Começou ontem o cadastramento de motoristas para o novo aplicativo de transporte de passageiros na capital mineira. A empresa 99 lançará, este mês, o 99Pop – modalidade que funciona com carros particulares. Inicialmente, o app abrirá o cadastro para 5 mil motoristas e o serviço deverá estar disponível para os usuários na segunda quinzena deste mês.
O professor de engenharia de Transporte e Trânsito da Universidade Fumec, Márcio Aguiar, avalia a concorrência como positiva. “Os aplicativos chegaram como novidade da tecnologia. É o que acontece no novo mundo, onde você tem liberdade de escolha. Quando temos um serviço que não agrada – o sistema de táxi e o de transporte público – alternativas aparecem”, pondera o especialista. Ele ainda acrescenta que os nossos meios de transporte público “estão entrando em falência”. Neste caso, a concorrência é vista como uma forma de melhorar os serviços. “Aplicativos novos surgem com tarifas ainda mais baixas e com novidades para ganhar usuários”, afirma Márcio.
Já Maria Elisa Baptista, coordenadora do curso de Arquitetura e Urbanismo da PUC Minas, considera que o investimento deveria ser na melhora do transporte público e não na saturação do serviço com novos aplicativos de carros particulares. “No ponto de vista da cidade, esta é uma alternativa equivocada. Deveríamos investir em um serviço que impactasse menos a cidade. O carro particular polui e satura o trânsito. A largura das avenidas não suporta essa quantidade de veículos”, pontua Maria Elisa. Além do mais, para a especialista, temos um dos melhores transportes de táxi do país.
O 99, que começou apenas como uma plataforma para concorrer no mercado de app de caronas pagas decidiu ampliar os serviços. A novidade não agradou a categoria dos carros brancos. Agora, o Sindicato dos Taxistas de Belo Horizonte (Sincavir/BH) pede que taxistas cadastrados no app 99Táxi “tomem atitude” e se descredenciem. O vice-presidente da entidade, João Paulo de Castro, se posicionou contrariamente à abertura de cadastro do 99Pop para carros particulares e ameaçou convocar um protesto entre os prestadores de serviço do app da mesma empresa. “O sindicato recomenda que todos os taxistas se desliguem do 99Táxi. Não concordamos com o aplicativo trabalhando com carros particulares nem com a atitude que o 99 está tomando”, disse Castro. Segundo ele, os condutores têm respondido ao apelo e muitos já não trabalham mais com a plataforma. Acrescentou que ao longo da semana deve ter balanço da quantidade de taxistas que se descredenciaram.
SEGURANÇA Além das preocupantes questões levantadas, outro desafio para as novas empresas que cadastram carros particulares é lidar com as denúncias de assédio. Casos de desrespeito e até estupro contra motoristas voltaram à tona na semana passada, colocando táxis e serviços como o Uber no centro das denúncias feitas por mulheres de todo o país. Desde a segunda-feira passada, quando a escritora Clara Averbuck foi para o Facebook relatar ter sido estuprada dentro de um carro a serviço do Uber, uma enxurrada de depoimentos tomou conta de redes sociais e foram contados pelo Estado de Minas na quarta-feira passada. Assim, entre os benefícios do novo aplicativo está um sistema que promete ajudar os usuários a denunciar casos de abuso e risco – o que, segundo Ana Carla Lopes, gerente Regional de Relações Públicas da 99, pode ser especialmente útil para mulheres vítimas de assédio sexual –, e o compartilhamento de trajeto em tempo real com terceiros.
“A empresa se preocupa com segurança, especialmente, da mulher. Não é de hoje que fazemos pesquisas sobre o tema. Pensando na importância da pauta, criamos uma parceria com o coletivo ‘Vamos Juntas’. O assunto tornou-se prioridade para nós”, disse a gerente. Um sistema que pode ajudar as mulheres é o canal 0800: “Temos um time próprio para cuidar da segurança. Em situação de risco, a passageira poderá contar com apoio especializado”, afirma Ana Carla Lopes. A empresa estuda a possibilidade de ampliar o canal e disponibilizá-lo por meio de mensagens ou WhatsApp. Mas, ainda não há data de lançamento.
Quando o assunto é segurança, a 99 promete novidades para proteger também o motorista. Entre as propostas, está a possibilidade de o condutor desabilitar a opção de pagamento em dinheiro – o que aumenta a segurança em corrida – e a disponibilização de sistemas que alertam caminhos “perigosos”. “Temos um serviço de inteligência com mapas que indicam locais vulneráveis da cidade, onde sabemos que tem uma maior incidência de crimes. Pensando na segurança do motorista, enviamos um alerta por meio do aplicativo informando que o condutor se aproxima de uma área de risco”, explica Ana Carla Lopes. A quem pretende dirigir pelo app, segundo a empresa, esta cobrará a menor taxa do mercado, de 19,99%.
Regulamentação
Em 16 de setembro, por decisão da Justiça, os motoristas dos aplicativos que oferecem serviços privados de transporte ganharam a queda de braço com os taxistas e foram autorizados a circular livremente em BH e em outras cidades mineiras, podendo também fazer viagens intermunicipais. Em protesto contra a decisão favorável aos aplicativos, taxistas prometeram fechar o trânsito diariamente. Para evitar que isso ocorresse, a PBH prometeu voltar a tentar regulamentar o setor. O prefeito Alexandre Kalil determinou a criação de uma comissão para pautar as discussões. Segundo o Sincavir, pelo menos três reuniões ocorreram até o momento. Porém, a BHTrans informou na tarde de sexta-feira que a publicação da decisão do Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG) ocorreu no início da semana passada e que “está analisando minuciosamente o acórdão” e, provavelmente esta semana, a empresa dará uma posição sobre esse assunto. Para a gerente regional de Relações Públicas da 99, o processo de regulamentação é positivo.