A campanha Abrace Macaúbas, lançada na manhã de ontem, em Santa Luzia, na Grande BH, para salvar da deterioração o tricentenário Mosteiro de Nossa Senhora da Conceição de Macaúbas, colheu, na largada, dois frutos importantes.
Outra providência é que o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) vai se responsabilizar por toda a descupinização da edificação colonial, considerada uma das mais importantes do século 18, do interior do país e tombada pelo Iphan, pelo Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha-MG) e pelo município.
“A recuperação do Muro da Lenha, erguido com acabamento em beira-seveira (com uma cobertura de telhas), é um dos pontos urgentes, não só por uma questão de arruinamento da estrutura de adobe, do século 18, mas pela segurança das irmãs que vivem no mosteiro”, ressaltou o promotor de Justiça da comarca de Santa Luzia, Marcos Paulo de Souza Miranda, que assinou o documento junto com o secretário municipal de Cultura e Turismo, Carlos Novy. Souza Miranda disse, ainda, que a parte elétrica e a descupinização do mosteiro são dois aspectos fundamentais e igualmente de emergência. De imediato, portanto, é necessário valor superior a R$ 1 milhão, tendo em vista o muro, o projeto elétrico, orçado em R$ 275 mil, e o restauro da Capela dos Aflitos, estimado em R$ 500 mil.
O momento mais emocionante da cerimônia foi o abraço simbólico, no pátio interno do claustro, com a presença de cerca de 100 pessoas, entre autoridades federais, estaduais e municipais, além de representantes de entidades mineiras, entre elas a Associação Cultural Comunitária de Santa Luzia, que está à frente da campanha, ao lado do Memorial da Arquidiocese de BH e irmãs concepcionistas. De mãos dadas e sob as bênçãos do arcebispo metropolitano de Belo Horizonte, dom Walmor Oliveira de Azevedo, e da abadessa madre Maria Imaculada de Jesus Hóstia, os presentes também bateram palmas e mostraram confiança na empreitada.
DOS BRASILEIROS “Os cupins trabalham rápido e diariamente”, disse a madre Imaculada, que tem espírito empreendedor e, para o aniversário de 300 anos do Mosteiro de Macaúbas, em 2014, esteve à frente da campanha da tinta, para pintar a fachada. Na abertura da cerimônia, a abadessa destacou que, mais do que um patrimônio luziense, “Macaúbas é de todos os brasileiros”. “Esta Casa de Deus, relíquia de Nossa Senhora, sempre contou com dedicados benfeitores. Vamos, então, mantê-la de pé e proteger esta história.”
Entusiasmado e explicando que o projeto do Muro da Lenha foi feito pelo Memorial da Arquidiocese de BH, dom Walmor lembrou que a construção erguida em 1714 por Félix da Costa, e que já foi recolhimento, um dos primeiros colégios femininos de Minas e, finalmente mosteiro, “se impõe pela força da fé” e tem no cenário nacional grande importância arquitetônica.
Durante a cerimônia, o promotor Souza Miranda lançou o livro Irmã Germana – A exilada de Macaúbas, narrativa da história da religiosa Germana Maria da Purificação, batizada em 1782 na Capela de Nossa Senhora de Nazaré, em Morro Vermelho, em Caeté, e que ingressou em 1843 no Macaúbas, onde ficou até 1856. O dinheiro obtido com a venda será destinado à campanha Abrace Macaúbas. O promotor de Justiça explicou que a recuperação da parte elétrica precisa ser feita antes da descupinização, pois, na segunda etapa, é usado material inflamável, o que poderia pôr em risco a integridade da edificação.
RECOLHIMENTO A história do Convento de Macaúbas, como é carinhosamente chamado, representa experiência única: ali estão freiras, roseiras para fazer vinho, muitas orações e trabalho duro. Na entrada principal, onde se lê a palavra clausura, vê-se em destaque a pintura de um personagem fundamental nesta história tricentenária: o eremita Félix da Costa, que veio da cidade de Penedo (AL), em 1708, pelo Rio São Francisco. Demorou três anos para chegar a Santa Luzia, onde construiu uma capela dedicada a Nossa Senhora da Conceição, de quem era devoto. Mas, antes disso, bem no encontro das águas do Velho Chico com o Rio das Velhas, na Barra do Guaicuí, em Várzea da Palma, Região Norte do estado, ele teve a visão de um monge com hábito branco, escapulário, manto azul e chapéu caído nas costas. Conforme o relato da madre superiora, “ele se viu ali” e “foi o ponto de partida para a fundação do Recolhimento de Macaúbas”.
No século 18, quando as ordens religiosas estavam proibidas de se instalar nas regiões de mineração, por ordem da coroa portuguesa, para que o ouro e os diamantes não fossem desviados para a igreja, havia apenas dois recolhimentos femininos em Minas: além de Macaúbas, em Chapada do Norte, no Vale do Jequitinhonha. Conforme os estudos, tais espaços recebiam mulheres de várias origens, as quais podiam solicitar reclusão definitiva ou passageira. Havia, portanto, uma complexidade e diversidade de tipos de reclusas, devido à falta de estabelecimentos específicos para suprir as necessidades delas. Assim, os locais abrigavam meninas e mulheres adultas, órfãs, pensionistas, devotas, algumas que se estabeleciam temporariamente, para “guardar a honra”, enquanto maridos e pais estavam ausentes da colônia, ou ainda como refúgio para aquelas consideradas desonradas pela sociedade da época.
Na época do recolhimento, Macaúbas recebeu figuras ilustres, como as filhas da escrava alforriada Chica da Silva, que vivia com o contratador de diamantes João Fernandes. A casa na qual Chica se hospedava fica ao lado do convento.
Em 1847, foi instalado oficialmente em Macaúbas um colégio feminino, com orientação dos padres do Caraça. Novos tempos chegaram em 1933, quando a escola foi desativada e instalado o mosteiro, hoje com 14 freiras.
SERVIÇO
Para participar e fazer doações de qualquer quantia
Campanha Abrace Macaúbas
Caixa Econômica Federal – Mosteiro de Nossa Senhora da Conceição Macaúbas
Agência: 1066 – Operação 013
Conta poupança: 75.403/4 – CNPJ: 19.538.388/0001-07
Informações no site abracemacaubas.com.br