabelo cresce novamente”, diz sem preocupação e destaca que o namorado também dá muito apoio.
CUMPLICIDADE “Estar junto no adoecimento de uma pessoa ajuda na superação”, avalia a diretora de Humanização do Instituto Mário Penna, Maria Ângela Ferraz. Filha de Beatriz Ferraz, fundadora da casa de apoio que leva seu nome, Maria Ângela, formada em direito, conheceu esse quadro ao acompanhar por dois anos a enfermidade da mãe, falecida em 2012. “Vivia dentro do hospital, mas não me arrependo. O paciente precisa ter, ao lado, uma pessoa da família, uma referência de apego”, afirma, lembrando que, para não ficar doente também, é fundamental o cuidador ter um propósito.
“A motivação é o amor. E o cuidador nunca pode dar a impressão, para o paciente, de que ele é um fardo”, diz Maria Ângela, que atua estritamente na área de humanização. “Entre o paciente e o cuidador forma-se uma relação de cumplicidade. Isso reduz o desgaste, embora, se necessário, a pessoa deva procurar auxílio psicológico”, afirma. Para dar conta do recado, especialistas e cuidadores dão algumas dicas (veja quadro acima).
VIDA EM FAMÍLIA Residente em Pains, na Região Centro-Oeste de Minas, Juliana Costa Pereira, de 37, casada, está ao lado da mãe Hilda Costa Pereira, de 77, que se recupera da cirurgia de retirada do rim e uréter esquerdos, na enfermaria do Hospital das Clínicas. Juliana se emociona ao falar da trajetória iniciada no ano passado. “Aqui tem anjos”, afirma. Ao lado, até então em silêncio, Hilda, que teve alta na terça-feira, dá um sorriso discreto e ensina que “está tudo bem, poderia ser pior”. Ela se refere à outra filha, que perdeu a visão. “Mas ela faz de tudo em casa, cozinha e tem dois filhos, de 14 e 4 anos”, conta. Católica, a moradora de Pains lembra que “Deus é tudo, e a família, unida”. Ao lado, enxugando as lágrimas e aproveitando a deixa, Juliana destaca que é fundamental a família ficar junto e, no hospital, fazer amizades.
Rosiane revela momentos de tensão na hora de aplicação de soros e medicamentos. “Com o tempo, ‘vai perdendo a veia’, aí é uma dificuldade”. Ouvindo a conversa, Maria do Socorro garante: “Deus provê. E a veia aparece”. E, sem perder o humor, garante que, com o nome que tem, em qualquer emergência é só gritar: “Help!” (socorro em inglês).
Na véspera do seu aniversário, 25 de agosto, Leonardo Antunes, de 49, morador do Bairro Londrina, em Santa Luzia, na RMBH, tinha ao lado a mulher Rosane Antunes, de 52. Vítima desde 2015 de um tumor no esôfago e internado no Hospital Luxemburgo devido a uma pneumonia, ele ganha cuidados redobrados da mulher. “Estou afastada do trabalho nestes dias para ficar com ele. Tudo o que a gente quer é ficar junto de quem precisa”, diz.
Palavra de especialista
Hellen Karlla de Campos, psicóloga
Responsabilidade, zelo e confiança
“Cuidado envolve responsabilidade, identificação com a pessoa em estado de dependência e adaptação sensível às necessidades dela. De maneira geral, é importante que o cuidador seja confiável e capaz de se colocar no lugar do outro. Confiabilidade é fundamental, pois vai mediar a relação; e significa pensar numa pessoa que se preocupa com a outra, com as necessidades dela e que se envolve com essa posição sem senso de superioridade. Quem cuida deve ser capaz de suportar as reações e afetos negativos que, por ventura, venham da pessoa em estado de fragilidade, sem se vingar dela. Não se deve romantizar o cuidado, pois um cuidador suficientemente bom também vai cometer falhas; assumir as tarefas não implica esforço sobre-humano para não haver nada errado. Nessa atividade, as falhas também são importantes, pois sinalizam humanidade. O que configura uma situação delicada é quando há falhas repetidas e um descuido da pessoa para reparar sua falta. O zelo em reparar uma falta mostra a quem está em situação de fragilidade que alguém se preocupa com ela.”
PARA DAR CONTA DO RECADO
>> Se for possível, faça um revezamento com outros familiares que se deem bem com o paciente
>> Tire um tempo para você mesmo. Fique um tempo com a família, namore, passeie, cuide da casa, enfim, curta também alguns momentos do dia a dia
>> Se gostar de rezar, reze. Se a ideia é cantar, cante. O importante é aliviar as tensões, pode ser até dirigindo o carro neste trânsito maluco
>> Não encare o hospital, clínica ou casa do paciente como território inimigo ou local apenas de tensões. Faça amizades com outros cuidadores, se possível forme grupo em rede social, enfim, socialize. O clima ficará mais leve
>> Havendo necessidade, busque auxílio psicológico. Vários hospitais oferecem esse serviço especializado
>> Leitura também é bom para aliviar tensões, assim como ir ao cinema numa folga, ver tevê, almoçar fora. Estar ao lado do doente, para o cuidador, é essencial, mas, enquanto ele descansa... que tal fazer planos?
>> É importante que o cuidador identifique atividades que lhe são prazerosas, e alimente projetos e desejos. Cuidar é uma função e não uma forma de anular outros papéis do indivíduo e as relações interpessoais