Jornal Estado de Minas

Baixa vacinação coloca Minas em alerta para surtos de doenças já eliminadas do estado


Minas Gerais enfrenta um quadro de alerta na prevenção de doenças consideradas já eliminadas no estado, assim como para a possibilidade da ocorrência de surtos dessas enfermidades. Depois de historicamente registrar índices acima das metas de cobertura vacinal, as taxas têm seguido em curva descendente, com índices inclusive abaixo da faixa de segurança de imunização, o que abre portas para a reinserção dessas ameaças. A lista inclui males seculares, como sarampo, rubéola, caxumba, poliomielite, além de meningite C, infecção por HPV (que causa câncer de colo de útero em mulheres), e até febre amarela. No caso dessa última, o Ministério da Saúde anunciou ontem o fim do surto no Brasil, que não tem novos casos desde junho. Só em Minas, a virose deixou pelo menos 162 mortos, além de outros 15 óbitos ainda sob investigação. Mesmo com o anúncio, e apesar do reforço de vacinação no estado, ainda há grande preocupação com novos casos, diante da baixa cobertura vacinal, que permanece em 76%, abaixo da meta de 95%.


No caso da polio, por exemplo, a cobertura, que chegou a atingir 105,99% da meta em 2000 (ou seja, mais crianças foram vacinadas do que o previsto), chegou no ano passado à taxa de 88,29%, percentual abaixo do alvo, que é 95%. Neste ano, quando a Secretaria de Estado da Saúde já esperava ter chegado ao índice preconizado, apenas 65,83% da meta foi cumprida. Preocupa ainda a situação da tríplice viral (contra sarampo, caxumba e rubéola), que até agora soma 79,13% de cobertura, contra o mínimo de 95% (veja arte).
“Esperamos aumentar esse número, mas, muito provavelmente, não vamos bater a meta”, afirma a diretora de Vigilância Epidemiológica da Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais, Janaína Fonseca Almeida.

São diversas as razões para o recuo da vacinação em Minas, explica a diretora. Segundo ela, chamam a atenção a falta de tempo cada vez mais marcante da atualidade, a falta de interesse da população e o descuido de famílias sobre a importância da aplicação das doses. “Essa queda é muito preocupante, e está ocorrendo porque as pessoas estão deixando de procurar a vacina. Fazemos chamadas e mais chamadas. Promovemos vacinação nas escolas, principalmente entre os adolescentes, e tentamos estimular os municípios a adotar ações para ampliar a cobertura. Ainda assim, os percentuais de algumas vacinas, que já deveriam ter atingido a meta, ainda estão muito baixos”, afirma Janaina, lembrando que, além da campanha vacinal marcada para este mês, a SES está orientando municípios a adotar outras ações, o que inclui vacinação no ambiente escolar.

Em Minas, permanecem também abaixo da meta as coberturas vacinais para prevenir contra o vírus HPV e a meningite C, ambas voltadas para o público adolescente. A vacina contra o HPV – abreviação para papilomavírus humano, passou a ser oferecida na rede pública de saúde no início do ano para meninos de 12 e 13 anos.
Em 20 de junho, o Ministério da Saúde anunciou a ampliação para a faixa etária entre 11 e 15 anos incompletos (até 14 anos, 11 meses e 29 dias). A medida tem o objetivo de aumentar a cobertura da vacina em adolescentes do sexo masculino e, consequentemente, a redução da transmissão para mulheres.

Até 2016, o foco da campanha contra ao HPV eram apenas as meninas, grupo em que a meta da cobertura vacinal também permanece como desafio. Dados da saúde estadual mostram que, enquanto a meta é de 80% do público prioritário, apenas 51,8% delas receberam duas doses neste ano (a segunda é aplicada seis meses após a primeira). Entre os meninos, a taxa é alarmante. Apenas 0,11% dos adolescentes tomaram as duas doses.

Meningite

No caso da meningite C, liberada neste ano para adolescentes de 12 e 13 anos, a meta é 95%, mas até agora a cobertura vacinal só atinge 22% desse público. Entre os menores de 1 ano, a taxa, que chegou a 94,75% no ano passado, está em 66,14% atualmente. “O tipo C é a forma mais grave da meningite e ainda assim a vacina vem sendo negligenciada. Essa situação é muito preocupante”, afirma Janaina.

A diretora da secretaria lembra ainda que não há problema de falta de doses no estado e, segundo o Ministério da Saúde, todas as vacinas recomendadas pela Organização Mundial da Saúde (OMS) são distribuídas no país por meio do Programa Nacional de Imunizações.
O Calendário Nacional de Vacinação do Sistema Único de Saúde oferece gratuitamente 19 tipos de imunizantes para proteger a população contra mais de 20 doenças, em diversas faixas etárias. Atualmente são disponibilizadas pela rede pública de saúde de todo o país cerca de 300 milhões de doses de imunobiológicos por ano. No entanto, o Ministério da Saúde destaca que os municípios têm papel fundamental na vigilância dos dados de suas salas de vacinação para que, quando observada uma tendência de queda, avaliem os motivos e estimulem a vacinação, que é obrigatória para crianças e adolescentes, como previsto no Estatuto da Criança e do Adolescente, nos casos recomendados pelas autoridades sanitárias. Ao não vacinar seus filhos, os pais podem ser responsabilizados civil e penalmente pela decisão.

Debate Mundial

Para tratar do retrocesso nos movimentos de vacinação no Brasil e no mundo, autoridades em saúde se reúnem no 28º Congresso Brasileiro de Virologia, que começa hoje e vai até domingo na UFMG. O encontro contará com uma das maiores referências mundiais no assunto, o professor e pesquisador Geoffrey L. Smith, da Universidade de Cambridge, no Reino Unido.

Campanha é esperança para melhorar meta


Para reforçar o acesso às vacinas, o Ministério da Saúde promove em todo o país, entre os próximos dias 11 e 22, a Campanha de Multivacinação. Nessa ocasião, as famílias devem procurar um posto para avaliação e atualização da situação vacinal das crianças e adolescentes menores de 15 anos. A pasta defendeu, por meio de nota, que não há baixa adesão à vacinação infantil no país, mas sim uma oscilação nas taxas de cobertura de um ano para o outro, por mudança em curso no sistema de informação. Informou ainda estar atenta às coberturas vacinais, especialmente se houver redução de pessoas vacinadas, criando assim bolsões suscetíveis a doenças já controladas ou mesmo eliminadas no país, e que trabalha sempre para manter os índices de acordo com a meta de cada imunobiológico. No Brasil, informa, muitas doenças – como a varíola, o sarampo, rubéola e a pólio – foram erradicadas devido aos esforços de imunização.

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