Tarde de pânico nessa quarta-feira no Anel Rodoviário de Belo Horizonte, onde mais uma vez uma carreta desgovernada “varreu” carros que seguiam à sua frente e deixou um rastro de destruição e mortes. Por volta das 17h, o veículo de carga que levava minério na pista sentido Vitória não conseguiu parar na altura do km 538 da rodovia, no Bairro Betânia (Região Oeste), onde havia retenção de trânsito comum ao trecho no horário de pico. Houve então a sequência de batidas em que foram atingidos uma outra carreta, sete automóveis pequenos e uma bicicleta, num desastre qualificado como “mais um assassinato” pelo prefeito Alexandre Kalil, que determinou que a Procuradoria -Geral do Município abra processo sobre o caso.
O policial civil Dogmar Alves Monteiro, de 52 anos, sua mulher e filho morreram na tragédia e 11 pessoas tiveram ferimentos leves. Com o impacto, o policial, que não usava cinto de segurança, foi jogado para fora de seu carro, um Chevrolet Agile. Já os corpos de sua mulher e filho ficaram presos às ferragens do carro e foram carbonizados. O automóvel foi arrastado por cerca de 200 metros debaixo da carreta, que pegou fogo. Houve um grande incêndio, que destruiu os dois veículos.
De acordo com o tenente Pedro Henrique Barreiros, da Polícia Militar Rodoviária (PMRv), o motorista da carreta que provocou o acidente, Luiz Felipe, de 24, contou que houve problemas no freio e, por isso, não conseguiu. O condutor, ainda segundo o militar, foi detido e levado para a delegacia de plantão do Detran. Barreiros acrescentou ainda que o carreteiro não demonstrava sinais de ter ingerido bebida alcoólica e estava em estado de choque.
O tenente Leonard Farah, do Corpo de Bombeiros, explicou que o Agile ficou prensando entre a carreta e a mureta de proteção. O combate às chamas nos dois veículos durou cerca de 30 minutos e os ocupantes já estavam mortos. Foram mais de quatro horas entre perícia técnica e o resgate dos corpos das ferragens. O policial e seus familiares seguiam para Caratinga, no Vale do Rio Doce, onde moram. Os feridos dispensaram socorro médico.
Ainda segundo Farah, a carreta pegou fogo no momento da batida, acredita-se que devido ao combustível e óleo que vazaram. Outros motoristas envolvidos no engavetamento e que passavam pela rodovia se assustaram com as chamas e uma sequência de explosões. A fumaça negra cobriu o céu e podia ser vista de vários pontos da cidade.
O tenente acrescentou que logo que chegaram no local foram cautelosos ao usar água para conter as chamas, já que não sabiam que material era transportado. Foram necessários 1,5 mil litros d’água para debelar o fogo. O Anel chegou a ficar fechado nos dois sentidos, mas teve três faixas liberadas ao tráfego no sentido Rio de Janeiro. No sentido oposto, o tráfego seguiu pela via marginal, até o fim da noite.
PELO RETROVISOR
Uma das testemunhas da tragédia, o zootecnista Lucas Nogueira Rezende, de 23 anos, revelou que estava parado no trânsito entre vários carros quando viu pelo retrovisor a carreta se aproximando, em alta velocidade e atingindo o veículo que se incendiou. “O trânsito estava parado. Quando olhei pelo retrovisor, vi uma carreta e gritei: ‘Vai bater!’ Minha mãe, minhas duas irmãs e minha namorada estavam dormindo no carro. Só tive tempo de jogar o veículo um pouco para a esquerda. O caminhão pegando fogo passou ao meu lado”, contou o zootecnista. Ainda de acordo com ele, desde o primeiro choque, a carreta saiu arrastando outros carros por cerca de 200 metros.
O trecho do Anel Rodoviário onde ocorreu o acidente é um dos mais perigosos e já registrou dezenas de engavetamentos, especialmente provocados por carretas. A tragédia de ontem foi a terceira grave registrada somente na descida do Bairro Betânia neste ano. Somadas, as três ocorrências deixaram quatro mortos. A mais recente ocorreu no mês passado.
No local, o depoimento das pessoas envolvidas no acidente era de alívio por terem escapado da morte e também de indignação por causa das más condições da rodovia. Um deles, o ciclista Vinícius Augusto Oliveira Paula, de 18, conta o horror que viveu. “Quando eu vi o caminhão arrastando o carro em chamas soltei a minha bicicleta, que também foi arrastada. Caí no canteiro da pista marginal. Quando vi que estava vivo dei graças a Deus. A situação deste Anel é um absurdo”, disse o ciclista.