O ataque de uma quadrilha à agência do Banco do Brasil na madrugada de ontem em Pitangui, no Centro-Oeste, não levou apenas pânico à sétima cidade mais antiga em Minas, fundada em 1715 e com cerca de 30 mil moradores. As labaredas causadas pela explosão do cofre destruíram um acervo de livros raros, datados do século 19, e podem ter afetado o maior acervo de processos conhecidos como “ações das almas”, com mais de 1 mil documentos. O total do acervo atingido ainda é avaliado.
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Bandidos explodem agência bancária e trocam tiros com a PM em PitanguiPatrimônio quer tirar jornais de poste do centro histórico de São João del-ReiTrês desafios que a Pampulha, patrimônio há um ano, ainda tem que vencerImagens e objetos sacros resistem às chamas de incêndio provocado por ataque a bancosHomem baleado é encontrado boiando no Ribeirão ArrudasMotorista do Uber capota carro ao fugir de assaltante na Cristiano MachadoPitangui tem o maior acervo de ações das almas no estado. Trata-se de documentos que contam a história do Brasil nas épocas da colônia e do império. Na prática, como não havia moedas em abundância em um passado em que a Igreja tinha decisão junto à família real, compradores davam a palavra de que iriam pagar pela compra de terras, produtos ou serviços.
Porém, caso o pagamento não ocorresse, o credor ajuizava uma ação na Justiça em que o devedor prometia, perante o juiz, que cedia sua alma em garantia.
O sobradão que abrigava o museu está fechado há mais de duas décadas. Começou a ser reformado com recursos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) das cidades históricas, em 2012, mas as intervenções foram suspensas. Enquanto a obra não é concluída, o acervo do Instituto foi levado para o prédio da agência bancária, onde há uma entrada independente para clientes do banco e outra para os historiadores e pesquisadores.
Outros documentos do século 18 também podem ter sido danificados. Trata-se do acervo dos camaristas, como eram chamados os políticos cujas funções mais se aproximam dos vereadores. Esse acervo também está no terceiro pavimento. Contudo, uma biblioteca com obras raras, do século 19 e início do 20, foi consumida pelo fogo, pois os livros estavam no primeiro andar.
“De um lado da parede era a agência. Do outro, a biblioteca.
Pela manhã, depois ir ao prédio onde funcionavam a agência e o IHP, o historiador reforçou o lamento da amiga: “Havia obras raras. Lembro-me de um livro sobre estratégias militares, em francês, do século 19. Uma relíquia”. “Também havia livros em latim”, completou o pesquisador Vandeir Santos.
Os assaltantes fugiram e não foram capturados até o fechamento desta edição. Moradores contaram que mais de 10 criminosos participaram do ataque.